28 de dez. de 2010

Minha vida é diferente? – M. Lloyd-Jones



«. . . desde que Jesus entrou no meu coração. . .»

Minha fé cristã influi em minha idéia da vida e a dirige em todos os aspectos? Declaro-me cristão e seguidor da fé cristã; a pergunta que agora me faço é: «Será que essa minha fé cristã afeta meu conceito da vida, no todo e nos pormenores? ela está sempre determinando a minha reação e a minha resposta às coisas específicas que acontecem?» Ou então, podemos colocar a questão assim: «Está claro e óbvio para mim e para toda gente que toda a minha abordagem da vida, a minha concepção essencial da vida, em geral e em particular, difere completamente da do que não é cristão?» É preciso que o seja.

O Sermão da Montanha começa com as bem-aventuranças. Estas descrevem pessoas totalmente diversas de todas as demais, tão diferentes como a luz das trevas, tão diferentes como o sal da putrefação. Se, pois, somos dife¬rentes no essencial, temos que ser diferentes em nossa maneira de ver todas as coisas e em nossa reação a tudo que sucede. Não conheço melhor indagação que uma pessoa possa fazer a si própria, em quaisquer circunstâncias, do que essa. Quando lhe sobrevier algo que o transtorne, pergunte-se: «Minha reação é essencialmente diversa do que seria se eu não fosse cristão?» Lembremo-nos do ensino. . . que consta no final do capítulo cinco do Evangelho (segundo Mateus).

Você decerto lembra que nosso Senhor colocou a questão em termos como estes: «Se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis mais do que os outros?» E isso. Cristão é aquele que faz «mais do que os outros». É aquele que é absolutamente diferente. E, se em cada detalhe de sua vida, não penetrou este seu cristianismo, você é um cristão de tipo muito inferior, é um homem de «pequena fé».

Studies in the Sermon on the Mount, ii, p. 139,40.

24 de dez. de 2010

John Piper - O que Jesus quer do Natal?

O que Jesus quer neste Natal? Nós podemos ver a resposta em Suas orações. O que Ele pedia a Deus? A sua mais longa oração está em João 17. Vejamos o clímax do Seu desejo:


Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo (v.24)

Entre todos os pecadores indignos do mundo, existem aqueles que Deus “deu para Jesus.” Esses são aqueles que o Pai atraiu para o Filho (Jo 6:44,65). Esses são os Cristãos – pessoas que “receberam” Jesus como o crucificado e ressurreto Salvador e Senhor e Tesouro de suas vidas (Jo 1:12; 10:11,17-18; 20:28; 6:35; 3:17). Jesus disse que Ele quer que eles estejam com Ele.

Às vezes nós ouvimos as pessoas dizerem que Deus criou o homem porque ele estava solitário. Então eles dizem, “Deus nos criou para que nós estivéssemos com Ele.” Jesus concorda com isso? Bem, de fato Ele diz que Ele realmente queria que nós estivéssemos com Ele! Sim, mas por quê? Consideremos o resto do versículo. Por que Jesus queria que nós estivéssemos com Ele?


...para que vejam a minha glória que me [o Pai] deste; porque tu me amaste antes da fundação do mundo.

Essa seria uma maneira estranha de expressar sua solidão. “Eu quero eles comigo para que eles possam ver a minha glória.” É certo que isso não expressa Sua solidão. Isso expressa Sua preocupação quanto à satisfação de nosso anseio, e não de Sua solidão. Jesus não é solitário. Ele e o Pai e o Espírito são profundamente satisfeitos na comunhão da Trindade. Nós, não eles, estamos famintos por algo. E o que Jesus deseja para o Natal é que nós experimentemos aquilo para a qual nós realmente fomos feitos – contemplar e experimentar [saborear] sua glória.

Óh, que Deus possa penetrar isso em nossas almas! Jesus nos fez (Jo 1:3) para vermos Sua glória. Um pouco antes de ir para a cruz Ele pede Seus mais profundos desejos ao Pai: “Pai, Eu desejo – Eu desejo! – que eles... possam estar comigo onde Eu estiver, para verem a minha glória.”

