31 de jan. de 2012

O limite da fraqueza


“Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos.” 1 Co 9:22. Lendo este texto fico me perguntando se Paulo pensou em algum limite para esta fraqueza quando o escreveu. Também me pergunto se atualmente a suposta fraqueza de alguns efetivamente tem o objetivo santo de ganhar os fracos.
Até que ponto a pregação do evangelho tem que se sujeitar a modismos e ondas pós-modernas de dominação do mundo e principalmente do consciente e inconsciente coletivo? Será que a cruz precisa de estratégias agressivas de marketing como os produtos tecnológicos ou as cadeias de varejo? Será que a TV e os programas de auditório, antes tão atacados pelos cristãos tradicionalistas, agora são a mais indicada forma de se pregar o evangelho de Cristo? Boas perguntas.
Não consigo acreditar que Paulo toparia lançar oferendas para Iemanjá a fim de alcançar os seus devotos. Também não consigo imaginar que Paulo toparia subir num palco e cantar “ai se eu te pego” a fim de abrir caminho para o coração do pessoal da “tribo” do sertanejo universitário. Não acredito em discipulado feito virtualmente, não foi assim que Jesus fez. Também não creio que o evangelho precise de subterfúgios de entretenimento coletivo para “vender” sua mensagem. Até porque ele não precisa ser vendido, é gratuito.
Talvez o limite da fraqueza citada por Paulo seja o da pessoalidade. Se fazer de fraco não significa ser fraco, ou seja, não é necessário ser viciado em nada para ter o mínimo de empatia com aqueles que são. Do contrário, seguindo esta lógica, seríamos forçados a pecar para demonstrar amor aos que pecam. Jesus não pecou e ninguém amou mais o pecador que ele.
Outro ponto é o motivo explicitado por Paulo para este tipo de atitude, ganhar os fracos. Se fazer de fraco só tinha este objetivo. Como sempre a resposta está no motivo e não na ação em si. Não tenho dúvidas quanto aos objetivos de Paulo, sua vida traduziu na íntegra tudo o que ele pregou. E hoje? O motivo ainda é o mesmo? Estamos fazendo papel de tolos e fracos buscando as mesmas glórias de Paulo? Tenho lá minhas dúvidas. E quando digo isso não penso em ninguém mais além de mim. Meu coração é enganoso e falho. Vivo a várias centenas de anos distante de Paulo e do primeiro derramar do Espírito Santo. Tenho receio de, no mínimo, me perder na fraqueza enquanto tento ganhar os fracos. Acho melhor mostrar a fortaleza da rocha na qual procuro me firmar a cada novo dia.
Na maior parte das vezes acho que estamos abrindo mão da nossa responsabilidade na expansão do reino. A maior propaganda do evangelho deveria ser nossas vidas. Pregações ambulantes. Corpos cravejados de cicatrizes que provam a eficácia do evangelho. Vidas redimidas e limpas através do sangue de um cordeiro inocente. Mas ao invés disso, na maior parte do tempo, temos terceirizado nosso chamado para ícones do mundo gospel na esperança que eles preguem, discipulem e conduzam vidas até a cruz.
É difícil não ser pessimista quanto a eficácia dessa estratégia para o reino de Cristo. Continuo acreditando não haver comunhão entre luz e trevas.
O limite da fraqueza citada por Paulo é Jesus. Enquanto Ele for o ÚNICO caminho apontado por você ok, mas caso Ele se torne UM DOS, então você deixou de se fazer de fraco e passou a ser um deles.

25 de jan. de 2012

O Reino de Cristo

D. A. Carson

Jesus falou sobre o reino como algo que já havia começado. O reino já está aqui, operando em secreto. Ele é como fermento posto em uma massa; está operando quietamente e tendo seus efeitos. Contudo, em outros momentos, Jesus falou do reino como algo que vem no final, quando haverá consumação e transformação tremenda. Portanto, o reino já está presente; mas, visto de outra maneira, ele ainda não veio. Todas essas noções do reino centralizam-se em Jesus, o rei.

Depois da Segunda Guerra Mundial, um teólogo suíço chamado Oscar Cullmann usou um dos momentos decisivos da guerra para explicar algumas destas noções. Ele chamou atenção para o que aconteceu no Dia D, 6 de junho de 1944. Nesse tempo, os aliados do Ocidente já tinham expulsado os inimigos do Norte da África e começavam a penetrar a bota da Itália. Os russos estavam vindo das estepes. Já tinham defendido Stalingrado e avançavam para e através da Polônia e outros países da Europa Oriental. No Dia D, os aliados ocidentais chegaram às praias da Normandia e, em três dias, descarregaram 1,1 milhões de homens e inúmeras toneladas de material bélico. Havia uma segunda fronte do Ocidente. Toda pessoa inteligente podia ver que a guerra estava acabada. Afinal de contas, a guerra já estava acabada em termos de energia, material bélico, número de soldados e destinos para os quais todas essas frentes e trajetórias convergiam. Isso significou que Hitler disse: “Opa! Fiz o cálculo errado!” e pediu paz? O que aconteceu depois foi a Batalha do Bulge, na qual ele quase conquistou a costa da França novamente, mas recuou por falta de combustível. Depois, houve a Batalha de Berlim, que foi uma das mais sangrentas de toda a guerra. Portanto, a guerra ainda não estava terminada. Um ano depois, a guerra terminou finalmente na Europa, depois de os combatentes haverem atravessado esse grande intervalo entre o Dia D e o Dia da Vitória na Europa.

Cullmann disse que a experiência cristã é como essa guerra. O rei prometido veio. Este é o nosso Dia D: a vinda de Jesus, sua cruz e sua ressurreição. Depois de ressuscitar dos mortos, Jesus declarou, conforme os últimos versículos do evangelho de Mateus: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra” (Mt 28.18). Ele é o rei. Mas isso significa que o Diabo diz: “Opa! Fiz o cálculo errado! Acho que é melhor pedir paz”? Isso significa que os seres humanos dizem: “Bem, bem, você ressuscitou dos mortos. Você venceu. É melhor render-nos”? Não, o que isso significa é que você tem alguns dos mais violentos conflitos, porque Jesus ainda não derrotou todos os seus inimigos. Ele reina. Toda a soberania de Deus é mediada pelo rei Jesus. O reino já começou. Está aqui. Ou você está nesse reino, no sentido do novo nascimento, ou você está fora dele. Alternativamente, quando pensamos no reino total de Jesus (toda autoridade pertence a ele), você está nesse reino, quer goste quer não. A questão é se você se prostrará agora, alegremente, com arrependimento, fé e ações de graça, ou esperará até ao final para se prostrar em terror. O fim está chegando. O Dia da Vitoria cristã está chegando, e não há dúvida de quem será visto como Rei no último dia.

