26 de fev. de 2012

Como pode Ló ser considerado justo?

por Chris Bruno
Chris Bruno
Chris Bruno
Tenho que confessar que 2 Pedro 2.7 sempre me deixa perplexo. Quando você lê Gênesis 19 e a descrição do julgamento de Deus sobre Sodoma e Gomorra, não há muito que te leve a pensar que “Ló, homem justo” “se afligia com procedimento libertino dos que não tinham princípios morais”, conforme relata Pedro.
Em Gênesis 19, Ló está vivendo em Sodoma com, aparentemente, nenhuma dificuldade para dormir a noite. Como muitos comentaristas afirmam, ele estava sentado no portão da cidade (Gn 19.1), o que indica que indica que ele tinha alguma influencia na cidade. Embora não haja nada de errado em ter certa influência em uma cidade repleta de pecadores (de fato, deveríamos almejar mais isso hoje em dia), nada no texto indica que Ló estava trabalhando para transformar a cidade para o Reino de Deus.
Além disso, enquanto ele insistia em mostrar hospitalidade aos estrangeiros que estavam visitando, ele também oferece suas filhas virgens, no lugar das demandas lascivas dos seus vizinhos em dormir com estrangeiros. Além disso, as filhas de Ló o embebedaram para que ele fosse pai dos seus netos na ultima parte do capítulo. Não acho que podemos varrer isso facilmente para debaixo do tapete. Então, pelo menos em Gênesis 19, as evidências certamente vão de encontro à imagem de Ló como justo. Então, como Pedro pode chamá-lo de “Ló, homem justo”?
Eu acho que a chave desse enigma é encontrada em Gênesis 19.29: “Quando Deus arrasou as cidades da planície, lembrou-se de Abraão e tirou Ló do meio da catástrofe que destruiu as cidades onde Ló vivia.”
Quando ligamos os pontos, descobrimos que Ló era justo por causa do Evangelho. Em Gênesis 15.6, nós vemos que Abraão acreditava em Deus e isso lhe foi imputado como justiça. Com isso dizemos que Abraão foi justificado pela fé e, como podemos ver em Gênesis 12-17, a aliança abraâmica é um testemunho da justificação pela fé. Paulo parece sobre isso em Romanos 4 e Gálatas 3.
Então, quando Gênesis 19.29 diz “Deus se lembrou de Abraão”, eu acho que podemos ter uma pista de como Ló era de fato justo. Eu não acho que podemos dizer que quando Deus se lembrou de Abraão, a justiça através da fé de Abraão foi imputada a Ló. Antes, a lembrança de Deus a Abraão se refere a, pelo menos, duas coisas: primeiro, Abraão era de fato justo pela fé, e encontrou favor diante de Deus. Por causa disso, o resgate de Ló foi, de certa forma, em benefício de Abraão. Foi, claramente, uma resposta às orações de Abraão em Gênesis 18.22-23.
Mas isso ainda não explica 2 Pedro 2.7. De fato, Pedro vai dizer que Ló era atormentado “pois, vivendo entre eles, todos os dias aquele justo se atormentava em sua alma justa por causa das maldades que via e ouvia” (2 Pedro 2.8). Então, com base em 2 Pedro, nós devemos concluir que há mais do que um simples favor de Deus a Abraão em Gênesis 19. Eu creio que quando Deus se lembra de Abraão, ele não estava apenas se lembrando de Abraão individualmente. Assim, a segunda maneira pela qual Deus se lembra de Abraão, foi pela aliança que tinha com Abraão e a promessa de que, como Paulo coloca, todas as pessoas de fé são filhos de Abraão (Gálatas 3.9).
