4 de ago. de 2010

Theologia crucis



Por: James Montgomery Boice

É impossível superestimar a importância da cruz de Cristo. Pois se pensamos a respeito da necessidade da cruz, significado da cruz, pregação da cruz, ofensa da cruz ou o caminho da cruz — apesar de podermos pensar a respeito disto — em todo caso o que estamos dizendo, e devemos dizer, é que a cruz é central para o Cristianismo. Na verdade, dizemos mais. Dizemos que sem a cruz de Jesus Cristo não há verdadeiro Cristianismo.

Emil Brunner escreveu um livro sobre a pessoa e obra de Cristo chamado O Mediador, no qual ele ligou a correta compreensão da cruz com a Reforma. Ele disse: "Lutero certamente acertou o alvo quando descreveu teologia cristã... como uma theologia crucis [teologia da cruz]." Na verdade, acrescentou Brunner, "Todo o empenho da Reforma pela sola fide, soli deo gloria, foi simplesmente o empenho pela correta interpretação da cruz. Aquele que entende a cruz corretamente — esta é a opinião dos reformadores — entende a Bí¬blia e entende Jesus Cristo". Ele então cita Lutero diretamente: "Portanto este texto — 'ele suportou nossos pecados' — deve ser entendido particularmente por inteiro como o fundamento sobre o qual se apoia o todo do Novo Testamento ou o Evangelho, como aquilo que por si só nos distingue e à nossa religião de todas as outras religiões... Quem quer que acredite neste artigo de fé está guardado contra erros, e Deus Espírito Santo está sempre com ele."

Se isto é verdade, se a cruz de Cristo é o verdadeiro coração e essência do Cristianismo, deveríamos esperar, por um lado, que a teologia da cruz fosse a própria simplicidade: "Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras" (ICo 15.3), e "Crê no Senhor Jesus e serás salvo" (At 16.31). Ela deve ser acessível ao entendimento e crença de todos. E assim é! A cruz é apresentada precisamente desta forma na Bíblia — simplesmente e com a mais direta demanda pela fé de alguém.

Por outro lado, se a cruz é a própria essência do Cristianismo, podemos esperar que ela expanda nossas mentes ao máximo. E de fato, podemos esperar que, em parte, o completo significado da cruz esteja muito além de nosso entendimento, além de qualquer compreensão completa de nossa parte. Neste duplo sentido, a teologia da cruz pode ser descrita pelas palavras que um escritor usou para descrever a teologia do quarto evangelho. Ele o chamou "uma piscina na qual uma criança pode se divertir" bem como "um oceano no qual um elefante pode nadar".

Começamos a ver a complexidade da cruz logo que arrolamos as palavras comumente usadas para explicá-la: substituição, sacrifício, satisfação, expiação, propiciação, compra, redenção, resgate, mediação, reconciliação e assim por diante.

Ou quando começamos a arrolar textos importantes. Estes textos são encontrados ao longo da Bíblia, tanto no Antigo Testamento quanto no Novo Testamento. Lembramos que quando Jesus começou a explicar o significado de sua morte aos dois discípulos que estavam a caminho de casa em Emaús após a ressurreição, ele o fez a partir de todo o Antigo Testamento. Diz: "E, começando por Moisés, discorrendo por todos os profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras" (Lc 24.27). Isto se refere ao que os judeus chamam tenach. A palavra tenach é composta de três consoantes, cada qual representando uma das três partes maiores do Antigo Testamento: "T" para a torah ou lei de Moisés; "N" para neviim ou profetas; e "K" para ketuvim, isto é, os escritos ou Escrituras. Jesus estava ensinando que o significado de sua morte é encontrado ao longo do Antigo Testamento, de Gênesis a Malaquias.

E isto é o que descobrimos. Em Gênesis, lemos sobre a semente da mulher que "esmagará" a cabeça da serpente enquanto Satanás ataca "seu calcanhar" (Gn 3.15). Este é o primeiro anúncio do evangelho. Refere-se à cruz. Mais tarde lemos sobre a promessa de Deus de um filho para Abraão, por intermédio do qual "todas as nações da terra serão benditas" (Gn 12.3; 17.15,16; 22.18). Enfim, o filho que seria nascido na descendência de Abraão era Jesus. Isaías escreve de alguém que foi ...traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos (Is 53.5,6).

Na Lei, particularmente em Levítico, a cruz era prefigurada nas instruções de como os sacrifícios deviam ser oferecidos e pelos detalhes para a construção e uso da arca da aliança que permaneceu dentro do Santo dos Santos do tabernáculo do deserto e mais tarde no templo de Jerusalém. O Salmo 22 proporciona uma predição particularmente gráfica da morte de Cristo por crucificação. Zacarias fala de uma geração futura que olharia "a quem traspassaram" e o pranteariam (Zc 12.10). Malaquias, no final do Antigo Testamento, escreve sobre um "sol de justiça trazendo salvação em suas asas" (Ml 4.2).

No Novo Testamento existem até mais textos acerca da cruz, o que já seria de se esperar: porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles (Mt 1.21).

Isto é o meu corpo oferecido por vós... Este é o cálice da nova aliança no meu sangue derramado em favor de vós (Lc 22.19,20).

Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! (Jo 1.29).

Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus (2Co 5.21).

E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo depois disto, o juízo, assim também Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos... (Hb 9.27,28).

carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos aos pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas fostes sarados (IPe 2.24).

Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus (IPe 3.18).

Àquele que nos ama, e, pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados, e nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai, a ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém! (Ap 1.5,6).

Estes textos apresentam-nos algumas idéias como: um resgate, retirar ou suportar pecado; um pacto de sangue; sacrifício; redenção; e uma compra através do sangue.

Como lidamos com um assunto ao mesmo tempo tão simples e também tão rico e complexo como a Cruz de Cristo? Uma forma de fazê-lo é olhar para as três palavras mais importantes para compreender o que a cruz significa e então buscar vários versos que se relacionam a estes três temas. As palavras essenciais ao entendimento do que a cruz significa são satisfação, sacrifício, e substituição. Elas são fáceis de serem lembradas porque começam com a letra s.

Fonte: [ Josemar Bessa ]
Via: Bereianos

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