(Trecho do livro “O Deus Presente”, que será lançado pela Editora Fiel em fevereiro de 2012).

Fonte: [Blog Fiel]

Ore por paz para o Afeganistão

Ore pelo Afeganistão, o 2º país que mais persegue os cristãos no mundo, de acordo com a Classificação de Países por Perseguição de 2012

16 de jan. de 2012

Corações Cativos, Igreja Cativa


Por R. C. Sproul


Durante a Reforma Protestante, Martinho Lutero escreveu um pequeno livreto intitulado “O Cativeiro Babilônico Da Igreja”. Nele, Lutero comparou o regime opressor de Roma no século XVI ao suplício de Israel, enquanto era mantido cativo às margens dos rios da Babilônia.

Eu tenho freqüentemente me perguntado como Lutero se posicionaria em nossa presente era e no estado em que a igreja se encontra nos dias de hoje. Eu suspeito que ele escreveria para nosso tempo seu livro, sob o título "O Cativeiro Pelagiano da Igreja". Eu tenho tal suspeita pelo fato de que o próprio Lutero tenha considerado precisamente este como o livro mais importante que já redigiu, sua magnum opus, “A Escravidão da Vontade” (De Servo Arbítrio).

Penso também que Lutero enxergaria a grande ameaça para a igreja de hoje devido ao Pelagianismo, em razão do que se desenrolou depois da Reforma. Historiadores tem dito que apesar de Lutero ter vencido a batalha contra Erasmus no século XVI, ele a perdeu no século XVII e foi afinal demolido no século XVIII, graças às conquistas obtidas pelo Pelagianismo e pelo Iluminismo. Ele veria a igreja de hoje enlaçada pelo Pelagianismo, tendo assim este inimigo da fé conseguido estabelecer uma fortaleza sobre nós.

O Pelagianismo em sua forma pura foi pela primeira vez articulado pelo homem cujo nome cunhou seu ensino, um monge bretão do século Quarto. Pelágio envolveu-se em um feroz debate com Santo Agostinho, um debate provocado pela reação do monge à oração de Agostinho: "Ordena aquilo que Tu desejas, e conceda aquilo que Tu ordenas". Pelágio insistia que uma obrigação moral necessariamente implicava em capacidade moral. Se Deus exigia dos homens que estes vivessem vidas perfeitas então estes homens deveriam ter a capacidade de viver tais vidas perfeitas. Isto levou Pelágio a sua completa negação do pecado original 1. Ele insistia que a queda de Adão tinha afetado somente o homem Adão; não haveria a realidade da natureza humana caída e herdada que afligiria a humanidade. Além disso, refutava a idéia da necessidade da graça como necessária para a salvação; afirmava que o homem seria capaz de ser salvo por suas obras sem a necessidade de assistência da graça. O pensamento de Pelágio foi: a graça pode facilitar a obediência, mas não seria uma condição necessária para tal.

Agostinho triunfou em sua luta contra Pelágio, cujas visões foram conseqüentemente condenadas pela igreja. Ao condenar o Pelagianismo como heresia, a igreja veementemente confirmou a doutrina do pecado original. Na visão de Agostinho, isto sedimentou e alicerçou a noção de que apesar do homem caído ainda possuir um vontade livre no sentido que ele retém a capacidade de escolher, sua vontade é decaída e escravizada pelo pecado a tal ponto, em tamanha magnitude e extensão, que o homem não possui liberdade moral. O homem não pode não pecar.

Depois do encerramento do conflito, visões modificadas de Pelagianismo voltaram a assombrar a igreja. Essas visões foram aglutinadas sob o nome de semi-Pelagianismo. O semi-Pelagianismo admitiu a Queda como real e uma real transferência do Pecado Original para a descendência de Adão. O homem está arruinado e caído, e precisa da graça a fim de que seja salvo. Contudo, esta visão insiste que nós não estamos tão decaídos a ponto de nos encontrarmos totalmente escravizados pelo pecado ou totalmente depravados em nossa natureza. Uma ilha de justiça permanece no homem decaído por meio da qual tal pessoa ainda possui poder moral para inclinar-se, por si mesmo, sem a intervenção da graça operativa, em direção às coisas de Deus.

Apesar da igreja antiga ter condenado o semi-Pelagianismo tão vigorosamente quanto condenou o próprio Pelagianismo, ele de fato nunca morreu. No século dezesseis os magistrados reformadores ficaram convencidos que Roma havia se degenerado do puro Agostinianismo e abraçado o semi-Pelagianismo. Não é um detalhe histórico insignificante mencionar que o próprio Lutero tenha sido um monge da Ordem Agostiniana. Lutero viu em sua luta contra Erasmus e Roma, um retorno ao conflito titânico entre Agostinho e Pelágio.

No século dezoito, o pensamento Reformado foi desafiado pelo surgimento do Arminianismo, uma nova forma de semi-Pelagianismo. O Arminianismo conseguiu capturar o pensamento de proeminentes homens, como por exemplo John Wesley. A cisão doutrinária entre Wesley e George Whitefield focava-se neste aspecto. Whitefield enfileirou-se então para o lado de Jonathan Edwards na defesa do Agostinianismo clássico durante o "Grande Avivamento" norte-americano.

O século XIX testemunhou o reavivamento do Pelagianismo puro através dos ensinamentos e da pregação de Charles Finney. Finney não dosou palavras acerca de seu Pelagianismo escancarado. Finney rejeitou a doutrina do Pecado Original (junto com a visão ortodoxa da Expiação e a doutrina da Justificação Somente pela Fé). Mas a tremenda bem-sucedida metodologia evangelística de Finney de tal forma marcou e envolveu seu nome, que ele se tornou um modelo reverenciado pelos modernos evangelistas e ainda hoje comumente é considerado um herói da Fé Evangélica, a despeito de sua completa rejeição à própria doutrina evangélica.

