29 de abr. de 2010

DEUS TEM O CONTROLE DE TUDO! - A. W. Pink


"Tua é, SENHOR, a magnificência, e o poder, e a honra, e a vitória, e a majestade; porque teu é tudo quanto há nos céus e na terra; teu é, SENHOR, o reino, e tu te exaltaste por cabeça sobre todos." (1 Crônicas 29:11)




Você compreende o que implicam as palavras "Soberania de Deus"? Embora exista muita maldade no mundo, a bíblica afirma que Deus está em completo controle de tudo. Isto é o que implicam as palavras "Soberania de Deus". Quando dizemos que DEUS é soberano, queremos dizer que Deus tem poder absoluto sobre tudo. Ele é o Supremo, o Grande Rei; Ele é Deus. Ele faz a sua vontade no céu e na terra, e não existe mas ninguém que possa deter a sua mão e Lhe dizer: "O que fazes?". Quando dizemos que Deus é soberano, queremos dizer que Ele é o Deus Todo Poderoso, que possui todo poder no céu e na terra e que ninguém pode resistir a sua vontade. Este é o Deus da Bíblia.
Freqüentemente, o ensino moderno nos dá um conceito muito diferente acerca de Deus. Apresenta um "deus" impotente e ineficaz, um "deus" de aflição mais do que um Deus digno de ser temido. A maioria do ensino moderno diz que Deus "o Pai" quer salvar a todo mundo, e que "o Filho" morreu para salvar a "todos", e que Deus o Espírito Santo está tentando agora ganhar a todos os homens no mundo. Mas, não resulta obvio que muitas pessoas estão morrendo sem ter sido salvas por Cristo, e sem esperança alguma? Então, se muitos morrem sendo perdidos e se acreditamos que Deus queria salvá-los a todos, com certeza o Pai deve estar desapontado, o Filho deve sentir-se insatisfeito e o Espírito Santo tem sido derrotado.
Não podemos dizer que Deus tenha sido surpreendido pelo pecado humano, porque isto deixaria a Deus no nível dos seres humanos que são falíveis e cheios de erros. Também não podemos dizer que Deus fique impotente diante do sofrimento e do pecado no mundo, porque então estaríamos passando por alto o que a Bíblia diz: que Deus controla até os maus atos que os homens cometem. Em verdade, se negamos a soberania de Deus, pronto já não teremos espaço para Deus em nossos pensamentos.
Deus é completamente soberano. Ele possui o direito de governar tudo tal como Ele quer. Deus é como o oleiro que tem o controle completo sobre o barro. Deus é soberano na forma em que usa o seu poder. Ele o usa como, quando e onde deseja. Todo o testemunho da Bíblia afirma esta verdade. Quando o Faraó, rei do Egito, tentou deter os israelitas para que não fossem adorar a Deus no deserto, Deus usou o seu poder e os israelitas foram salvos, enquanto que os egípcios foram vencidos.
Depois, quando os israelitas entraram na terra de Canaã e acharam que a cidade de Jericó era um obstáculo, Deus usou seu poder e os muros da cidade forram derrubados. O poder de Deus salvou Davi de Golias.
Deus fechou as bocas dos leões para que não ferissem Daniel. Ainda assim, em ocasiões Deus não mostra o seu poder por um longo tempo, e então repentinamente o manifesta e todos podem vê-lo.
O poder de Deus nem sempre resgata seu povo dos perigos. Em Hebreus 11:36-37, nos diz como alguns que creram em Deus foram apedrejados e ainda mortos, e outros andaram errantes cobertos com peles de animais e suportando muito sofrimento. Por que não foram resgatadas estas pessoas pelo poder de Deus como as outras? A única resposta é que Deus é soberano na maneira em que usa o seu poder. Ele faz o que sabe que é melhor.
Deus é soberano também na maneira em que outorga o seu poder a outros. Concedeu poder a Matusalém para que vivesse muito mais tempo que ninguém. Deus concede a alguns a capacidade de ganhar muito dinheiro, porém não faz a todos ricos. Isto se deve a que Deus exerce sua soberania ao conceder o seu poder às pessoas. Ele não dá o mesmo poder a todos.
Deus é soberano também no outorgamento de sua misericórdia. Quando Jesus foi ao tanque de Betesda em Jerusalém, havia muitos doentes ali e entre eles estava um homem que tinha estado enfermo por trinta e oito anos. João capítulo 5 nos fala que Jesus disse a este homem: "Levanta-te, toma o teu leito, e anda" (versículo 8). Imediatamente o homem foi sarado; levantou seu leito e se foi. Então, por que foi curado este homem em particular?
Não nos diz que fosse devido a que merecesse ser sarado. Ou seja, a misericórdia de Deus manifestou-se nele de uma maneira soberana, porque Jesus poderia ter sarado a toda a multidão tão facilmente como o fez com este homem. Porém Jesus usou seu poder divino para curar um único homem.
Deus é soberano na maneira em que outorga a sua misericórdia. Ele mostra sua misericórdia como a Ele apraz.
Deus é soberano na forma em que mostra a sua graça. A graça é o favor divino mostrado àqueles que não a merecem (senão que, ao contrário, merecem ser enviados para o inferno). A graça é o oposto à justiça, já que a justiça nos dá só o que merecemos. A graça é a bondade de Deus para as pessoas que não a merecem, uma vez que ela tem odiado e desobedecido a Deus e Sua lei. A graça é um dom (um presente) de Deus, de maneira tal que ninguém pode exigi-la como se fosse um direito, pois então deixaria de ser graça. Deus não deve graça a ninguém, senão que a concede aos que Ele quer pela sua própria soberana vontade. Podemos regozijar-nos nisso, porque os pecadores são salvos pela graça.
Isto significa que a pessoa mais pecaminosa pode ser alcançada por esta graça. A graça exclui toda arrogância humana e dá a Deus toda a glória da salvação.
Quase cd página da Bíblia nos lembra que Deus é soberano no outorgamento de sua graça. Quando Jesus nasceu, as boas novas não foram anunciadas a todo mundo, senão que foram dadas aos pastores de Belém e aos homens sábios do Oriente. Deus poderia tê-lo dito a todos, porém não o fez, porque Ele é soberano na forma em que exerce a sua graça.
Percebe você que Deus tem outorgado a sua graça a pessoas com poucas probabilidades de serem alcançadas? Ele a mostrou aos pastores e a homens que nem sequer eram judeus. Freqüentemente, desde aquele momento até o dia de hoje, Deus tem feito exatamente o mesmo, mostrando a sua graça às pessoas mais desprezíveis e indignas. Tem Ele mostrado a sua graça para você?
Temos visto que tudo na Bíblia nos diz que Deus é soberano. No próximo capítulo veremos que todas as coisas que Deus tem criado também nos mostram que Ele é o Deus soberano.


