31 de ago. de 2010

Um Sopro de Abominação – Joseph Alleine (1634 – 1668 )



Sem verdadeira conversão todas as suas práticas religiosas são nada mais que perdas, pois elas não cumprem os verdadeiros propósitos do evangelho, isto é, não podem agradar a Deus nem salvar sua alma (Romanos 8:8; I Coríntios 13:2-3). Mesmo que seus cultos sejam muito especiais, Deus não tem prazer neles (Isaías 1:14; Malaquias 1:10). Não é terrível a situação daquele homem, cujos sacrifícios são como homicídios e cujas orações como um sopro de abominação? (Isaías 66:3; Provérbios 28:9). Muitos, sob convicção, pensam que estão determinados a se corrigirem e que algumas orações e esmolas poderão consertar tudo; mas que tristeza, senhores, enquanto seus corações permanecerem sem santificação, nenhuma de suas obrigações será aceita.

Quão meticuloso era Jeú! No entanto, tudo foi rejeitado porque o seu coração não era justo (II Reis 10 com Oséias 1:4). Quão irrepreensível era Paulo! Contudo, não sendo convertido, tudo não passava de perda (Filipenses 3:6-7). Os homens acham que fazem muito em dar atenção ao serviço de Deus, e até O consideram em débito com eles, entretanto, não estando santificados, suas práticas religiosas não podem ser aceitas.

Ó alma, não pense que quando seus pecados a perseguem, uma simples oraçãozinha e uma reformazinha de sua conduta poderão apaziguar a Deus. É necessário começar com o seu coração. Se ele não for renovado, você não pode agradar a Deus mais do que alguém que, tendo-o ofendido indizivelmente, viesse trazer-lhe a coisa mais asquerosa para acalmá-lo; ou, havendo caído no lodo, pensasse em reconciliar-se com você com seus abraços imundos.

Ê uma grande desgraça labutar no fogo. Os poetas não poderiam inventar um inferno pior para Sísifo, do que ficar labutando eternamente, a fim de levar para cima da montanha a pesada pedra que sempre rolava para baixo novamente, obrigando-o a recomeçar o seu trabalho. Para Deus o maior dos julgamentos temporais é que os que desobedecem edifiquem uma casa sem habitar nela, plantem e não colham, e o seu trabalho seja devorado pelos estrangeiros (Deuteronômio 28:20, 38-41). Não é uma grande desgraça perder todo nosso trabalho, semear e construir em vão? Mas é muito pior perder nossos esforços religiosos — orar, ouvir a Palavra de Deus e jejuar em vão! Trata-se de uma perda eterna e irreparável. Não se deixe enganar: se você continuar no seu estado pecaminoso, ainda que estenda as suas mãos, Deus vai esconder os olhos; mesmo que você faça muitas orações. Ele não ouvirá (Isaías 1:15). Se um homem incapaz começa a fazer o nosso trabalho e o estraga, mesmo que ele capriche, não o agradecemos por isso. Deus tem que ser adorado conforme Sua determinação. Se um servo faz o nosso trabalho totalmente contrário à nossa ordem, ele deverá receber açoites ao invés de louvores. A obra de Deus precisa ser feita de acordo com a vontade dEle, ou Ele não Se agradará; e isto não pode ser, a menos que seja feito com um coração santo.

Fonte: [Josemar Bessa]

28 de ago. de 2010

Calvino, Pietas e o Soli Deo Gloria – Joel Beek


As Institutas, escritas por João Calvino, fizeram-no receber o título de "o sistematizador preeminente da Reforma Protestante". Com freqüência, a reputação de Calvino como um intelectual é vista separadamente do contexto pastoral e espiritual em que ele escreveu sua teologia. Para Calvino, o entendimento teológico e a verdade, a piedade e a utilidade prática são inseparáveis. Antes de tudo, a teologia lida com o conhecimento — conhecimento de Deus e de nós mesmos; mas não há conhecimento verdadeiro, onde não há piedade verdadeira.

O conceito de piedade (pietas) ensinado por Calvino se fundamentava no conhecimento de Deus, incluindo atitudes e ações di¬recionadas à adoração e ao serviço de Deus. Além disso, a pietas de Calvino incluía uma hoste de temas relacionados, tais como o amor nos relacionamentos humanos e o respeito à imagem de Deus nos seres humanos. Essa piedade é evidente em pessoas que reconhecem, por meio da fé experiencial, que foram aceitas em Cristo e enxertadas no corpo dEle, pela graça de Deus. Nesta "união mística", o Senhor declara essas pessoas como pertencentes a Ele, tanto na vida como na morte. Elas se tornam povo de Deus e membros de Cristo pelo poder do Espírito Santo. Este relacionamento restaura lhes o gozo da comunhão com Deus e recria-lhes uma nova vida. Liberta-as da escravidão ao mundanismo carnal.

O propósito agora é mostrar que a piedade de Calvino é uma resposta suficiente ao problema do mundanismo; seu conceito de piedade é algo que conquista o nosso coração. A piedade de Calvino é bíblica, com uma ênfase no coração mais do que na mente. A mente e o coração devem trabalhar juntos, mas o coração é mais importante.

A DEFINIÇÃO E A IMPORTÂNCIA DA PIEDADE

Pietas é um dos grandes temas da teologia de Calvino. Como nos diz John T. McNeill, a teologia de Calvino é a "sua piedade descrita em profundidade". Ele estava determinado a confinar a teologia aos limites da piedade. No prefácio dirigido ao rei Francisco I, Calvino afirma que o propósito em escrever as Institutas era "transmitir unicamente certos rudimentos pelos quais aqueles que possuem zelo pelo cristianismo podem ser moldados na verdadeira piedade[pietas]".