Apesar da Fé Evangélica americana não ter abraçado o Pelagianismo puro e direto de Finney (fato que coube aos Liberais o fazerem), tal pensamento infectou profundamente o meio evangélico por meio do pensamento e da teologia semi-Pelagiana,a tal ponto que o semi-Pelagianismo é percebido ostensivamente nos dias modernos de forma aguda e profunda, em diversas camadas do pensamento teológico evangélico. Apesar da maioria dos evangélicos não hesitarem em afirmar que o homem caiu, poucos abraçam a doutrina reformada da Total Depravação.

Trinta anos atrás eu estava ensinando Teologia em uma faculdade evangélica que era pesadamente influenciada pelo semi-Pelagianismo. Eu estava trabalhando sobre os 5 pontos do Calvinismo usando o acróstico TULIP com uma classe com cerca de 30 alunos. Após apresentar uma extensa e detalhada exposição da doutrina da Total Depravação, eu perguntei à classe quantos deles estavam convencidos acerca da doutrina. Todos os 30 levantaram as mãos.

Eu sorri e disse: “Veremos...”

Eu escrevi o número 30 no canto esquerdo do quadro-negro. Enquanto eu prosseguia com a doutrina da eleição incondicional, muitos dos estudantes então começaram a pular e reagir. Fui subtraindo do número original 30 os que iam manifestando sua insatisfação e desacordo. Quando atingi a doutrina da Expiação Limitada, o número tinha caído de trinta para três.

Então eu tentei mostrar aos estudantes que se eles realmente abraçassem a doutrina da Total Depravação, então as outras doutrinas descritas nos 5 Pontos deveriam simplesmente na verdade ser consideradas como notas de rodapé. Os alunos logo descobriram que de fato eles realmente não acreditavam na total depravação do homem, no final das contas. Eles acreditavam em depravação, mas não no sentido total. Eles ainda desejavam reter a convicção sobre uma ilha de justiça que não tinha sido afetada pela Queda por meio da qual pecadores poderiam ainda manter uma capacidade moral para se inclinarem por si próprios a Deus. Eles acreditavam, sim, que a fim de ser regenerados, eles precisavam primeiro exercer fé por meio do exercício de suas vontades. Eles não criam que a divina e sobrenatural ação do Espírito Santo seria uma pré-condição necessária para fé.

Os autores da introdução ao ensaio sobre “A Escravidão da Vontade” escreveram:

“Qualquer um que terminar este livro sem ter percebido que a teologia evangélica mantém-se em pé ou cai com a doutrina da Escravidão da Vontade, o leu inutilmente. A doutrina da justificação livre unicamente pela fé, que se tornou o olho do furacão de tamanha controvérsia surgida no período da Reforma Protestante, é considerada com freqüência como o coração da Teologia dos Reformadores, mas isto é dificilmente preciso. A verdade é que o pensamento de tais homens estava realmente concentrado sobre esta contenda...que a completa salvação do pecador tem lugar pela livre e soberana graça unicamente...é pois a nossa salvação completamente da parte de Deus, ou a final de contas depende de algo que depende de nós mesmos? Aqueles que afirmam a segunda opção (os Arminianos o fazem) portanto negam a declarada incapacidade do homem advinda do pecado, e também confirmam que uma forma de semi-Pelagianismo é verdadeiro, de alguma maneira. Não é de se admirar, portanto, que a primitiva teologia Reformada condenou o Arminianismo, como sendo em princípio um retorno a Roma... e uma traição à Reforma... o Arminianismo foi, verdadeiramente, aos olhos dos Reformadores, uma renúncia ao Cristianismo do Novo Testamento em favor do Judaísmo neotestamentário; pelo fato de alguém se garantir a si mesmo por fé, não ser afinal diferente em nada do princípio de se repousar nas suas própria obras, sendo anti-Cristão tanto um pensamento quanto o outro”.

Estas são palavras severas. Verdadeiramente para alguns são até palavras contenciosas. Mas de uma coisa eu estou certo: elas espelham e refletem com precisão os sentimentos de Agostinho e dos Reformadores. A questão da magnitude e extensão do Pecado Original está atrelado inseparavelmente à nossa compreensão da doutrina da Sola Fide. Os Reformadores compreenderam claramente que existe uma imprescindível ligação entre Sola Fide e Sola Gratia. Justificação unicamente pela fé significa pela graça unicamente.

Assim sendo, o semi-Pelagianismo em seu formato Erasmiano cria uma ruptura entre as duas e apaga o fator SOLA do temo Sola Gratia.

NOTAS:
1. Entenda-se pelo termo teológico PECADO ORIGINAL, não o próprio ato de desobediência que Adão e Eva cometeram no jardim, ao comerem do fruto da árvore sobre a qual o Senhor Deus os havia advertido, mas às conseqüências abrangentes deste ato sobre toda a sua posteridade.

Fonte: Josemar Bessa Via: [Ministério Batista Beréia]

13 de jan. de 2012

Quando é que o crente de berço é salvo?




Por Maurício Zágari


Eu fui convertido muito tarde na minha vida, já com 24 anos. O curioso é que estudei numa escola de padres dos 10 aos 17 anos e lá tínhamos aula de religião semanalmente. Ou seja, com 18 anos eu conhecia as histórias da Biblia de trás pra frente. Repare no verbo que eu usei: conhecia. Depois, com 18 para 19 anos comecei a frequentar uma igreja de uma certa denominação evangélica tradicional. Gostava dos cultos, achava o pessoal legal e até tocava baixo no grupo de louvor. Mas não vivia em novidade de vida. Não compreendia o Evangelho. Repare no verbo que eu usei: compreendia. Às vezes me pegava me digladiando com o pastor por questões como “por que Jesus cria um pessoa se já sabe que antes de criá-lá que ela vai ao inferno?” ou “por que Jesus teve de sofrer e morrer pra nos salvar, não bastava um decreto divino?”. Eu era intelectualmente interessado pelo Evangelho. A Bíblia pra mim era uma questão cerebral. Com o início da minha vida profissional afastei-me daquela igreja e passei a me dedicar muito à profissão. Até que, enfim, com 24 anos, numa denominaçao pentecostal, fui alcançado pela graça de Deus, após um longo processo de dor (que não cabe relatar aqui agora) e ali eu passei a viver o Evangelho. Repare no verbo que usei: viver.