Mas isso é apenas a metade do que Jesus queria nesses finais e culminantes versos de Sua oração. Eu acabei de dizer que nós, de fato, fomos feitos para contemplar e experimentar Sua glória. Não era isso que Ele queria – que nós não apenas vejamos Sua glória, mas a experimentemos, nos satisfaçamos nela, nos deleitemos nela, façamos dela o nosso tesouro, e a amemos? Considere o verso 26, o último verso:


E eu lhes fiz conhecer o Teu nome, e lho farei conhecer mais, para que o amor com que me tens amado esteja neles, e eu neles esteja.

Esse é o final da oração. Qual é o propósito final de Jesus para nós? Não que nós simplesmente vejamos Sua glória, mas que nós O amemos com o mesmo amor que o Pai tem por Ele: “para que o amor com que me [o Pai] tens amado esteja neles.” O anseio e propósito de Jesus é que nós vejamos Sua glória e então que nós sejamos capazes de amar o que vemos, com o mesmo amor que o Pai tem pelo Filho. E Ele não quer dizer que nós meramente imitemos o amor do Pai pelo Filho. Ele quer dizer que o próprio Amor do Pai se torne o nosso amor pelo Filho – que nós amemos o Filho com o amor do Pai pelo Filho. Isso é o que o Espírito se torna, e derrama em nossas vidas: Amor ao Filho pelo Pai através do Espírito.

O que Jesus mais quer para o Natal é que Seus eleitos estejam reunidos e então façam o que eles mais desejam – contemplar Sua glória e então experimentá-la com o mesmo gosto do Pai pelo Filho.

O que eu mais quero para o Natal esse ano é me juntar a você (e a muitos outros) em contemplar Cristo em toda Sua plenitude e que juntos, nós sejamos capazes de amar o que vemos, com um amor que vai muito além de nossa vaga capacidade humana.

Isso é o que Jesus pede por nós neste Natal: “Pai, mostre a eles a minha glória e dê-lhes o mesmo deleite em mim que Tu tens por mim.” Óh, que nós possamos ver Cristo com os olhos de Deus e experimentar Cristo com o coração de Deus. Essa é a essência do céu. Este é o presente que Cristo veio comprar para pecadores ao preço de Sua morte em nosso lugar.

Contemplando e Experimentando Ele com você,

Pastor John.



Por John Piper. © Desiring God. Website:desiringGod.org
Tradução: voltemosaoevangelho.com
Permissões:
 Você está autorizado e incentivado a reproduzir e distribuir este material em qualquer formato, desde que adicione as informações supracitadas, não altere o conteúdo original e não o utilize para fins comerciais.

Fonte: [Voltemos ao Evangelho]

20 de dez. de 2010

Equilíbrio - Martyn Lloyd-Jones




O apóstolo já nos tem exortado nesta Epístola aos Efésios acerca do que ele chama "parvoíces e chocarrices". Não devemos ser pomposos, não devemos apresentar-nos com excessiva seriedade, mas isso é muito diferente do erro das "parvoíces e chocarrices". Muitas vezes fico surpreso por ouvir cristãos cedendo a essas "parvoíces e chocarrices". Verifiquemos que não estamos produ¬zindo uma atmosfera nociva com esse tipo de coisa. Essa espécie de conversa pertence ao mundo, não a nós. Isso é a instrução das Escrituras.

O mundanismo, naturalmente, tem muitas formas, e há perigos específicos. O apóstolo adverte Timóteo, na Primeira Epístola, capítulo 6, versículo 9: "Os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína. Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores. Mas tu, ó homem de Deus, foge destas coisas". Paulo aí condena o amor ao dinheiro. O dinheiro como tal não é mau, se o homem o usa apropriadamente, como despenseiro do Senhor Jesus Cristo. Contudo, no momento em que o homem começa a amar o dinheiro, entra o pecado. Tenho bastante idade para poder dizer que tenho visto muita gente boa sair-se mal nesse ponto. Uma vez que acontece isso, a temperatura espiritual sempre abaixa, e ocorre uma rápida perda de vigor espiritual. Conheci homens que foram convertidos de uma vida muito pecaminosa, e que, por causa da sua conversão, começaram a dar atenção ao seu trabalho, progrediram e tiveram sucesso; e tive a infeliz experiência de ver alguns deles caírem na armadilha de que estamos falando. Antes, jogavam fora o seu dinheiro; agora, começaram a amá-lo. Ambos os extremos são maus.