Para Calvino, pietas designa a atitude correta de um homem para com Deus. E uma atitude que inclui conhecimento verdadeiro, adoração sincera, fé salvadora, temor filial, submissão e amor reverentes. Saber quem e como Deus é (teologia) envolve atitudes corretas para com Ele e fazer o que Ele deseja (piedade). Em seu primeiro catecismo, Calvino escreveu: "A verdadeira piedade consiste em um sentimento sincero que ama a Deus como Pai e O reverencia como Senhor; apropria-se de sua justiça e teme mais o ofendê-Lo do que o enfrentar a morte". Nas Institutas, João Calvino é mais sucinto: "Chamo de piedade aquela reverência unida ao amor a Deus, o amor que é fruto do conhecimento de seus benefícios". Esse amor e reverência para com Deus é um acompanhamento indispensável a qualquer conhecimento de Deus e abrange todos os aspectos da vida. Conforme afirmou Calvino: "Toda a vida dos crentes deve ser um tipo de prática da piedade". O subtítulo da primeira edição das Institutas dizia:"Incluindo quase todo o resumo da piedade e qualquer coisa necessária para se conhecer a doutrina da salvação: Uma obra muito digna de ser lida por todos os zelosos por piedade".

Os comentários de Calvino também refletem a importância de pietas. Por exemplo, ele escreveu sobre 1 Timóteo 4.7-8: "Você fará algo de grade valor se, com todo o seu zelo e habilidade, se dedicar unicamente à piedade [pietas]. A piedade é o começo, o meio e o fim do viver cristão. Onde ela é completa, não há falta de nada... A conclusão é que devemos concentrar-nos, exclusivamente, na piedade, pois, uma vez que a tenhamos atingido, Deus não exige de nós qualquer outra coisa".10 Comentando 2 Pedro 1.3, Calvino disse: "Quando Pedro fez menção da vida, acrescentou imediatamente a piedade [pietas), como se esta fosse a essência da vida".

O ALVO SUPREMO DA PIEDADE: SOLI DEO GLORIA

O alvo da piedade, bem como de toda a vida cristã, é a glória de Deus — a glória que resplandece nos atributos de Deus, na estrutura do mundo, na morte e na ressurreição de Jesus Cristo. No que diz respeito a todos os que são verdadeiramente piedosos, o glorificar a Deus supera a salvação pessoal. Por isso, Calvino escreveu ao cardeal Sadoleto: "Não é uma teologia bastante saudável confinar os pensamentos de um homem a ele mesmo e não apresentar-lhe, como motivo fundamental de sua existência, o zelo pela glória de Deus... Estou convencido: não existe nenhum homem que possua a piedade verdadeira e não considere como insípida aquela extensa e laboriosa exortação em favor do zelo pela vida celestial, um zelo que o mantém totalmente dedicado a si mesmo e que não o desperta, nem mesmo por uma única expressão, a santificar o nome de Deus".

O alvo da piedade — que Deus seja glorificado em nós — é aquilo para o que fomos criados. Portanto, o nascido de novo anela por vivenciar o propósito de sua criação original. De acordo com Calvino, o homem piedoso confessa:"Somos de Deus; vivamos e morramos para Ele. Somos de Deus; sejamos governados por sua sabedoria e vontade em todos os nossos atos. Somos de Deus; em harmonia com isso, devemos segui-Lo como nosso único objetivo lícito, em todo os aspectos de nossa vida".

Deus redime, adota, santifka o seu povo, para que sua glória resplandeça neles e os liberte da busca pelo egoísmo ímpio. O profundo interesse do homem piedoso é Deus mesmo e suas coisas — sua Palavra, sua autoridade, seu evangelho, sua verdade. O homem piedoso tem intenso desejo de conhecer mais a Deus e de ter mais comunhão com Ele como o seu único alvo.

Mas, como glorificamos a Deus? Calvino escreveu: "Deus nos prescreveu uma maneira pela qual Ele pode ser glorificado por nós, a saber, a piedade, que consiste na obediência à sua Palavra. Aquele que ultrapassa esses limites não está honrando a Deus; pelo contrário, está desonrando-O". A obediência à Palavra de Deus significa refugiar-se em Cristo para o perdão de nossos pecados, conhecê-Lo por meio de sua Palavra, servi-Lo com um coração repleto de amor, praticar boas obras em gratidão por sua bondade e exercitar auto-renúncia, a ponto de amar os nossos inimigos. Esta resposta envolve rendição total a Deus mesmo, à sua Palavra e à sua vontade.

Calvino disse: "Ofereço-Te meu coração, Senhor, imediata e sinceramente".Esse é o desejo de todos os que são verdadeiramente piedosos. Contudo, esse desejo pode ser realizado apenas por meio da comunhão com Cristo e da participação nEle; pois, fora de Cristo, até a pessoa mais religiosa vive para si mesma. E apenas em Cristo os piedosos podem viver como servos voluntários, soldados leais de seu Comandante e filhos obedientes de seu Pai.

Fonte: [Josemar Bessa]

23 de ago. de 2010

Herdeiros da Ira de Deus – Thomas Watson – (1620-1686)



a. Sob o poder de Satanás

A primeira desgraça é que, pela natureza, estamos "sob o poder de Satanás", que é chamado de "o príncipe da potestade do ar" (Ef 2.2). Antes da queda, o homem era um cidadão livre, agora é um escravo; antes, um rei em seu trono, agora, está em grilhões. A quem o homem está escravizado? Aquele que é seu inimigo. Isso tornava pior o cativeiro de Israel. "Sobre eles dominaram os que os odiavam" (SI 106.41). Pelo pecado somos escravizados a Satanás, inimigo da humanidade, que escreve todas as suas leis com sangue. Os pecadores, antes da conversão, estão sob as ordens de Satanás; como o asno está sob o comando do condutor, assim ele conduz todos que labutam pelo mal. Assim que Satanás tenta, eles obedecem. Como o navio está sob o comando do piloto, que o guia pelos caminhos que quiser, assim é o pecador sob o comando de Satanás: e este sempre conduz o navio para o inferno. O maligno dirige todos os poderes e todas as faculdades do pecador.