Então, hoje eu vejo por experiência própria que existe uma grande diferença entre aqueles que frequentam uma igreja: há os que conhecem, os que compreendem e os que vivem Cristo.


Isso me remete aos cristãos de berço. Aqueles que nasceram em lar evangélico. Frequentam a igreja desde sempre, sabem as bistórias da Biblia porque foram à escolinha bíblica infantil, aceitam o sacrifício salvifico de Jesus mas… em que momento de fato são salvos? Porque eu olho em volta e vejo “cristãos”, muitos deles até filhos, netos e parentes de pastores, que não demonstram em suas vidas fruto do Espirito. Não têm paciência. Domínio próprio é algo de que só ouviram falar vagamente Nao promovem a paz, amam uma discussãozinha e uma contenda. E por aí vai.


Além disso, não mostram postura cristã. Nao pacificam, mas botam sempre lenha na fogueira. São insubmissos, rebeldes, respondões, não respeitam seus cônjuges, não oram, não leem a Bíblia, têm zero de devocionalidade, são iracundos… Enfim, podem até não roubar ou matar (o que um bom ateu também não faz) mas não demonstram o comportamento mínimo esperado de um cristão. Não investem tempo orando pelos filhos. Brigam intempestivamente por qualquer coisa. Falam mal dos outros pelas costas. São fofoqueiros. Dificilmente resolvem uma diferença com argumentos e diálogo, mas sim com birras, brigas e bate-bocas. Mas todo domingo, por puro hábito, batem seu cartãozinho de ponto no culto da igreja porque, afinal, foi o que lhes ensinaram que é o certo a fazer. E acham que Deus está feliz da vida com eles – afinal, são de berço evangélico e batizados. Conhecem e compreendem. “Uhu, Jesus me ama”. Mas não vivem esse Jesus.


Como eu passei por essas três fases e conheço bem cada uma e o comportamento de quem se encaixa em cada uma, cometeria a ousadia de dizer que os tais não são salvos. Porque é como diz Tiago 2.18, “Mas alguém dirá: “Você tem fé; eu tenho obras”. Mostre-me a sua fé sem obras, e eu lhe mostrarei a minha fé pelas obras.” E mais: “Você crê que existe um só Deus? Muito bem! Até mesmo os demônios creem – e tremem!” (Tg 2.19) Os demônios creem! E tremem! Mas isso é o mínimo. Porque, vamos combinar, fazer uma profissão de fé e se batizar é acoisa mais fácil que tem. Frequentar cultos… basta sentar num banco e às vezes ficar de pé. Agora… viver conforme Cristo determinou no dia a dia, na sua casa, no seu trabalho, com sua família e com os colegas de profissão, no supermercado e no shopping são outros quinhentos bem diferentes. Como o crente de berço reage quando alguém o ofnde? Ou quando pede algo ao chefe no trabalho e recebe um “não”? Ou quando o professor o trata com injustiça na sala de aula?


Abrir mão da sua natureza respondona, egoísta, insubmissa às autoridades, materialista, mimada e tomar a cruz para seguir Cristo, isso sim é o que eu quero ver. Aliás, eu não, Deus.


Muitos e muitos e muitos crentes de berço estarão entre os que no grande e temível dia dirão: “Senhor, Senhor”. E aqui me permitam fazer uma paráfrase apócrifa da Biblia. Os tais chegarão e dirão: “Senhor, nasci de pais cristãos, fui apresentado como bebê na igreja, frequentei os cultos e as escolinhas, fui aos retiros, trabalhei até em departamentos, casei virgem, chorei com as mãos levantadas na hora do louvor e de vez em quando até fazia uma oração”. E, mais uma vez, me atrevo à ousadia de parafrasear apocrifamente o texto das Escrituras e imagino que Jesus responderia: “Você me conhecia e compreendia, mas não me viveu. Pois a cada vez que te chamei para conversar em oração você preferiu ver televisão. Cada vez que você tinha de se submeter às decisões do seu superior hierárquico no trabalho, em casa ou na igreja você o tratou com respostas agressivas e rebeldia. Cada vez que te chamei para ouvir a minha voz você ignorou minha Palavra e preferiu ir ao shopping do que ler as Escrituras. Cada vez que te toquei para ouvir alguém em sofrimento você concluiu que alguma outra pessoa podia fazer isso no seu lugar. Cada vez que você ou um dos teus ficou doente sempre o médico era lembrado antes da oração. Cada vez que te chamei para ler livros que falam sobre mim você deu uma desculpa para não ler e assim aprender mais sobre o padrão de comportamento que Eu queria que você seguisse. Cada vez que te chamei para uma vida de devocionalidade diária você se entregou a uma rotina de atividades materialistas e tinha sempre uma desculpa. Cada vez que te chamei para tirar momentos de reflexão e meditação sobre minhas Escrituras e como aquilo afetava seu comportamento em família, no trabalho ou mesmo em sociedade você preferiu ir ao salão fazer unha, malhar na academia ou simplesmente ficar sem fazer nada”. Ao fim do que o Senhor diria: “Logo, apartai-vos de mim, pois nunca vos conheci”.


A coisa é séria. Se você percebe que na sua igreja há crentes de berço cuja forma de proceder faz o termo “crente” te fazer perguntar “mas crente em quê?” e não são salvos, evangelize-os! Pregue o Evangelho para eles. E repare que não estou dizendo nem “discipule-os”, mas “evangelize-os”. Pois o discipulado vem após a conversão e se esforçar por discipular quem não passou pelo novo nascimento é pura perda de tempo. Pois não se discipula ossos secos. Primeiro a carne tem de cobri-los e por fim o discipulado será feito.


Não adianta tentarmos nos enganar. Há muitos frequentadores de igrejas desde a época em que usavam fraldas, a quem chamamos “irmãos em Cristo”, que não são nossos irmãos em Cristo. Não passaram da morte para a vida. Não estão dispostos a tomar sua Cruz para seguir Cristo. Querem uma vida de moleza. E também moleza espiritual. “Sou crente mesmo, batizado, vou aos cultos, então tá tudo certo”. E mal sabem que no final vão para o inferno.