TEXTOS BÍBLICOS:





Daniel 11:32: "E aos violadores da aliança ele com lisonjas perverterá, mas o povo que conhece ao seu Deus se tornará forte e fará proezas."

Isaias 55:8-9: "Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o SENHOR. Porque assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos."

Romanos 11:33: "O profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos!".

Efésios 1:1: "Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus, aos santos que estão em Éfeso, e fiéis em Cristo Jesus."

Romanos 11:36: "Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém."


1 Crônicas 29:10-11: "Por isso Davi louvou ao SENHOR na presença de toda a congregação; e disse Davi: Bendito és tu, SENHOR Deus de Israel, nosso pai, de eternidade em eternidade. Tua é, SENHOR, a magnificência, e o poder, e a honra, e a vitória, e a majestade; porque teu é tudo quanto há nos céus e na terra; teu é, SENHOR, o reino, e tu te exaltaste por cabeça sobre todos."

1 Tm 6:15: "A qual a seu tempo mostrará o bem-aventurado, e único poderoso Senhor, Rei dos reis e Senhor dos senhores."




Fonte:[Josemar Bessa]

Você realmente é um Cristão? W. Guthrie (1620-1665)


Você é cristão? Essa é a pergunta que estou fazendo e solicitando que pense a respeito. Quero que você pergunte a si mesmo como pode ter certeza que Jesus Cristo é seu Salvador, e que a misericórdia de Deus já lhe alcançou. Nos capítulos anteriores eu disse que podemos saber estas coisas - e examinamos as diferentes formas em que Deus age para trazer as pessoas a Si.
Agora quero apresentar alguns sinais ainda mais evidentesque mostram que uma pessoa é cristã autêntica. A fé é um desses sinais, pois a fé é necessária para que sejamos salvos do pecado. Como Paulo e Silas disseram ao carcereiro em Filipos, "Crê no Senhor Jesus Cristo, e serás salvo" (Atos 16:31).
Apesar disso, às vezes as pessoas pensam que a fé é misteriosa - tão estranha e misteriosa que jamais a podem atingir. Para elas eu diria: a fé não é tão difícil como muitos pensam. Sim - a fé é dádiva de Deus, e não podemos produzida. Mas, "Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo" (Rom. 10:9). Leia a passagem inteira em Romanos, capítulo 10, versículos 5 a 13, e verá que Paulo está dizendo que a fé não é coisa difícil. De fato é uma questão da vontade e do coração. Significa chegar-se a Jesus Cristo, descansar e confiar nEle, apoiar-se nEle e achar nosso tesouro nEle. Fé é questão de querer a Jesus Cristo, e procurá-1o para salvação do pecado. Significa receber a Jesus desse modo. João diz: "a todos quantos o receberam, deu lhes o poder de serem feitos filhos de Deus" (João 1:12). Fé significa vir a Cristo, buscando-O com anseio. "Tudo o que o Pai me dá virá a mim", diz Jesus, e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora" (João 6:37). Fé significa buscar a Jesus e querer a Sua salvação -"Olhai para mim, e sereis salvos, vós todos os termos da terra" (Is. 45:22).
Assim a fé, do modo que estou falando no momento, não é algo difícil; não significa ter o entendimento de coisas difíceis sobre Deus. Inicialmente, fé não implica em crer que Deus me escolheu, ou que Deus me ama, ou que Cristo morreu por mim. Essas coisas são, de fato, difíceis. Mas a fé que traz a todos nós para as bênçãos de Deus não é assim; a fé que nos traz à salvação é questão de querer a Cristo, ser levado a Ele, apoiar-se e ter confiança nEle.