Outra causa da perda de vigor e energia espiritual, e de deixar de ser "forte no Senhor e na força do seu poder", é a enervante atmosfera da respeitabilidade. É um perigo muito comum na Igreja. Às vezes me pergunto se não é a maior maldição na hora presente. Pelo menos, as estatísticas provam claramente que, por uma razão ou outra, o cristianis¬mo atual não está sensibilizando as classes trabalhadoras deste país. Será, às vezes me pergunto, porque estamos dando a impressão de que o cristianismo é só para as respeitáveis classes médias? Examinemo-nos a nós mesmos sobre isso. Tememos a manifestação do Espírito? Pesa sobre nós a culpa de apagar o Espírito? Tememos a vida, o vigor e o poder? Quantas vezes vi homens que começaram com fogo se tornarem cristãos simplesmente respeitáveis, finos - inúteis, sem nenhuma energia, sem nenhum vigor, sem nenhum poder!

Permitam-me ilustrar isso outra vez com fatos da esfera do ministério. Conheci homens que entraram no ministério e que sem dúvida eram homens chamados por Deus, cheios de paixão pelas almas e revestidos de poder na pregação. Vi-os terminarem apenas como bons pastores, bons visitadores. Visitar faz parte do ministério pastoral; mas se o homem se torna apenas um homem agradável, um pastor bondoso, excelente para receber-se em casa, alguém que toma uma xícara de chá com você, é trágico. Que tragédia o profeta acabar sendo tão-somente um homem amável e um pastor bondoso! Mais uma vez estamos vendo que sempre devemos procurar evitar os extremos. No entanto, não há nada que possa ser tão enervante como esse tipo de atmosfera fina e respeitável, na qual ficamos temendo quase tudo, e, acima de tudo, ficamos temendo a manifestação do poder do Espírito Santo. Por isso, começamos a "extinguir o Espírito"!

É evidente que há aplicações intermináveis deste tema. Ele constitui o fundo e base racional do ensino que se vê em 2 Coríntios, capítulo 6, sobre "não nos prendermos a um jugo desigual com os infiéis". Isso se aplica primariamente ao casamento. A razão pela qual o cristão não deve casar-se com alguém incrédulo é que, fazendo isso, ele se põe numa atmosfera nociva, que tende a minar a sua energia e vitalidade espiritual. Isso é inevitável, como se vê no fato de que desse modo ele se associou e se prendeu a alguém que não tem vida e entendimento espiritual. Ele, não o seu cônjuge, é que sofrerá as conseqüências. Por conseguinte, somos exortados a não nos sujeitarmos a um jugo desigual com os infiéis.

O nascimento de Jesus, um cordel sobre o Natal


Fonte: [Youtube]
Via: [Renato Vargens]