i.       Satanás dirige o entendimento. Ele cega os homens com ignorância e. depois, dirige-os. Como os filisteus arrancaram os olhos de Sansão e, assim, o amarraram, Satanás pode fazer o que quiser com um homem ignorante, uma vez que ele não enxerga o erro em seu caminho, o mal pode guiá-lo a qualquer pecado. Você pode guiar um cego para onde quiser, pois todo o pecado está fundamentado na ignorância.

ii.      Satanás dirige a vontade. Embora ele não possa obrigar, pode, pela tentação, atrair. "Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos" (Jo 8.44). Ele toma os corações, e estes, passam a lhe obedecer. "Queimaremos incenso à Rainha dos Céus" (Jr 44.17). Quando o mal instiga um pecador com a tentação, ele irá atropelar e quebrar todas as leis de Deus, de maneira a obedecer Satanás. Onde está, então, o livre-arbítrio, quando Satanás exerce tal poder sobre a vontade? "E quereis satisfazer-lhe os desejos." Não há uma só parte do corpo que não esteja a serviço do mal: a cabeça planeja o pecado, as mãos o executam, os pés correm para executar a tarefa do maligno. Cícero dizia: "A escravidão é odiosa para um espírito nobre". Satanás é o pior tirano. A crueldade de um canibal ou de Nero é nada para ele. Outros tiranos governaram sobre o corpo, ele governa sobre a consciência. Outros tiranos mostraram alguma misericórdia para com seus escravos: ainda que trabalhassem nas galés, eles lhes davam carne, davam-lhes horas de descanso. Satanás é um tirano impiedoso: não dá descanso. Quanto pesar Judas suportou. O diabo não lhe deu nenhum descanso até que traísse Cristo e, depois, encharcasse as mãos em seu próprio sangue.

APLICAÇÕES

Primeira aplicação: veja nossa desgraça causada pelo pecado original, escravizados a Satanás. Efésios 2.2 diz que Satanás atua absolutamente nos filhos da desobediência. Que triste praga é para um pecador estar a serviço do mal. Exatamente como um escravo, se os senhores mandam que cave nas minas, quebre pedras nas pedreiras ou puxe os remos, ele tem de obedecer, não ousa recusar. Se o diabo manda que um homem minta ou roube, ele não se recusa e, o que é pior, voluntariamente obedece a esse tirano. Outros escravos são forçados contra sua vontade: "os filhos de Israel gemiam sob a servidão" (Êx 2.23). Os pecadores, porém, estão dispostos a serem escravos, não escolhem a liberdade, mas beijam seus grilhões.

Segunda aplicação: trabalhemos para sair dessa condição deplorável na qual o pecado nos afunda, saindo debaixo do poder de Satanás. Se qualquer um de seus filhos fosse feito escravo, você daria grandes somas de dinheiro para resgatar sua liberdade. Quando, então, suas almas estão escravizadas, não devemos lutar para libertá-las? Promova o evangelho. O evangelho proclama alegria para os cativos. O pecado prende os homens, porém o evangelho os liberta. A pregação de Paulo era "para lhes abrires os olhos e os converteres das trevas para a luz e da potestade de Satanás para Deus" (At 26.18). A estrela do evangelho guia a Cristo e, se tiverem Cristo, então serão livres, embora não da existência do pecado, mas da tirania de Satanás. "Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres" (Jo 8.36). Vocês desejam ser reis para reinarem no céu e vão deixar que Satanás reine em vocês? Não pensem em ser reis quando morrerem e escravos enquanto viverem. A coroa de glória é dos vencedores, não dos cativos. Então, saia da jurisdição de Satanás, deixe que seus grilhões de pecado sejam eliminados pelo arrependimento.

b. Herdeiros da ira de Deus

"Éramos por natureza filhos da ira." A explanação que Tertuliano faz dessa passagem está errada, pois ele entende a expressão "filhos da ira" de maneira subjetiva, ou seja, sujeitos à ira e à cólera, transgressores freqüentes na irascível faculdade de um espírito irado. Por "filhos da ira", o apóstolo, passivamente, quer dizer herdeiros da ira, expostos à cólera de Deus. O Senhor, no passado, foi um amigo, porém, o pecado quebrou os laços de amizade. Agora, o sorriso de Deus se transformou numa carranca. Julgados no tribunal, fomos feitos filhos da ira. "Quem conhece o poder da tua ira?" (SI 90.11). "Como o bramido do leão, assim é a indignação do rei" (Pv 19.12). Como o coração de Hamã não deve ter tremido, quando o rei, enfurecido, levantou-se durante o banquete (Et 7.7).

A ira de Deus, todavia, é infinita, outras iras são somente fagulhas: em Deus, a ira não é passional, como em nós; é, antes, uma ação da santa vontade de Deus, pela qual ele execra o pecado e decreta a sua punição. Essa ira é muito triste e é ela que acirra a aflição desta vida, como quando vem a doença, atendendo à cólera de Deus, e a consciência entra em agonia. A mistura do fogo com a saraiva deixa a situação mais terrível (Ex 9.24). Portanto, a mistura da ira de Deus com a aflição produz algo torturante: é um cravo a mais no jugo. A ira de Deus, mesmo só ameaçadora (como o aguaceiro suspenso nas nuvens) fazia as orelhas de Eli tinirem; o que dizer, então, de quando a ira é efetuada? É terrível quando o rei avalia e censura um traidor, mas, é muito mais terrível quando ele o manda para o cavalete ou para ser moído na roda. "Quem conhece o poder da ira de Deus?"