Mesmo assim, para alguns, essa fé salvadora é reivindicação excessiva. Dizem-nos que é excesso de confiança dizer que foram levados a Jesus Cristo. Entretanto, se devemos ser salvos, temos que ter aquela fé que nos conduz a Jesus Cristo e não nos deixa afastar dEle. Sem essa fé confiante, nada mais será suficiente. A não ser que creiamos, ainda estamos condenados por Deus. "Quem não crê já está condenado;porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus" (João3:18). Assim, ter fé salvadora não e nada demais para reivindicar. Se não podemos reivindicá-la, não temos esperança nenhuma.
Ainda assim, as pessoas dizem que não podemos ter certeza de possuirmos fé. O apóstolo João, no entanto, nos diz em sua Primeira Epístola que aquele que crê tem um testemunho em si mesmo (1 João 5:10). Noutras palavras, podemos saber que estamos confiando em Cristo. Como podemos saber disso? Bem, no último capítulo expliquei que muitas vezes descobrimos que Deus nos predispôs para a fé. Ficamos convencidos de que estamos perdidos; percebemos que não podemos nos salvar do pecado, e que somente Cristo é capaz de nos salvar completamente. Sabemos que essa é a única coisa boa que podemos fazer. Esse tipo de predisposição ocorre muitas vezes antes da vinda da fé verdadeira.
Outras coisas vêm com essa fé verdadeira. Se estamos confiando em Cristo, vamos querer que Ele controle as nossas vidas; aprenderemos do Seu ensino; vamos querer nos entregar completamente e sem reserva a Ele. Todas estas coisas, eoutras mais, acompanham a fé autêntica; mas embora sejamevidências para nós, devo dizer ainda que, à parte delas, podemos saber em nós mesmos, pela ajuda costumeira doEspírito Santo, se realmente temos fé no Senhor Jesus Cristo -ou se não a temos.
Talvez ajude se eu disser um pouco mais sobre a natureza desta fé. A Bíblia a descreve de vários modos-pois a fé é uma experiência diferente para pessoas diferentes. Às vezes é descrita como querer se unir a Deus e à Sua paz. Isaías chama isso de "olhar para Deus": "Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os termos da terra" (Is. 45:22). Olhar pode parecer um ato de fé muito fraco, pois podemos olhar àquilo que não devemos aproximar nem tocar; podemos olhar a alguém a quem não temos coragem de falar. Contudo, Deus prometeu que aqueles que olharem para Ele com fé serão salvos do pecado. Isso é simplesmente evidenciado como olhar para Deus, querer ser unido a Deus. É dessa fé que a Bíblia fala ao se referir como "querer": "Quem quiser, tome de graça da água de vida" (Apoc. 22:17). Essa fé que olha para Deus também é descrita como ter "fome e sede de justiça" (Mat. 5:6).
Às vezes a fé é descrita com "dependendo do Senhor", 
ou"descansando" em Jesus Cristo. É colocada também como"confiando em Deus". Isaías nos diz que Deus conservará em paz perfeita aqueles cujas mentes estão fixas nEle, porque confiam nEle (Is. 26:3).
A fé também é descrita como "esperando por Deus". Deus prometeu: "os que confiam em mim não serão confundidos" (Is. 49:23). De fato, a Bíblia nos mostra claramente que Cristo pode fazer o bem aos pecadores segundo a necessidade deles. A fé nos leva a Cristo nos modos como Ele é descrito: quando ouvimos sobre Cristo como o pão da vida, a fé tem fome dEle;quando ouvimos sobre Cristo levantado da morte, a fé crê que Deus O levantou. A fé crê no nome de Jesus, conforme todos os modos em que Jesus é descrito.