Duras palavras? E desde quando Jesus disse que a coisa seria fácil?


Diante disso, o que fazer? Orar, meus irmãos. Orar pelos perdidos: aqueles que estão perdidos fora mas também dentro das igrejas. Orar pela conversão dos crentes de berço que conhecem e compreendem mas não vivem. Orar pela salvação da pessoa que está ao teu lado no banco da igreja. Você não sabe. Mas ela pode estar cantando todos os louvores de cor e caminhando a passos largos para o abismo, simplesmente porque vive ela, mas Cristo não vive nela.


E que Deus tenha misericórdia de cada um de nós.


Paz a todos vocês que estão em Cristo.


Fonte: Apenas Via: [Ministério Batista Beréia]

12 de jan. de 2012

Moldando a cultura do seu lar

por Trevin Wax
Trevin Wax
por Trevin Wax
Produzir cultura, influenciar a cultura, transformar as cidades – os evangélicos têm falado muito sobre esses assuntos já há alguns anos. Grande parte do foco tem sido direcionada para o envolvimento político, a renovação dos centros urbanos ou a produção de arte que reflita a beleza e a glória de Deus.
Infelizmente, quando se trata de produção cultural, somos tão aptos para pensar grande que empregamos nossa energia em áreas nas quais normalmente temos pouca influência. Como resultado disso, perdemos oportunidades de sermos agentes de transformação no lugar em que temos mais influência direta: nossos lares.

Avaliando a cultura de um lar

Alguns anos atrás, eu trabalhei como tutor subsidiado pelo governo para crianças do ensino fundamental que estavam com dificuldades de acompanhar o ritmo dos estudos. Durante vários meses, gastei muitas horas por semana com oito crianças diferentes. Não sou um psicólogo e admito que as minhas primeiras impressões talvez estejam equivocadas, mas ao observar essas famílias durante esse período de vários meses foi o suficiente para me ajudar a formular algumas impressões sobre a dinâmica familiar.
  • Em uma das casas, a tensão entre os membros da família era tão palpável que eu não via a hora de ir embora. E imagino que a criança que eu estava ajudando também adoraria fugir de lá.
  • Em outro lar, a casa era tão bagunçada e suja que não era de se surpreender que o senso de desorganização fora transferido para a pequena garotinha, que tentava ao máximo melhorar suas notas, apesar do caos que a cercava.
  • Em outro, uma família fruto de segundos casamentos, os pais e os filhos estavam juntos fisicamente, mas não emocionalmente, principalmente porque o homem e a mulher ainda não haviam, de fato, casado.
Em cada casa havia sinais do que era priorizado. Desde os móveis aos bichos de estimação e a tecnologia – era fácil perceber a dinâmica da família e a cultura do lar.
Desde essa época, eu tenho me perguntando como os visitantes poderiam avaliar a dinâmica do nosso lar. Se houvesse câmeras filmadoras escondidas em todos os cantos, que imagem isso passaria? Que tipo de cultura estamos criando? Como é a atmosfera do nosso lar? O que as “coisas” do nosso lar comunicam aos nossos filhos (e aos outros) sobre o que pensamos ser importante?

Artefatos culturais

Uma das formas mais sutis em moldamos a cultura de nossos lares é através do uso proposital de artefatos culturais. Um objeto cultural (como a mesa da cozinha, por exemplo) retrata algo sobre o mundo: a comida é essencial para a vida humana. E também carrega algumas impressões sobre como o mundo deveria ser: a comida deve ser consumida em família, em comunhão.
Eu me lembro da minha surpresa ao ler algumas pesquisas recentes sobre como ter muitos livros em casa pode melhorar a educação das crianças. Estudos sugerem que o impacto se deve à “cultura escolar” dos lares. A mera presença da literatura no lar pode ter um profundo impacto na família.
Brinquedos, eletrônicos e decorações ajudam a moldar (direta ou indiretamente) a cultura de nossos lares. Digamos que você tem um filho, pequeno, e você visita uma casa onde há itens delicados de decoração e porcelana chinesa por todos os lados. A chance de você passar a visita inteira em alerta é grande. Os anfitriões podem ser calorosos e receptivos, mas os objetos do ambiente criam uma atmosfera que diz “crianças não são bem vindas”.
Considere o lugar da televisão. Há 10 anos, quando meus pais se mudaram para uma casa nova, eles decidiram cobrir a TV da “sala grande” com um enorme retrato da família. Agora, sempre que a família se reúne e passa algum tempo na sala de estar, não nos distraímos com o “ruído” constante da TV ao fundo. Nós focamos uns nos outros. A decisão de cobrir a TV com o retrato da família criou uma atmosfera que priorizava a família e os relacionamentos, ao invés do entretenimento.

Possibilidades e impossibilidades

Diferentes famílias chegam a diferentes conclusões sobre como podem moldar a cultura de seus lares. Não há regras simples e diretas. Mas é, pelo menos, de algum uso, pensar nas possibilidades e impossibilidades criadas pelos objetos culturais que trazemos aos nossos lares.
  • Para alguns, um smartphone torna possível a comunicação constante. Ao mesmo tempo, um smartphone torna quase impossível dar atenção exclusiva a qualquer coisa ao seu redor.
  • Para outros, o Nintendo Wii é uma boa aquisição para o lar, pois possibilita que as famílias joguem juntas, como muitas faziam com os jogos de carta e de tabuleiros há algumas gerações. Muitas dessas mesmas famílias vão rejeitar o Nintendo DS pelo potencial de isolar os membros da família uns dos outros e levar as crianças menores a algum nível de vício. Outras famílias simplesmente proibirão os jogos eletrônicos.
  • Para algumas famílias, é importante que a sala de estar seja grande e aconchegante, mesmo que isso signifique ter quartos menores que o normal, para cultivar mais “tempo em família”. Para outros, quartos grandes com banheiro são importantes, para poder receber visitas que passam a noite.