Enquanto formos filhos da ira não podemos fazer nada com as promessas, elas são como a árvore da vida, produzindo muitos tipos de fruto, mas da qual não temos o direito de tirar nem uma só folha. "Filhos da ira" (Ef 2.3), "estranhos às alianças da promessa" (Ef 2.12). As promessas são como uma fonte selada. Enquanto estivermos no estado natural, não vemos nada a não ser a espada flamejante, como diz o apóstolo: "Pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador" (Hb 10.27). Enquanto formos filhos da ira, estamos todos "debaixo da maldição" (Gl 3.10). Como o pecador pode comer e beber estando em tal condição? É como Dâmocles, no banquete, que ao sentar para a refeição principal tinha uma espada sobre sua cabeça, pendurada somente por um fio, por isso não podia comer. Assim é a espada da ira e da maldição de Deus, suspensa a todo o tempo sobre o pecador. Lemos sobre um rolo voador, cheio de maldições (Zc 5.3). Um rolo com maldições vai contra cada pessoa que vive e morre em pecado. A maldição de Deus arruina tudo por onde passa. Há uma maldição sobre o nome do pecador, uma maldição sobre sua alma, uma maldição sobre seu estado e sobre sua posteridade, uma maldição sobre a lei. É muito triste se tudo o que o homem comer se transformar em veneno; assim, o pecador come e bebe a própria condenação à mesa de Deus. É assim antes da conversão. Como o amor de Deus transforma qualquer coisa amarga em doce, do mesmo modo a maldição de Deus transforma tudo o que for doce em amargo.

Observe nossa desgraça por causa da queda. "Herdeiros da ira." E esse um estado em que devemos descansar? Se um homem ficar sob a ira do rei não irá se esforçar para se reintegrar a seu favor? Fujamos da ira de Deus. E para onde podemos fugir, senão para Jesus Cristo? Não existe nada mais que nos proteja da ira de Deus. "Jesus, que nos livra da ira vindoura" (lTs 1.10).

Fonte: [Josemar Bessa]

17 de ago. de 2010

Qual é sua reação a cruz? – Lloyd-Jones


Você ouve o clamor do Filho em agonia: "Deus meu! Deus meu! Por que me desamparaste?" (Mateus 27.46). Literalmente, Jesus morreu com o coração quebrantado. João nos relata que quando os soldados perfuraram o seu lado com uma lança "logo saiu sangue e água" (João 19.34). O coração de Jesus havia se rompido e o sangue havia se coagulado, e havia soro e coágulo sanguíneo, porque o coração, literalmente, se rompeu com a agonia da ira de Deus sobre ele, e pela separação da face de seu Pai. Este é o amor de Deus. Meu amigo, este é o amor de Deus por você, um pecador. Ele não olha passivamente e diz: "Eu o perdôo apesar do que fez ao meu Filho". Não! Ele mesmo castigou o Filho. Ele fez ao Filho o que eu e você jamais poderíamos ter feito. Deus derramou sua ira eterna sobre Jesus, e escondeu sua face dele, seu Unigénito e Amado. E Deus assim agiu para que nós não recebêssemos a punição e fôssemos para o inferno, passando lá toda a eternidade em miséria, tormento e infelicidade. Tal é o amor de Deus, e esta é a maravilha e a glória da cruz. Deus punindo o seu próprio Filho para que não precisasse punir a você e a mim.

Isto também foi feito a fim de que a mensagem da cruz pudesse ser pregada desta forma: "Crê no Senhor Jesus, e serás salvo..." (Atos 16.31). Creia que Jesus morreu a sua morte, suportou a sua punição, sofreu em seu lugar, que a punição que lhe traz a paz estava sobre ele. Creia e, imediatamente, será perdoado. Esta é a glória da cruz. A sabedoria de Deus legando o caminho, o amor divino executando o plano, apesar do que isso significava para ele, e seu Filho, voluntária e prontamente, submetendo-se a este plano, a fim de que você e eu pudéssemos ser perdoados, tornando-nos filhos de Deus. Oh:

Ao contemplar a maravilhosa cruz Na qual o Príncipe da glória morreu, - levado à morte por seu próprio Pai -Meu mais rico ganho eu reputo por perda, E desprezo por todo o orgulho meu.

- e por toda a minha autojustiça. "Ao contemplar a maravilhosa cruz" é que vejo estas coisas: O Deus eterno, em toda a glória de seu coração de Pai, entregando o seu próprio Filho para morrer em meu lugar.

Na verdade, vejo lá na cruz a harmonia de todos os atributos divinos. Vejo santidade e amor, contemplo "misericórdia e verdade se unindo. Justiça e paz fundindo-se". Vejo todos os eternos atributos do Deus eterno, todos eles mostrados ao mesmo tempo. Não há contradição entre a retidão, a justiça, o amor, a misericórdia e a compaixão. Todos lá estão, na plenitude da Divindade. Só há uma coisa a dizer quando contemplo coisas assim: "Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo". E lá na cruz que eu vejo a Deus como ele é, e como o meu Pai. Vejo o seu glorioso caráter justificado em todos os mínimos detalhes. Portanto, eu confio a ele a minha alma, descanso na palavra do Deus eterno e imutável.