Deixem-me repetir, entretanto, que nem todos experimentam a fé do mesmo modo ou com o mesmo ímpeto. No Novo Testamento Jesus fala de certas pessoas que tinham uma grande fé. Um caso desses é o centurião (Mat. 8:10). Dessas falas de Jesus podemos perceber que enquanto outros tinham a fé autêntica, nem todos tinham uma grande fé. Assim, não imaginem que a fé tenha que se mostrarem todas as formas que descrevi, a fim de ser real.
Lembrem-se também, que a fé varia em vigor, até na mesma pessoa. As vezes a fé de alguém está forte e pode ser facilmente percebida; depois pode se tornar fraca e a incredulidade se torna mais forte.
Então, a fé se evidencia de muitos modos; mas o que está no âmago da fé verdadeira é o seguinte: estar contente e satisfeito com o plano da salvação de Deus, através de Jesus Cristo. Quando alguém está agradecido pela morte de Cristo no lugar dos pecadores (o que significa que Deus pode, em justiça, perdoar pecadores), então aquela pessoa tem a fé que salva pecadores. A fé salvadora significa desistir totalmente de pensar em conseguir o favor de Deus por meio das obras, e em lugar disso, descansar no que Cristo fez para tomar sobre Si o castigo devido ao pecador. Essa fé está em todos os que nasceram de novo - em todo o verdadeiro cristão-mesmo que não seja evidenciada por todas as maneiras sobre as quais falei.
Assim, o que devemos perguntar a nós mesmos ésimplesmente o seguinte: estou satisfeito com o Senhor Jesus Cristo? Ele é aquele a quem dou mais valor do que a qualquer outra coisa? É precioso para mim, por ser o único caminho para Deus? Estar satisfeito com Jesus Cristo como aquele que carregou os nossos pecados e é o nosso único Salvador, é fé autêntica. Isso é crer com o coração. É estar satisfeito com o caminho de Deus para a salvação de pecadores através de Cristo; é concordar com o caminho de Deus para a salvação, e recebê-lo com alegria, através de Jesus Cristo. Deixem-me repetir, podemos saber se temos fé assim, pois não podemos ter dúvidas sobre isso se estamos descansando inteiramente em Jesus Cristo para nos levar a Deus, e se valorizamos o Senhor Jesus Cristo acima de todos e de tudo o mais. Aquele que crê desse modo não perecerá, mas terá "a vida eterna" (João 3:16).
Todavia, seria possível existir uma fé falsa que seja como averdadeira e tão parecida que não podemos perceber a diferença? Ora, muitos admiram Jesus hoje, assim como muitos creram nEle quando viram os milagres que fez. Como poderemos distinguir essa falsa fé, fé simulada, da fé genuína, verdadeira?
Primeiro, a fé falsa nunca desiste totalmente da idéia de que podemos ajudar, ao menos um pouco, em nossa própria salvação do pecado. Fé falsa faz com que as pessoas perguntem, como o homem em Lucas 10:25: "que farei para herdar a vida eterna?" A falsa fé também quer apegar-se a outras coisas além de Cristo. Assim, a falsa fé nunca confia completamente em Cristo, e somente em Cristo.
Em segundo lugar, pessoas com falsa fé não querem que Cristo as dirija, ou faça a paz entre elas e Deus em todos os tempos, ou ensine-as e as guie. A falsa fé de fato não recebe a Cristo como rei, sacerdote e profeta.
Em terceiro lugar, a falsa fé não está pronta a seguir a Cristo pelas agruras, perdas e sofrimentos. A fé verdadeira quer somente a Cristo, não importa o que custe.
Explicarei depois outras diferenças entre a fé autêntica e a falsa. Por exemplo, somente a fé autêntica tem o efeito de purificar a vida interna da pessoa (Atos 15:9). Onde houver fé autêntica, sempre haverá também todas as virtudes espirituais (Gal. 5:22-23). 