Uma atmosfera de graça

Como pais cristãos, não só somos responsáveis por pensar com cuidado nos artefatos culturais que trazemos aos nossos lares. Também somos responsáveis por cultivar uma atmosfera de graça. É por isso que devemos estar sempre prontos a confessar abertamente nossos pecados para os outros e também para perdoar.
É fácil para muitos pais pensar que admitir erros e pecados é um sinal de fraqueza que a criança vai explorar. Mas ao falharmos em confessar nossos pecados, nós, de forma não intencional, criamos uma cultura de rancor. Nossas crianças aprendem rapidamente a imitar a forma em que transferimos a culpa de nós para os outros e tentamos justificar nossas ações. Quando reclamamos e somos impacientes, eles reclamam e são impacientes. É muito fácil que a cultura de um lar se degenere rapidamente em períodos de isolamento e silêncio, ao invés de momentos de comunhão, lazer e liberdade, reflexos do evangelho sendo aplicado aos nossos corações.

Molde a sua cultura

Moldar a cultura de um lar é um trabalho pesado. É um processo contínuo que demanda planejamento cuidadoso e atenção constante. Muitas vezes não pensamos no impacto que as nossas decisões terão na cultura do lar até que já as tenhamos tomado. Minha esposa e eu ainda estamos descobrindo como fazer isso. Mas, pela graça de Deus, temos tentado criar uma atmosfera de desenvolvimento humano, onde o contentamento é constante e o amor de Deus é palpável.
Traduzido por Filipe Schulz | iPródigo.com | Original aqui
Fonte: [iPródigo]

Cristã somali é açoitada em público

Uma cristã somali, ex-muçulmana, foi levada para uma via pública, onde foi açoitada como punição por ela acreditar em uma “religião estrangeira”, o cristianismo, e deixar o Islã, segundo informações das fontes.
Sofia Osman, uma cristã de 28 anos de idade, que mora na região de Shabelle, tinha sido levada sob custódia por extremistas islâmicos do grupo Al Shabbab, e quando foi libertada foi açoitada em público.
Ela recebeu a punição de 40 chibatadas no dia 22 de dezembro, enquanto a multidão de espectadores apoiava o castigo que Sofia estava recebendo.
“Sofia foi chicoteada durante 3 horas, mas ela não disse para nós depois quais foram  outras humilhações ela passou enquanto esteve presa”, disseram amigos da vítima. Uma testemunha ocular disse ao Compass que a punição fez com que Sofia sangrasse muito e perdesse a consciência.
A punição foi realizada na frente de centenas de espectadores logo após Sofia ter sido libertada, após ela permanecer presa por um mês nos campos-prisões do Al Shabbab.
“Após ser solta e receber a punição, ela estava sendo tratada em sua própria casa pelos seus familiares. Ela não estava conseguindo conversar com ninguém e parecia muito confusa”, disse uma fonte próxima da família. “Por favor, orem para que a sua recuperação seja rápida”, disse a fonte.
Sofia é cristã há mais de 4 anos e era membro de uma igreja subterrânea que fica em uma cidade que foi devastada por uma das guerras que ocorreram na Somália. A região também é muito dominada pelo maior  grupo extremista islâmico do país, o Al Shabbab.
FonteCompass Direct
TraduçãoLucas Gregório 

11 de jan. de 2012

Cristãos são atacados e mortos na Nigéria

Intensificação de assasinatos anti-cristãos na Nigéria sugerem uma " limpeza étnica e religiosa sistemática", de acordo com os líderes do país igreja. A violência já matou mais de 30 pessoas no país.

"Eu estava liderando a congregação em orações. Nossos olhos estavam fechados quando alguns homens armados invadiram a igreja e abriram fogo contra a congregação”, disse o pastor nigeriano  Johnson Jauro.
Ayo Oritsejafor, diretor da Associação Cristã da Nigéria, disse neste sábado (07 janeiro) que os líderes da igreja haviam realizado uma reunião de emergência sobre os ataques crescentes que estão ocorrendo contra os cristãos nigerianos.
Pelo menos oito cristãos foram mortos quando homens armados invadiram uma igreja em Gombe, capital do Estado de Gombe, durante uma reunião de oração na quinta-feira à noite (05 de janeiro).
No dia seguinte, cerca de 20 cristãos foram mortos a tiros em Mubi, estado de Adamawa. Eles se reuniram para lamentar a morte de outro cristão que havia sido morrido na noite anterior. Os agressores gritavam "Deus é grande", enquanto eles dispararam contra os fiéis. Eles também carregavam facas e bastões.
Então na noite de sábado (07 de janeiro), três pessoas suspeitas de serem cristãos foram mortos a tiros na cidade norte-oriental do Biu.
Um porta-voz do Boko Haram reivindicou ataques após o ultimato de três dias, que expirou na quarta-feira (04 de janeiro).
O Boko Haram está lutando para criar um estado islâmico e impor a lei sharia. O grupo foi responsável por mais de 500 mortes em relação ao ano passado.
O grupo estava por trás de uma série de ataques contra igrejas e outros alvos em cinco estados durante o Natal, que deixou mais de 40 mortos e levou o presidente Goodluck Jonathan a declarar estado de emergência nas áreas mais problemáticas.
FonteBarnabas Fund
TraduçãoLuciana Azevedo  Via: [Portas Abertas]

O Dever Moral de Estudarmos Teologia .