Esta é a sua reação com respeito à cruz, meu amigo? Já viu estas coisas na cruz - o Filho, com o Pai e o Espírito Santo sustentando o Filho? Jesus se ofereceu por meio do Espírito eterno ao Pai em nosso favor. E a sua reação a isto que decide se você é um cristão ou não. Não me venha falar de suas boas obras, pois não me importa. Não venha me dizer que é membro de igreja, pois não estou nem um pouco interessado. Você está se gloriando na cruz? Ela é tudo para você? É a sua vida? Você está pronto a morrer em vez de negar esta mensagem gloriosa? Isto é ser um cristão e, se não nos gloriarmos na cruz, não a vimos, nem a compreendemos. E, se não a temos visto, na verdade não cremos nela. E, se não cremos na cruz, ainda estamos em nossos pecados e deveríamos ter igual morte. Iremos a julgamento e seremos condenados ao inferno. O seu destino eterno depende apenas disso. Você já compreendeu que Deus providenciou na cruz o único caminho pelo qual você pode ser perdoado e se tornar um filho de Deus, herdando as glórias da eternidade? Possa Deus ter misericórdia de todos nós e, pelo seu Espírito, abrir nossos olhos para vermos a glória da cruz.

A Soberana Liberdade de Deus - James Montgomery Boice


Nestes dias de múltiplos "direitos" humanos, a maioria das pessoas considera erroneamente que Deus nos deve algo — a salvação ou pelo menos uma oportunidade de salvação. Mas na argumentação de Packer sobre a graça, à qual nos referimos no início deste capítulo, o autor aponta corretamente que Deus não nos deve coisa alguma. Ele mostra um surpreendente favor a muitos — isto é o que graça significa — mas ele não tem de fazê-lo. Se ele fosse obrigado a ser gracioso, a graça não seria mais graça e a salvação seria baseada nos méritos humanos ao invés de ser sola gratia.

Quando dizemos que Deus não é obrigado a ser gracioso estamos falando a respeito de graça soberana e quando falamos a respeito de graça soberana não há melhor passagem bíblica para estudar do que Efésios 1. A maior parte dos cristãos está ciente do ensino de Paulo sobre a graça em Efésios 2. Na verdade, muitos memorizaram Efésios 2.8,9, que descreve a graça. O que a maioria não percebe é que o significado de graça naqueles versículos já havia sido definido através do que foi dito a respeito de graça no capítulo 1. O capítulo 1 é, do começo ao fim, sobre a soberana graça de Deus.

Qual é a diferença entre Efésios 1 e 2? Ambos usam a palavra graça três vezes. Mas o capítulo 1 olha para o assunto sob o ponto de vista de Deus, mostrando que nós somos salvos por causa do que Deus quis, enquanto que o capítulo 2 olha para o assunto pela nossa perspectiva, mostrando como estes decretos anteriores de Deus impactam o crente individual. A coisa mais importante é que Paulo começa com Deus. E ainda mais, começando com Deus, ele destaca o papel de cada pessoa da Trindade em seu trabalho.

1. O papel de Deus o Pai: eleição, "assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado" (Ef 1.4-6). Estes versos são uma das mais fortes expressões da graça soberana na Escritura, pois ensinam que as bênçãos da salvação vêm para algumas pessoas porque Deus deter-minou desde antes da criação do mundo dar estas bênçãos àquelas pessoas — e somente por esta razão.

Muitas pessoas hoje não gostam desta doutrina porque pensam que não é justa. Alguns a negam francamente. Alguns a admitem mas negam seus efeitos dizendo que a escolha é baseada no pré-conhecimento de Deus — como se houvesse qualquer coisa boa em nós para Deus prever, à parte dele ter previamente determinado colocar isto em nós. Alguns ignoram a doutrina. Mas é difícil ignorar a eleição, pois ela tem seus alicerces do começo ao fim da Bíblia e em muitas passagens decisivas. Sem a prévia eleição divina dos pecadores para a salvação, a graça é esvaziada de seu significado.

2. O papel de Deus o Filho: redenção. A eleição não é a única coisa que Deus fez como expressão de sua graça na salvação. Seguindo o padrão trinitariano deste capítulo, vamos para a doutrina da redenção. O que Deus fez por meio de Jesus Cristo foi redimir seu povo eleito ou escolhido, o que também flui de graça imerecida ou total-mente soberana. "No qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça, que Deus derramou abundantemente sobre nós em toda a sabedoria e prudência" (Ef 1.7,8).

A razão pela qual a redenção é particularmente associada a Jesus Cristo é que redenção é um termo comercial que significa "comprar no mercado para que o objeto ou pessoa comprada possa ser libertada" e Jesus fez esta compra e obra libertadora por nós através de sua morte em nosso lugar. Para levar a efeito a ilustração, somos descritos como escravos do pecado, incapazes de nos libertar a nós mesmos da escravidão do pecado e das garras do mundo. Na verdade, em vez de nos libertar, o mundo brinca alegremente com nossos corpos e almas. E oferece seu sedutor pagamento — fama, sexo, prazer, poder, riqueza. Por estas coisas milhões vendem suas almas eternas e perecem. Mas Jesus entra no mercado como nosso Redentor. Jesus oferece o preço de seu sangue. Deus diz: "Vendido para Jesus, pelo preço de seu sangue!" Não há lance mais alto que este. Assim nos tornamos sua posse para sempre.

O apóstolo Pedro escreveu: "sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo" (1 Pe 1.18,19). Charles Wesley expressou isto poeticamente:

Há muito meu aprisionado espírito jaz
Prisioneiro do pecado e da noite da natureza;
Teu olho difundiu um rápido raio;
Acordei, a masmorra brilhou com luz;
Minhas cadeias caíram, meu coração foi liberto;
Levantei, prossegui e te segui.


3. O papel de Deus Espírito Santo: chamada eficaz. A terceira expressão da graça soberana de Deus em nossa salvação enfatizada em Efésios 1 é a obra do Espírito Santo, que aplica ao indivíduo a salvção planejada por Deus Pai e alcançada por Deus Filho. "Nele, digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade, a fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo; em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória" (Ef 1.11-14).