Então como Ló era justo? Ló era justo da mesma forma que você e eu somos justos – crendo no Deus de Abraão. Deus de se lembra de Abraão (Gn. 19.29), cuja fé lhe foi imputada como justiça (Gn 15.6). A única resposta biblicamente consistente que responde a pergunta de como Ló era justo (2 Pe 2.7) é que ele, como Abraão, cria em Deus. Ló era justo não porque ele agiu perfeitamente no incidente com os estrangeiros em Gênesis 19 – longe disso. Mas sabemos por Pedro que ele foi perturbado pelo pecado que ele via ao seu redor dia após dia.
Sugiro que o que nós devemos fazer é ler a Bíblia canonicamente nessa situação. Nós podemos ver em Gênesis 19.29 que a fidelidade de Deus para com a sua aliança com Abraão foi um fator decisivo no resgate de Ló. Nós sabemos que, de acordo com Gênesis 15.6, Deus justifica, ou faz justo, aquele que crê nas suas promessas. Então, podemos inferir o estado de justiça de Ló em Gênesis. Como consequência disso, podemos supor que, assim como a obediência de Abraão no sacrifício de Isaque em Gênesis 22 foi resultado desse estado de justiça, a justiça de Ló deve conduzir à obediência. Gênesis nos deixa imaginando como isso poderia ter acontecido.
Mas 2 Pedro 2 confirma que Ló também era justo e como esse estado de justiça o afetou. Ele estava atormentado pelo pecado que via a sua volta em Sodoma. Contudo, essa não foi a causa de sua justiça, mas sim o resultado dela. Tanto a justiça dele quanto a nossa, como 2 Pedro 1.1 nos lembra, é final e totalmente baseada na justiça de nosso Deus e Salvador Jesus Cristo.
Isso significa que o único caminho para afirmar tanto os relatos de Gênesis 19 como o ensinamento de 2 Pedro 2 é ler os dois em harmonia. E quando nós lemos esses textos canonicamente e Cristologicamente, as peças se encaixam de uma forma que só podemos chegar a uma conclusão: Ló era simultaneamente justo e pecador.
E, mais frequentemente do que gostaria de admitir, eu ajo como Ló agiu. Eu também fico perturbado com o pecado que vejo à minha volta no mundo. Mas muito frequentemente, eu acabo respondendo ao pecado que vejo a minha volta da mesma forma como Ló fez – pecando. Meu palpite é que muitos cristãos também compartilham dessa mesma experiência.
Mas como Ló, eu também fui declarado justo. Não pelo que eu tenha feito, mas pelo que Cristo fez por mim. E no fim dos dias, serei proclamado como justo pela união com o Único verdadeiramente Justo. Nenhuma pessoa é declarada justa se estiver separada de Cristo, mas todos os que estiverem nele são declarados justos por meio dele. E foi por isso que Ló pôde ser declarado como justo mesmo em meio aos seus pecados. Então, 2 Pedro 2.7 é uma prova da audácia do evangelho – Pedro pôde chamar um homem com muitas falhas óbvias de “Ló, homem justo” por causa da promessa a Abraão. E se nós estamos em Cristo, então Deus também nos salvou porque Ele se lembra da sua promessa a Abraão.
Traduzido por Marianna Brandão | iPródigo.com | Original aqui
Fonte: [iPródigo]