Por Rev. Ewerton B. Tokashiki
Existe um senso de responsabilidade para estudarmos a teologia? Quem precisa de teologia? São perguntas que precisam ser respondidas.
Cada ser humano é um ser moral. Todos têm o dever de estudar e crer nos ensinos da Escritura Sagrada. John L. Dagg comenta que as faculdades morais com as quais o homem foi dotado adaptam-no para um estado de sujeição ao governo moral. Nossas mentes foram constituídas de tal maneira que somos capazes de perceber uma certa qualidade moral nas ações, podendo nós aprová-las ou desaprová-las. A consciência de termos feito o que é direito oferece-nos um de nossos mais elevados prazeres; a angústia do remorso, por causa de alguma maldade praticada é tão intolerável como qualquer outro sofrimento ao qual o coração humano é susceptível.
A nossa consciência exerce um certo governo moral, recompensando-nos ou castigando-nos pelas nossas ações, de acordo com o seu caráter moral. Grande parcela de nossa felicidade depende da aprovação daqueles com quem estamos associados. E assim, encontramos o governo moral tanto fora como dentro de nós mesmos; a cada ponto, em nossas relações com outros seres inteligentes, sentimos as restrições desse império moral. Onde se acham os limites do governo moral? Eles precisam ser tão extensos quanto as nossas relações com outros seres morais e tão duradouros como a nossa própria existência. (...) Na qualidade de seres religiosos, procuremos compreender as verdades da religião. Na qualidade de seres dotados de imortalidade, esforcemo-nos por nos familiarizar com a doutrina da qual depende a nossa felicidade eterna. Tenhamos o cuidado para não aceitar essa verdade com um frio entendimento, mas de tal maneira que o seu pode renovador jamais cesse de atuar em nossos corações. [1]
Não podemos ignorar que existe um disseminado sentimento negativo contra o estudo sistemático das Escrituras. Em alguns redutos evangélicos esta mentalidade é difundida e confundida com a verdadeira espiritualidade. Uma espiritualidade irracional, em que o Espírito Santo somente age onde a mente não atrapalha! Isto é um dos resultados pós-modernos do existencialismo, que é uma reação tardia ao racionalismo. Este “sentir” e “experimentar” tem se tornado o critério da verdade, que passa a ser subjetiva e não verificável. Assim, a sociedade pós-moderna tem seu cenário preparado por esta sutil mentalidade. Este sentimentalismo rejeita qualquer elaboração doutrinária que dependa da lógica, como se esta fosse algo puramente carnal, e não uma dádiva de Deus, para o correto raciocínio das matérias sagradas. John R.W. Stott escreveu que “crer é também pensar”.
O presbiteriano escocês James Orr, seguindo este mesmo raciocínio, há tempos observa que todos devem estar cientes de que há nos dias de hoje um grande preconceito contra doutrina – ou, como é muitas vezes chamada – “dogma” – na religião; uma grande desconfiança e aversão ao pensamento claro e sistemático a respeito de coisas divinas. Os homens preferem, não se pode deixar de notar, viver em uma região de nebulosidade e indefinição com relação a esses assuntos. Querem que seu pensamento seja fluido e indefinido – algo que possa ser mudado com os tempos, e com as novas luzes que eles acham estarem constantemente aparecendo para iluminá-los, continuamente adquirindo novas formas e deixando o que é velho para trás. [2]
O preconceito contra a dogmática não acabou apesar de James Orr ter feito esta afirmação há um século atrás. A verdadeira espiritualidade é ensinada em alguns círculos evangélicos como se fosse algo despido de teologia. Teólogos recentes como Stanley J. Grenz e Roger E. Olson também fazem o mesmo desabafo realizamos numerosos retiros, seminários e oficinas para cristãos leigos e pastores e notamos que estão abertos para o estudo sério e para a reflexão sobre a Palavra de Deus à luz de temas atuais. Verificamos, porém, um fenômeno estranho: entre as mesmas pessoas famintas de entendimento e que contribuem com descobertas maravilhosas alastra-se a frieza tão logo se pronuncie a palavra “teologia”. [3] 

Mas, qual é a resposta para a fatídica questão: quem precisa de teologia? Embora a resposta possa parecer um tanto que estranha, ela é simples: todos! Não somente cristãos, mas os incrédulos, ateus, agnósticos, e demais adeptos de qualquer religião não cristã! Todos precisam ouvir de forma inteligente e coordenada a clara e vigorosa pregação do Evangelho. A teologia trabalha com a sistematização da revelação registrada: a Escritura Sagrada. Todos têm o dever e a necessidade de aprender do único e verdadeiro Deus. O Senhor se revela de modo geral a todos (Sl 19:1-6).
Mas, Ele também se revela de modo especial, através das Escrituras (Sl 19:7-14). Entretanto, este segundo modo de Deus se dar a conhecer não deve ser restrito aos que crêem nEle. A principal diferença destes dois modos de Deus se revelar, é que a revelação especial é proposicional, enquanto que a geral não o é, mas o conteúdo da revelação, independentemente do seu modo, tem o propósito de que todos conheçam o seu Ser, e tremam diante da Sua majestade. Todos precisam de uma cosmovisão que seja fiel àquilo que a Bíblia, que é a Palavra de Deus diz.
Curiosamente esta rejeição da teologia não torna o indivíduo isento de ser um teólogo! A diferença não é entre teólogos e não-teólogos, mas entre teólogos acadêmicos e pragmáticos, teólogos coerentes e outros inconsistentes. O fato de um animal não reconhecer o seu próprio reflexo diante de um espelho, não significa que aquilo que vê seja outro animal! Do mesmo modo, alguém que despreza a “teologia” não anula o fato que ele seja um teólogo! Por isso, todos são teólogos. Grenz e Olson nos adverte que “ninguém que reflita sobre as perguntas cruciais da vida escapa de fazer teologia. E qualquer um que reflita sobre as questões fundamentais da vida – incluindo perguntas sobre Deus e nossa relação com ele – é teólogo”. [4] Neste sentido até mesmo os ateus são teólogos, por desejarem negar esta relação através dum raciocínio falacioso sustentando que Deus não existe.
Alguns cristãos crêem que a sua sinceridade os livrará do erro doutrinário. Freqüentemente tenho a impressão de que os crentes em geral consideram a sinceridade de atitude como sendo mais importante do que o conteúdo da crença. Não se deprecia a necessidade de ser sincero; nenhuma pessoa sensata crê que a sinceridade deva substituir o conhecimento da verdade, pois elas não estão em contradição. O resultado desastroso de se crer numa falsidade, não importando quão sincera seja a pessoa, é que quanto maior for o grau da sinceridade, mais horrendas serão as conseqüências. Toda crença tem conseqüência, e uma convicção errada sustentada com sinceridade trás dolorosas seqüelas.
Esta rejeição em alguns cristãos existe porque os seus pastores implantam-na.
Felizmente, temos pastores defendendo a necessidade de se estudar sistematicamente teologia com a igreja, mas que por falta de sabedoria, ou preparo adequado, usam uma linguagem técnica pesada e indigerível para a maioria das pessoas. Acabam exercendo o seu pedantismo teológico criando um enorme abismo entre os crentes e o estudo proveitoso da teologia. O pedantismo deve ser rejeitado como uma manifestação do orgulho (1 Co 8:1), mas o saber responsável da teologia é uma necessidade vital para a saúde da igreja.
Mas, por outro lado há pastores que após o término do seu curso teológico, abandonam o estudo sério. Outros tomam uma atitude pior, desprezam todo estudo na pseudopiedade de uma versão distorcida do “somente a Escritura”. Acerca disto Lewis S. Shafer comenta que como bem poderia um médico descartar os seus livros de anatomia e terapêutica assim também o pregador pode rejeitar os seus livros sobre Teologia Sistemática; e visto que a doutrina é a estrutura óssea da verdade revelada, a sua negligência deve resultar numa mensagem caracterizada por incerteza, imprecisão e imaturidade.[1] 