Ao primeiro relance a palavra "herança" no verso 11 parece estar descrevendo a mesma coisa que as palavras de Paulo a respeito da escolha do Pai no verso 4, ou seja, eleição. Mas na verdade a idéia é diferente. No verso 4 a escolha predestinadora do Pai está antes de tudo. No verso 11, "herança" se refere ao que os teólogos denominam o chamado eficaz do Espírito Santo, o qual flui e é determinado pelo exercício da soberana vontade de Deus na eleição.

Provavelmente a maior ilustração da graça de Deus chamando um pecador morto para a vida seja a de Jesus ressuscitando Lázaro, registrado em João 11. Quando Jesus retornou a Betânia a pedido das irmãs do homem morto, foi dito a ele que Lázaro havia morrido há quatro dias e que ele já estava em decomposição: "Disse-lhe Marta, irmã do morto: Senhor, já cheira mal, porque já é de quatro dias" (v.39). Que descrição gráfica do estado de nossa decadência moral e espiritual por causa do pecado! Morto, decompondo, com mal cheiro, sem esperança. Não havia nada que alguém pudesse fazer por Lázaro nesta condição de morte. Sua situação não era meramente séria ou severa; era impossível.

Mas não para Deus! "Para Deus tudo é possível" (Mt 19.26). Por-tanto, havendo orado, Jesus chamou: "Lázaro, vem para fora" (Jo 11.43), e o chamado de Jesus trouxe vida ao homem morto, assim como a voz de Deus trouxe do nada o inteiro universo à existência.

Isto é o que o Espírito Santo faz a pecadores moribundos hoje. O Espírito Santo trabalha por meio da pregação da Bíblia para chamar à fé aqueles que ele previamente escolheu para a salvação e por quem especificamente Jesus morreu. A parte destas três graciosas ações — o ato de Deus em eleger, a obra de Cristo em morrer, e a operação do Espírito Santo em chamar — não haveria salvação para nin¬guém. Mas devido a estas ações — por causa da graça soberana de Deus — mesmo o pior dos rebeldes blasfemos pode ser mudado de sua insensatez e pode encontrar Cristo.

Fonte: [Josemar Bessa]

16 de ago. de 2010

Por que o Caminho é Estreito? – Thomas Watson (1620-1686)

"estreita é aporta e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem. " (Mat. 7:14).

Questão 1. Mas por que Deus fez o caminho para o céu tão difícil? Por que tanto trabalho?

Resposta 1. Para ensinar-nos a valorizar as coisas celestiais. Se a salvação viesse facilmente, não lhe daríamos o devido valor. Se os diamantes fossem comuns teriam pouca importância, entretanto, visto que são tão difíceis de serem conseguidos, são tão valorizados. Tertuliano conta que quando as pérolas eram comuns em Roma, as pessoas as usavam em seus sapatos, cujo próximo passo era esmagá-las sob seus pés. A salvação é uma pérola que Deus não permite ser desconsiderada. Portanto, deverá ser conseguida com trabalho santo. Deus não permitirá que baixem os preços das misericórdias espirituais. Aqueles que têm esta preciosa flor da salvação devem colhê-la com o suor de seus rostos.

Devemos trabalhar e nos esmerar para podermos estar qualificados para o céu. Um pai deixará sua herança ao filho, todavia primeiro ele lhe dará uma educação para que possa estar qualificado para ela. Deus nos dá a salvação, contudo primeiro Ele "nos fez idôneos para participar da herança dos santos na luz. " (Col. 1:12). Enquanto estamos trabalhando, estamos correndo e nos adequando para o céu. O pecado está sendo enfraquecido, a graça está sendo amadurecida. Enquanto estamos em combate, estamos nos preparando par a a coroa. Primeiro se amadurece o odre antes de colocar o vinho. Deus irá nos amadurecer com a graça antes de derramar o vinho da glória.

Questão 2. Mas se deve haver este trabalho, como se diz que o jugo de Cristo é suave?

Resposta 2. Para a parte carnal é difícil, porém onde há a infusão de um novo e santo princípio, o jugo de Cristo é suave. Não é um jugo, e sim uma coroa. Quando as rodas da alma são lubrificadas com graça, então um cristão se move no caminho da religião com facilidade e alegria. Uma criança se alegra em obedecer a seu pai. Para Paulo servir ao Senhor era o céu: "... segundo o homem interior tenho prazer na lei de Deus. " (Rom. 7:22). E quão rapidamente a alma é levada por essas asas! O serviço de Cristo é a liberdade de Cristo, portanto o apóstolo chama isso de "lei da liberdade " (Tg. 1:25).

Servir a Deus, amar a Deus, ter prazer em Deus, é a mais doce liberdade do mundo. Cristo não faz como fez Faraó: "... faziam servir os filhos de Israel com dureza " (Ex. 1:13), mas Ele põe sobre eles os constrangimentos do amor: " ...o amor de Cristo nos constrange... "(II Cor. 5:14). Seus preceitos não são cargas, são privilégios; não são obstáculos, são ornamentos. Portanto, Seu jugo é leve, mas para o homem não regenerado este fardo tem um peso que o atormenta e aborrece. Quando a corrupção prevalece, ainda o melhor coração encontra alguma relutância. É isso que precisa ser levado em conta quanto à primeira razão que citamos, a dificuldade do trabalho. A segunda razão porque precisamos de muito suor santo e esforço no desenvolvimento da salvação é devido à excelência desse traba lho. Pouco serão salvos, portanto devemos trabalhar o máximo que pudermos para estarmos entre esses poucos. O caminho para o inferno ó largo, ele está repleto de riquezas e prazeres. Ele tem uma rua de ouro, por isso há muitos que viajam por ele; no entanto, o caminho para o céu não lhes é atraente. Não é uma trilha batida, e poucos podem achá-la.