Fonte:[Josemar Bessa]

O Constrangedor Amor de Cristo - R. M. McCheyne (1813 - 1843)


                                                  
  "Porque o amor de Cristo nos constrange." — 2 Corintios 5:14

De todos os aspectos do caráter do apóstolo Paulo, a sua atividade incansável era a mais mar cante. Com base na sua história inicial, que nos conta acerca de seus esforços pessoais como assolador da Igreja Primitiva, quando ele era um injurioso blasfemador e perseguidor, fica muito claro que essa era a característica proeminente de sua mente natural. Mas quando agradou ao Senhor Jesus Cristo manifestar nele toda a Sua longanimidade e fazer dele um padrão para aqueles que de pois haveriam de crer n'Ele, é belo e muito instrutivo ver como as características naturais deste homem, atrevidamente mau, tornaram-se não somente santificadas, como também revigoradas e aumenta das. Verdadeiramente todo aquele que está em Cristo é uma nova criação, "as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo". "Em tudo somos atribulados, porém, não angustiados; perplexos, porém não desanimados; perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos", Tal era a figura fiel de Paulo depois de convertido. Co nhecendo os terrores do Senhor e a temível situação de todos os que estavam ainda em seus pecados, o alvo de sua vida era persuadir os homens. Ele lutava para que, se possível, recomendasse a verdade para as suas consciências. "Porque, se enlouquecemos é para Deus; e, se conservamos o juízo, é para vós", (versículo 13).