Aos presbíteros docentes, Deus os chamou para serem pastores-mestres (Ef 4:11). Pastorear não é somente visitação! É zelar da igreja e alimentá-la com a substanciosa Palavra de Deus. É nutrir o rebanho com alimento que procede da “boca de Deus” (Dt 8:3). Todo trabalho pastoral depende direta e indiretamente do correto manuseio da Palavra de Deus. Entretanto, há pastores que embora não desprezam a teologia, falam dela como se fosse um acessório do ministério pastoral e da igreja, que pode ser facilmente ignorado, ou usado só quando for realmente necessário! Essa dicotomia não somente é estranha, mas confusa. O fato de não usarmos a linguagem técnica teológica, não significa que estamos com isso abandonando a teologia.
O apóstolo Pedro nos ordena “santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós "(1 Pe 3:15). Segundo este texto, a formulação teológica em seu dever moral deve indispensavelmente conter:
  1. santificação (santificai a Cristo)
  2. submissão (Cristo como Senhor)
  3. coerência no todo (em vosso coração)
  4. diligência (sempre preparados)
  5. raciocínio [coordenado] (para responder)
  6. experiência (há em vós)
A teologia é uma exigência inevitável para se exercer a inteligência cristã. A teologia tem o objetivo de fornecer a relação sistematizada de informações extraídas da Bíblia. A verdade deve sempre ser tratada com um raciocínio coordenado para produzirmos respostas claras e inteligíveis, porque crer é também pensar. O filósofo cristão Gordon H. Clark observa que o inquiridor pergunta por uma razão, ou, como podemos dizer, ele pergunta pela lógica de nossa esperança; e precisamos estar preparados para dar a lógica e razão da nossa fé. Não somente conceder tal réplica, mas manter com santa dignidade e importância a mensagem cristã, e as perguntas que nos são feitas, tornando-as uma oportunidade que não podem ser desperdiçadas. [6]
A teologia é o resultado confessional de nossa cosmovisão. Cada cristão deve ser capaz de expor com síntese, mas com conteúdo, o que crê. Como entendemos e interpretamos a realidade ao nosso derredor? Posso ter certeza do que conheço? De que modo aceitamos os acontecimentos que produzem o sofrimento? Que significado tem a minha existência?
Vigiemos contra o nosso sutil orgulho. O saber é para servir a Deus e edificar a Igreja. O princípio “maior é o que serve” continua irrevogável. A falta de humildade demonstrará uma teologia enferma (1 Co 8:1-3). Não podemos esquecer que o Deus imutável ainda resiste ao soberbo, mesmo em sua forma pedante. Se a nossa teologia não produz humildade e santificação, certamente ela não procede de Deus e não edificará a sua Igreja.
Uma teologia que não pode ser orada, é uma teologia impossível de ser praticada, e que não deve ser ensinada. Estudar a sistematização das doutrinas da Escritura Sagrada deve resultar em santificação. John L. Dagg observa que o estudo da verdade religiosa deveria ser empreendido e continuado com base no senso de dever, tendo como escopo o aprimoramento do coração. Uma vez aprendida, essa verdade não deveria ser guardada em uma estante, como se fosse um objeto de pesquisa; mas deveria ser implantada profundamente no coração, onde o seu poder santificador pode ser sentido. Estudar teologia com o propósito de satisfazer à curiosidade ou de preparar-se para uma profissão, seria um abuso, uma profanação daquilo que precisa ser considerado como extremamente santo. [7]
Todo o cuidado com o odium theologicum ainda é pouco! Ao adotar uma posição o estudante de teologia não deve alimentar um sentimento de inimizade ao tratar as demais opiniões contrárias. O sumário de toda sistematização da Escritura foi concedida pelo Senhor Jesus quando disse: “amarás ao Senhor, teu Deus... e o teu próximo como a ti mesmo” (Mc 12:29-31). Qualquer teologia que se desvie deste princípio, errou o alvo!
_________________________
Fonte: 
1ª Igreja Presbiteriana de Porto Velho
Sobre o autor: Rev. Ewerton B. Tokashiki é pastor da Igreja Presbiteriana de Porto Velho e professor de Teologia Sistemática no Seminário Presbiteriano Brasil Central – extensão Ji-paraná-RO, e de Teologia da Reforma e Seminários Temáticos (Cosmovisão e Pós-modernismo) na Faculdade Metodista de Teologia de Porto Velho.
Notas:
[1] John L. Dagg, Manual de Teologia (São José dos Campos, Ed. Fiel, 1989), p. 4-5.
[2] James Orr, Sidelights on Christian Doctrine (New York, AC. Armstrong and Sons, 1909), p. 3
[3] Stanley J. Grenz & Roger E. Olson, Quem Precisa de Teologia? (São Paulo, Ed. Vida, 2002), p. 9
[4] Stanley J. Grenz & Roger E. Olson, Quem Precisa de Teologia?, p. 14 
[5] Lewis S. Shafer, Teologia Sistemática (São Paulo, Ed. Hagnos, 2003), vol. 1-2, p. 5 
[6] Gordon H. Clark, Peter Speaks Today – A Devotional Commentary on First Peter(Philadelphia, Presbyterian and Reformed Publishing CO., 1967), p. 118 
[8] John L. Dagg, Manual de Teologia , p. 1.

Extraído do site: [ Eleitos de Deus ]  Via: [Bereianos]
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