21 de fev. de 2012

Os cristãos perseguidos e o martírio

“Os homens são feitos mártires não devido à quantidade de seu sofrimento, mas à causa pela qual eles sofrem.” Santo Agostinho
Por Marcelo Peixoto, historiador da Portas Abertas Brasil 
Milhares de cristãos foram mortos ao longo da história da Igreja sob diversas acusações. Em várias ocasiões os cristãos da Igreja Primitiva foram acusados de “traidores”, “criminosos”, “antissociais”, “obstinados”, “inimigos de Roma” e “ateus”. Cipriano de Cartago (210-258) pertencia a uma nobre e dedicou-se à oratória e à advocacia. Após se converter ao cristianismo foi eleito bispo de Cartago. Foi perseguido por se negar a participar das festas pagãs e oferecer sacrifícios aos deuses romanos. Cipriano foi julgado e degolado sob o governo do Imperador Valeriano.
Mas não para por aí, há uma extensa lista de homens e mulheres que foram mortos por não ceder às pressões políticas, religiosas e sociais de sua época. Para muitos, o que essas pessoas estavam dispostas a fazer era uma loucura sem precedentes; segundo o imperador romano Marco Aurélio, “os cristãos eram tolos obstinados”. Mas para os cristãos esse ato ia além de ser crucificado, degolado ou devorado por feras nas arenas; esse era um ato de fé, de autonegação e de afirmação da soberania de Deus sobre suas vidas.
Os mártires da história da Igreja cristã tinham muito claro para si que não importava o quanto sofreriam em seus corpos desde que a causa que defendiam fosse conhecida. A morte em si não era o fator mais importante no martírio deles, mas as razões que os conduziram a isso. O crescimento significativo da Igreja nos seus primeiros séculos se deve, em grande parte, à coragem de seus mártires que, através do seu amor e devoção a Cristo, cativavam e constrangiam as multidões pagãs e seus governantes. O filósofo e teólogo Søren Kierkegaard disse algo interessante a respeito disso.
“...Naturalmente existe uma enorme diferença entre o tirano e o mártir, embora ambos tenham uma coisa em comum: o poder de constrangimento. O tirano, ele mesmo ambicioso por dominar, obriga as pessoas por meio de seu poder; o mártir, ele mesmo incondicionalmente obediente a Deus, incita os outros por meio de seu sofrimento. O tirano morre e seu governo acaba; o mártir morre e seu governo se inicia...”.
Muitos consideram esses crentes em Jesus “malucos” e “insanos”, mas o fato é que a atitude deles é algo consciente e que quebra os paradigmas estabelecidos pelo mundo. O “correto” seria revidarem a agressão física, mas “ser morto em vez de matar confunde o assassino” e coloca em destaque o perseguido e sua causa e não o perseguidor. A despeito das razões apresentadas pelos perseguidores (política, religiosa, econômica, etc.) para perseguir e matar os cristãos, é a inocência e espontaneidade dos perseguidos que os torna a figura principal no martírio.
Certa vez o irmão André disse que “os muçulmanos só se entregarão a Cristo, quando os cristãos estiverem dispostos a dar a vida pelo que acreditam”. Muitos dos cristãos perseguidos no passado e nos dias de hoje dão a vida pelo que acreditam não para serem lembrados como mártires, mas para testemunhar ao mundo com suas vidas o sacrifício maior de Jesus e para que outros se rendam a Ele.
A causa de Cristo continua sendo para nós cristãos maior do que os sofrimentos que qualquer sistema ou indivíduo possa nos impor. “Aguardo ansiosamente e espero que em nada serei envergonhado. Ao contrário, com toda a determinação de sempre, também agora Cristo será engrandecido em meu corpo, quer pela vida, quer pela morte; porque para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro”.Filipenses 1. 20-21
FONTE: Bonhoeffer, o mártir. Responsabilidade social e compromisso cristão moderno.