Os anunciadores da graça universal dizem que Cristo morreu intencionalmente por todos, mas então por que nem todos são salvos? As intenções de Cristo poderiam ser frustradas? Alguns afirmam tão grosseiramente que todos serão realmente salvos, porém não foi o que disse o Senhor Jesus: "estreita é aporta e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem. " (Mat. 7:14). Ora, como todos podem entrar por essa porta e poucos a encontrarem, para mim parece um paradoxo! A manada dos homens vai para o matadouro, "mas o remanescente será salvo. " (Rom. 9:27). A peça inteira é cortada e vai para o diabo. Somente um remanescente será salvo. A maioria das pessoas no mundo é fruto caído da árvore, derrubado pelo vento. Aquela oliveira em Is. 17:6 com duas ou três azeitonas na mais alta ponta dos ramos, é um símbolo apropriado do reduzido número daqueles que serão salvos. Satanás vai embora com a colheita, Deus tem somente alguns rabiscos. Nesta grande cidade se fizéssemos uma votação ou uma pesquisa de opinião, o diabo certamente venceria.

Baseado no que aprendemos, observe que se fôssemos dividir o mundo em trinta partes iguais, dezenove destas trinta estão cobertas de idolatria barbaresca, seis dos onze restantes com a doutrina de Maomé, de modo que restaria apenas cinco partes das trinta onde há um pouco de cristianismo. Entre estes "cristãos" há muitos seduzidos pelos papistas por um lado e protestantes formais por outro, de forma que há poucos que são salvos. Assim sendo, isso deve levar-nos a um esforço cada vez maior para fazermos parte do pequeno número daqueles que herdarão a salvação.

A terceira razão porque devemos pôr tanto vigor neste trabalho é devido a possibilidade do mesmo. A impossibilidade mata todo o esforço. Quem irá sofrer por algo que não tenha a esperança de conseguir? Mas "... no tocante a isto ainda há esperança para Israel. " (Esd. 10:2). A salvação é algo viável, ela pode ser conseguida. Ó amigos, embora a porta do paraíso seja estreita ela ainda está aberta. Está fechada para os demônios, aberta porém para vocês. Quem não se esforçaria por entrar por ela? É uma questão de livrar-se de seus pecados, remover esta fina camada de barro que os mascara, desinflar seu orgulho e assim talvez vocês possam entrar pela porta estreita. Esta possibilidade da salvação, aliás probabilidade, deve fazer com que vocês empenhem sua vida neste esforço. Se há alimento, por que continuarem por mais tempo morrendo de fome em seus pecados?

Fonte: [Josemar Bessa]

15 de ago. de 2010

Poderoso para Salvar - C. H. Spurgeon



“Quem é este que vem de Edom, de Bozra, com vestes de vivas cores, que é glorioso em sua vestidura, que marcha na plenitude da sua força? Sou eu que falo em justiça, poderoso para salvar” (Isaías 63:1)

Por “salvar” entendemos todo o processo da grandiosa obra da salvação, desde o primeiro desejo santo até a completa santificação. As palavras são  multum in parvo (muito pequenas): sem dúvida, toda a misericórdia se encontra nesta única palavra. Cristo não é somente "poderoso para salvar" aqueles que se arrependem, mas Ele também é capaz de fazer com que os homens se arrependam.

Ele conduzirá aos céus aqueles que crêem; mas, além disso, Ele é poderoso para dar aos homens um novo coração e operar a fé dentro deles. Ele é poderoso para fazer o homem que odeia a santidade, amá-la, e para constranger aqueles que desprezam Seu nome a dobrarem seus joelhos diante Dele. E isto não é tudo, pois o poder divino é igualmente visto em todo o processo da salvação. A vida do crente é uma série de milagres operados pelo "Poderoso Deus ".

A sarça arde mas não é consumida. Ele é poderoso para manter Seu povo em santidade de vida após tê-lo tornado santo, e para preservá-lo em temor e amor até consumar sua existência espiritual no céu. O poder de Cristo não está em tornar uma pessoa crente e depois deixar que ande por si mesma; mas Aquele que começa a boa obra, há de continuá-la; Aquele que dá o primeiro sopro de vida na alma morta, há de prolongar a existência divina e fortalecê-la até que rompa cada laço do pecado, e a alma salte da terra, aperfeiçoada na glória.

Crente, eis o alento. Estás orando por alguém amado? Oh, não desistas das tuas orações, pois Cristo é "poderoso para salvar". És impotente para recuperar o rebelde, mas teu Senhor é Todo-Poderoso. Descansa nesse forte braço e usa-o para que dê sua força. Teus problemas te atormentam? Não temas, pois a força Dele é suficiente para ti. Iniciando nos outros ou continuando a obra em ti, Jesus é "poderoso para salvar"; a melhor prova disto jaz no fato de que Ele te salvou. Quantas misericórdias não encontras-te Naquele que é poderoso para destruir!
  

12 de ago. de 2010

Esvaziamento Pragmático - John Piper



- Uma voz de lamento vinda do Sri Lanka -

A lamentação pelo esvaziamento pragmático das convicções evangélicas pode ser sentida com intensidade incomum quando se trata não apenas da elite intelectual, mas também de uma pessoa como Ajith Fernando, líder do movimento Mocidade para Cristo, no Sri Lanka. Além de apresentar a verdade sem qualquer artifício em suas palestras ao redor do mundo, ele também trabalha entre os pobres e testemunhou com tristeza profunda as mortes causadas pela insurreição que, só no ano de 1989, fez cinqüenta mil vítimas no seu país. Ao comentar esse período, Fernando diz simplesmente: "lutei muito contra o desespero ao longo daquele ano".

De acordo com ele, as forças para prosseguir vieram da verdade e, nesse contexto, ele lamenta o que vê acontecer no Ocidente: "O evangelicalismo ocidental sofreu uma mudança radical, em função da qual o pragmatismo tem substituído a verdade como principal influência sobre o pensamento e a vida. Os evangélicos estão trilhando um caminho suicida".