Não importa se o mundo nos considera sábios ou loucos, a causa de Deus e das almas humanas é aquela na qual estamos pondo todas as nossas energias. Quem, então, não estaria disposto a perguntar acerca da motivação de todos esses labores sobrenaturais? Quem não desejaria ter escutado dos próprios lábios de Paulo o princípio poderoso que o impelia através de tantas labutas e perigos Que fórmula mágica apossou-se dessa mente poderosa, ou que influência astrológica imperceptível, com poder incessante, encorajou-o a avançar através de todos os desalentos, fazendo-o indiferente tanto ao riso sarcástico do mundo como ao temor do homem;igualmente indiferente ao sorriso do cético ateniense, da carranca do luxurioso coríntio e da fúria do judeu de mente fechada? Que diz o próprio apóstolo? Temos sua explicação do mistério nas palavras seguintes: "O amor de Cristo nos constrange".
  O CONSTRANGEDOR AMOR DE CRISTO

  Desde que a morte de Cristo é apontada por todos como o exemplo de Seu amor, torna-se óbvio pela explicação seguinte que aqui se trata do Seu amor para com o homem e não do nosso amor para com Ele. (Veja 2 Coríntios 5:15). Foi a visão da extraordinária compaixão do Salvador, movendo-o a morrer pelos Seus inimigos, a sofrer tremendamente por todos os pecados deles e provar a morte por todos os homens, que deu a Paulo o impulso em cada combate, que tornou qualquer sofrimento leve para ele e fez com que nenhum mandamento lhe fosse pesado. Ele correu com paciência a carreira que lhe estava proposta. Por que? Porque -olhando para Jesus ele viveu como um homem "crucificado para o mundo e o mundo crucificado para ele". De que forma? Olhando para a cruz de Cristo.

Como o sol natural exerce uma poderosa e incessante atração sobre os planetas que giram ao seu redor, assim também fez o Sol da justiça, que de fato nascera no apóstolo Paulo, com um brilho superior ao do sol meridiano, exercendo sobre sua mente uma contínua e toda-poderosa energia, constrangendo-o a viver dali para frente não mais para si mesmo, e sim para Aquele que morrera e ressurgira por ele. Outrossim, observe que isso não foi uma atração temporária ou intermitente que se exer ceu sobre seu coração e vida, mas uma contínua e permanente atração. Ele não diz que o amor deCristo uma vez o constrangeu ou que o constrangeria, nem que nos momentos de emoção, de oração ou de devoção especial o amor de Cristo costumava constrangê-lo. O apóstolo disse simplesmente que o amor de Cristo o constrange. Ê o sempre presente, sempre permanente, sempre ativador poder que forma o motivo principal de todo o seu trabalho; de tal forma que, retirado isso, suas energias se vão embora e Paulo se torna fraco como os outros homens.

Lendo essas palavras, porventura haveria um coração desejoso de possuir tal princípio-mestre? Não haveria alguém que tenha chegado àquele estágio mais interessante da experiência cristã, no qual esteja suspirando por um poder para tornar-se novo? Você já entrou pela porta estreita da fé. Você já viu que não há paz para o não justificado e por tanto tens te revestido de Cristo como tua justiça e já sentes algo do gozo e paz do crente. Você pode olhar para tua vida do passado, sem Deus no mundo, sem Cristo no mundo e sem o Espírito no mundo; pode ver a ti mesmo como um condenado rechaçado e então diz: "Mesmo que lavasse minhas mãos em água de neve, ainda assim minhas próprias roupas me aborreceriam".  É verdade que você pode fazer tudo isso com vergonha e auto-reprovação, porém, sem desânimo e desespero, pois teus olhostêm sido erguidos com fé para Aquele que foi feito pecado por nós e você está persuadido de que, como agradou a Deus lançar todas as tuas iniquidades na conta do Salvador, assim Ele deseja e tem sempre desejado, atribuir toda a justiça do Salvador a você. Sem desespero, disse eu? Mais ainda, com gozo e cântico; pois, se na realidade crês de todo o coração, então chegaste à bem-aventurança daquele a quem Deus imputa justiça sem obras; o qual Davi descreve, dizendo: "Bem-aventurado é aquele cuja transgressão é perdoada, cujo pecado é coberto. Bem-aventurado é o homem a quem o Senhor nãoimputa iniqüidade". (Salmo 32:1-2).