8 de fev. de 2012

O incrédulo poeta percebe a Verdade

por John Piper
John Piper
John Piper
Como todos os seres humanos são criados à imagem de Deus (Gênesis 1.27), as obras da lei de Deus estão gravadas em seu coração (Romanos 2.15), os céus declaram a glória de Deus para todos que possam ver (Salmo 19.1), Deus colocou a eternidade no coração do homem (Eclesiastes 3.11), pela providência de Deus, toda pessoa está tateando em busca dele (Atos 17.27) e em Deus, todos nós vivemos, nos movemos e existimos (Atos 17.28), não é uma grande surpresa quando as pessoas que não ainda não enxergaram a glória de Cristo percebem, mesmo que de relance, o que o mundo realmente é, e depois não sabem o que fazer com isso.
Stephen Dunn é um poeta ganhador do Prêmio Pulitzer e não é cristão. “Eu penso que Deus é uma metáfora. Deus é uma metáfora para as origens e os mistérios do mundo… Eu penso nas crenças como provisórias. Elas não são constituídas de qualquer coisa fixa”.  Em uma entrevista para a revista Books and Culture, Aaron Rench o questionou sobre seu livro The Insistence of Beauty [A Persistência da Beleza].
A respeito do seu livro The Insistence of Beauty, o que é essa noção de que a beleza tem uma qualidade insistente e atrativa em si? Porque a beleza é assim?
Dunn responde:
Eu penso apenas que a beleza é irresistível. Ela nos rende. Leva embora nossos argumentos. E se você expande a noção de beleza – que há beleza no tosco ou no feio – as coisas ficam complicadas. Mas eu penso que a beleza, que na minha mente está mais relacionada com o sublime, é algo que nós não conseguimos resistir.
Sim, e é assim que nós somos convertidos a Cristo. Os olhos de nossos corações foram iluminados para verem a beleza de Cristo, e nesse momento, ele se tornou irresistível. É assim que a beleza divina e espiritual funciona. Ela se autentica. Ela “leva embora nossos argumentos”. Ou melhor: ela substitui todos os nossos falsos argumentos com um grande e verdadeiro argumento que não pode ser resistido.
É disso que 2 Coríntios 4.4-6 fala.
“O deus desta era cegou o entendimento dos descrentes, para que não vejam a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus.”(v4)
A “glória de Cristo” é a beleza de Cristo. É a radiante completude de sua pessoa – o impacto de toda a sua perfeição. A razão pela qual as pessoas não acreditam em Cristo é porque elas não vêem o que realmente está lá. É isso que significa ser “cego”. A beleza está lá para ser vista, mas somos cegos a ela.
Se nós a vemos, nós acreditamos. “A beleza é irresistível”. Se você resiste, você não viu Cristo tão belo quanto ele realmente é (1 João 3.6b). Então a maneira como somos convertidos é quando a cegueira é retirada. O verso 6 vai dizer “ele mesmo brilhou em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo”. Deus substitui a cegueira pela luz. A luz é especificamente a “glória de Deus na face de Cristo”.
E isso é tudo. Não há coerção após essa revelação. A luz é atrativa. Nós não a contemplamos e nos perguntamos se devemos acreditar ou não. E ainda estamos ponderando, nós não enxergamos ainda.
O poeta Stephen Dunn, tateando em busca de Deus, diz que a beleza “está relacionada ao sublime”. É “algo que nós não conseguimos resistir”. Sim, o sublime é encontrado em Jesus Cristo. E é a glória dele que é supremamente irresistível.
Que isso seja verdade em sua vida: reflita nele; seja permeado por ele; aponte para ele. Quando mais você o conhecer, e quanto mais você admirar a perfeição de sua beleza, mais você ira refleti-lo. Que haja cada vez mais milhares de reflexos da beleza de Jesus. E que seja dito sobre esses reflexos: “Ela nos rende. Leva embora nossos argumentos.”
Traduzido por Filipe Schulz | iPródigo 
Fonte: [iPródrigo]

7 de fev. de 2012

. . .ninguém sabe, exceto Seus amados – M. Lloyd-Jones (1899-1981)



Para (os incrédulos) Jesus Cristo foi apenas um homem que recebeu os primeiros cuidados de recém-nascido numa simples manjedoura, viveu, alimentou-se e bebeu como os demais seres humanos, e trabalhou como carpinteiro. Depois foi crucificado, na mais completa fraqueza. «Esses são os fatos», dizem eles, «e vão querer que eu creia que ele é o Filho de Deus? Impossível» . . .


Pensam apenas numa plana racional. . . E assim é o pensamento racional. Você lhes fala da doutrina do novo nascimento, e eles dizem: «É claro que coisas desse tipo não acontecem; não há milagres. . . uma vez que se fale em milagres, já se estará violando as leis da natureza». Como disse Matthew Arnold: «Milagres não podem acontecer; logo, não aconteceram milagres». É assim o pensa-mento racional.


. . .antes de alguém tornar-se cristão, tem que parar de pensar desse modo. Deve adotar novo tipo de pensamento; tem que começar a pensar espiritualmente. . . quando nos tornamos cristãos. . . descobrimos que passamos a pensar de maneira diferente. Ficamos noutro nível. . . os milagres já não são problemas, o novo nascimento já não é problema, a doutrina da expiação já não é problema.


Temos um novo entendimento, raciocinamos espiritualmente. Nosso Senhor foi visitado por Nicodemos, que. . . disse: «Senhor, tenho observado os teus milagres; por certo tu és um Mestre, vindo da parte de Deus, pois ninguém pode fazer as coisas que fazes se Deus não estiver com ele». E certamente estava querendo acrescentar: «Dize-me como o fazes. . .» Mas o Senhor olhou para ele e. . .o que disse a Nicodemos significa o seguinte: «Nicodemos, se achas que podes compreender isto antes que suceda contigo, cometes um erro e tanto. Jamais serás um cristão desse jeito. . . estás tentando compreender coisas espirituais com o teu entendimento natural. Mas não podes. Embora sejas mestre em Israel, terás de nascer de novo. . . é preciso que te dês conta de que a natureza deste novo tipo de raciocínio é espiritual».


Faith on Trial, p. 35,6.

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