O que lhe dá ânimo é ouvir certas vozes se levantando, mas, ainda assim, ele comenta: "Sinto, porém, que muitos líderes evangélicos se encontram de tal modo envolvidos e cegados pela escravidão do pragmatismo que, mesmo ao apoiarem com sinceridade os apelos para a volta a uma dependência maior da verdade, esse apoio não tem qualquer impacto significativo em seus estilos de ministério e estratégias". Falta a paciência necessária para tratar dos pormenores das proposições bíblicas que contêm a doutrina preciosa e vivificadora.

Cinco coisas que a mortificação não significa – John Owen (1616 –1683)



i) Mortificar o pecado não é destruí-lo completamente e erradicá-lo do coração. É certo dizermos que esse é o alvo da mortificação, no entanto trata-se de um alvo que não atingiremos nesta vida. Não há dúvida de que o cristão pode esperar triunfos maravilhosos sobre o pecado com a ajuda do Espírito e da graça de Cristo, e isso, de tal maneira que ele pode obter vitória quase constante sobre o pecado. Contudo, não deve esperar a destruição total e a erradicação do pecado nesta vida. Paulo nos assegura disso em Filipenses, capítulo 3. Paulo sabia que a despeito de tudo o que havia alcançado, ainda não era perfeito (v. 12). Este conhecimento não impediu que "um corpo de humilhação" (ou seja, um corpo que ainda tem o pecado habitando nele) fosse transformado pelo poder de Cristo na Sua volta (v. 21).

Deus opera para que por nós mesmos não sejamos completos em coisa alguma, a fim de que em todas as coisas sejamos completos em Cristo (Col. 2:10).

ii)      Mortificar o pecado não é tentar mascará-lo (e isto, na verdade, não precisaria ser dito!). E triste se dizer que uma pessoa pode exteriormente abandonar a prática de muitos pecados enquanto ainda tem o desejo de praticá-los. Outras pessoas podem pensar que ela é uma pessoa transformada. Mas tal pessoa só fez acrescentar aos seus outros pecados o maldito pecado da hipocrisia e, dessa forma, se pôs num caminho mais acertado para o inferno.

iii)     Mortificar o pecado não significa necessariamente cultivar uma natureza quieta e sossegada. Muitas pessoas são, por natureza, abençoadas com um temperamento agradável. São pessoas que sabem levar a vida e não se inclinam a perder o controle. Ora, tais pessoas podem cultivar e melhorar sua natureza agradável pela disciplina, pela consideração e pela prudência e dar a si mesmas e aos outros a aparência de serem muito espirituais. O grande problema é que uma pessoa pode ser perturbada pela ira e pela paixão apenas raramente, enquanto outra pessoa tem que lutar com esses pecados ou paixões todos os dias; mesmo assim pode ser que a segunda pessoa tenha feito mais para mortificar o pecado do que a primeira pessoa. Que a primeira pessoa se julgue por seu egoísmo, sua incredulidade, sua inveja, ou algum pecado espiritual semelhante. Isso lhe dará uma compreensão melhor do seu verdadeiro estado diante de Deus.

iv)     Um pecado não é mortificado quando é tão somente desviado numa outra direção. Simão abandonou sua prática de magia por algum tempo; mas sua ambição e sua cobiça que lastreavam-se por trás dela permaneceram e atuaram de outra maneira (veja Atos 8:9-24). A despeito da sua aparente nova maneira de viver (v. 13) ele ainda se encontrava "em fel de amargura e laço de iniqüidade" (v. 23). Quem quer que seja que substitua o mundanismo pelo orgulho, ou a sensualidade pelo legalismo, não precisa pensar que o pecado supostamente deixado para trás foi mortificado!

v) A vitória ocasional sobre o pecado não significa mortificação. Olhemos para dois exemplos disso:

(a)     Certo pecado se manifesta e traz terror à consciência - o terror de um eventual escândalo bem como o medo do desprazer de Deus. Isso pode produzir o efeito de acordar a pessoa de uma dormência espiritual, e por algum tempo ela evidencia uma atitude de total aborrecimento de tal pecado e de estar de sobreaviso a seu respeito. O pecado, porém, permanece como antes, não foi mortificado. O pecado é como um inimigo que sorrateiramente entrou no acampamento e matou um dos capitães. Os guardas, imediatamente, se colocam em alerta e por todo o acampamento procuram encontrar o inimigo. O inimigo se esconde enquanto os guardas vasculham o acampamento. Durante certo tempo pode parecer que o inimigo foi expulso; mas ele não foi molestado c aguarda a oportunidade de proceder da mesma maneira outra vez.

(b)     Num tempo de algum juízo, calamidade ou aflição que oprime, o coração se preocupa em como se aliviar dessas coisas. Uma pessoa pode crer que tal alívio só será obtido lidando com o seu pecado, e resolve abandoná-lo. O pecado, porém, é tão enganoso que se contenta em permanecer quieto por algum tempo, dando a aparência de ter sido mortificado. Está, contudo, longe de ter sido mortificado e mais cedo ou mais tarde se manifestará, vivo, novamente. No Salmo 78:32-37 há uma excelente ilustração de tudo isto. Quando as provações vieram, essas pessoas foram rápidas em se voltar para o Senhor. Fizeram-no "fervorosamente" com zelo e diligência; entretanto seus pecados não haviam sido mortificados, (vs. 34,37).

Dessa e de muitas outras maneiras as pobres almas podem se enganar e pensar que têm mortificado seus maus desejos quando realmente os pecados ainda estão vivos e estão esperando por ocasiões adequadas para irromperem e perturbarem a sua paz.

Fonte: [Josemar Bessa]
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