  Esta é a paz do homem justificado. Mas esta paz é um estado de perfeita bem-aventurança? Não há mais nada a desejar? Eu apelo àqueles que sabem o que é ser justificado pela fé. Que é que ainda turva o semblante, que reprime a exultação do es­pírito? Por que nem sempre podemos participar na canção de ações de graças, "Bendiz o Senhor, ó minha alma e não te esqueças de nenhum de seus benefícios. É ele que perdoa todas as tuas iniquidades"? Se já recebemos o perdão dos nossos pecados, por que seria necessário argumentarmos como o salmista que clama: "Por que estás abatida ó minha alma e por que te perturbas em mim"? Meus amigos, entre vocês não existe um crente verdadeiro que tenha deixado de sentir este inquietante sentimento do qual estou falando. Pode haver alguns que o tenham sentido de maneira tão dolorosaque, como uma nuvem negra, tem obscurecído a doce luz da paz do evangelho e o brilho do rosto da pessoa reconciliada. O pensamento é este: "Sou um homem justificado, mas ai de mim! não sou um homem santificado, Posso olhar para minha vida pas sada sem desespero, mas como poderei olhar para frente, àquilo que está no futuro"?

Não há um panorama moral mais pitoresco em todo o universo do que o apresentado. por essa alma. Perdoadas todas as transgressões passadas, o olhar volta-se para o interior com uma clareza e imparcialidade desconhecidas anteriormente, e aí contempla suas afeições voltadas para o pecado as quais, como rios correntosos, já cavaram um canal profundo no coração. Também vê suas crises periódicas de paixão, outrora irresistível e sobrepujante como as marés do oceano junto com suas perversidades de temperamento e hábito, pervertidos e obstinados, como os ramos retorcidos de um carvalho impedido de crescer. Que cena temos aqui! que antecipação do futuro! que pressentimentos de uma luta em vão contra a tirania da concupiscência! contra a velha maneira de agir, de falar e de pensar! Não fosse a esperança da glória de Deus, que é um dos benefícios concedidos ao homem justificado, quem ficaria surpreso se esta visão de terror levasse o homem de volta, como um cachorro ao seu vômito, ou como a porca que foi lavada a mergulhar novamente no lamaçal?

É para o homem que está exatamente nessa situação, clamando dia e noite: como poderei me tornar novo? Que bem faz a mim o perdão dos pecados passados se não sou libertado do amor ao pecado? — é para esse homem que vamos agora, com todo o zelo e afeição indicar o exemplo de Paulo e o poderinterior que operou nele. "O amor de Cristo" (diz Paulo)   "nos constrange". Nós também somos homens que temos as mesmas paixões que vocês; aquela mesma visão que vocês vêem com desânimo dentro de si, foi revelada da mesma maneira para nós em todo o seu poder desencorajante. Contínua e re­petidamente a mesma visão horrível de nossos próprios corações se nos descortina. Mas temos um encorajamento que nunca falha. O amor do Salvador crucificado nos constrange. O Espírito é dado àqueles que crêem, e sendo Ele um agente todo-poderoso, tem um argumento que nos comove continuamente — o amor de Cristo.

Meu objetivo presente é mostrar como esse argumento, nas mãos do Espírito, realmente impulsiona o crente a viver para Deus; como a verdade simples do amor de Cristo para com o homem, de contínuo apresentado à mente pelo Espírito Santo, deveria habilitar qualquer homem a viver uma vida santa. Se existe algum homem entre vocês cuja grande interrogação é: "Como serei salvo do meu pecado ou de que maneira andarei como um filho de  Deus?estou ansioso para atrair seu ouvido ecoração mais que a todos os outros. 


 R. M. Mccheyne (1813 – 1843)




Fonte:[Josemar Bessa]
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