14 de dez. de 2010

Meditação para a Ceia: João 6.47-59


“O quarto evangelista não registra a instituição da Ceia do Senhor no cenáculo. Onde os outros evangelistas a registram, ele põe o relato do lava-pés (13.2ss.). Porém, mesmo não registrando a instituição, neste discurso de Jesus ele nos dá elementos que preenchem a Ceia do Senhor com uma profunda riqueza de significado para o crente. É verdade que o Senhor neste discurso não está falando diretamente da Ceia, mas ele expõe a verdade de que a Ceia fala”. (F. F. Bruce) Ela é resumida muito bem nas palavras que acompanham a entrega do pão ao comungante no Livro de Oração Comum: “Tome e coma isto em lembrança de que Cristo morreu por você, e alimente-se dele no coração, pela fé, com gratidão”.
1. Contraste entre o maná (e a multiplicação dos pães [Jo 6.1-15]) e Jesus: ambos foram dados por Deus: graça comum (6.11, 32) e graça especial!
2. Um perece, outro permanece: os seus ouvintes se impressionaram com muito pouco – se contentavam apenas com a vida presente (queriam até coroá-lo rei!). Ele não é veio para ser um mero rei (6.15). Ter uma perspectiva de Jesus menor do que aquela apresentada nos evangelhos é insultá-lo! Quem é Jesus?
    Eu sou o pão da vida (6.35-48)
    Eu sou o pão vivo (6.51)
    Eu sou a luz do mundo (8.12)
    Eu sou lá de cima, vós sois cá de baixo (8.23)
    Eu sou a porta das ovelhas (10.7)
    Eu sou o bom pastor (10.11)
    Eu sou a ressurreição e a vida (11.25)
    Eu sou o caminho, a verdade e a vida (14.6)
    Eu sou a videira verdadeira (15.1)
    “Se não crerdes que Eu sou, morrereis em vossos pecados” (8.24)
3. O que significa “carne” e “sangue”? O sacrifício de Cristo (v. 51): voluntário (“eu darei”, cf. 6.38), vicário (“pela vida do mundo”, cf. 1.29) e eficaz (“viverá eternamente”).
4. Como receber este alimento? “Quem crê em mim” (6.47): “A fé na expiação realizada por Cristo é essencial à salvação” (J. C. Ryle). “Crede, et manducasti” (Agostinho).
5. O que nos garante “comer” e “beber”?
—• Vida eterna nos é assegurada já nesta vida (6.47, 51, 54, 57-58)!
—• União mística, participação na vida trinitária (v. 56: “permanece”: habita, mora).1 “Permanecer em Jesus é permanecer em sua palavra (8.31), não permanecer em trevas (12.46), permanecer na luz (1Jo 2.10), permanecer na doutrina (2Jo 9), permanecer em seu amor (15.9-10), guardar seus mandamentos (1Jo 3.24), amar uns aos outros (1Jo 4.16). Para Jesus, o permanecer em seus discípulos significa que sua palavra habita neles (5.38), que o amor de Deus permanece neles (1Jo 3.17), que a verdade mora neles (2Jo 2). Em contraste, os descrentes estão nas trevas (12.46) e na morte (1Jo 3.14). Permanecer ou estar em Cristo significa manter comunhão inquebrantável com ele”. (George Eldon Ladd)
“Quanto mais velho fico, e quanto mais progrido na fé, mais importante esta ordenança se torna para mim. Se há algum lugar que experimento a comunhão doce de minha alma com Cristo, este lugar é a mesa. Sob um aspecto, a experiência da Ceia do Senhor vem se tornando uma fonte de embaraço para mim. Frequentemente sou obrigado a cobrir meus olhos com as mãos enquanto comungo, a fim de esconder as lágrimas que não consigo conter. De fato, a doçura de tal comunhão às vezes ultrapassa meus limites, à medida que a exuberância da presença de Cristo inunda a minha alma”. (R. C. Sproul)
Agarrando-se à fé
“Em um domingo gelado em novembro de 1994, um pequeno grupo de senhoras, com suas cabeças cobertas por lenços de cores vivas, aconchegava-se do lado de fora de uma igrejinha em Balabanovo, na Rússia. Essa casa de oração, construída a partir de uma pequena casa, era a primeira igreja que essas mulheres tinham conhecido desde o tempo da revolução bolchevique em 1917 e a repressão religiosa que se seguiu. Faltava quase meia hora para o sermão começar, mas, apesar do frio cortante, essas mulheres ansiosas estavam esperando a chegada do pastor para destrancar a porta. Quando visitantes americanos se aproximaram delas, uma pequena senhora começou a sorrir. Ela estava ansiosa para dar as boas-vindas às irmãs e aos irmãos americanos, mas ela não conseguia falar inglês. Em vez disso, uma enxurrada aparentemente interminável de palavras em russo saiu de sua boca sorridente. O intérprete disse aos americanos que ela estava recitando um Salmo – a Palavra de Deus que ela teve que esconder em seu coração ao longo dos muitos anos de julgamentos e perseguições. À medida que ela falava, lágrimas começaram a cair gentilmente por suas bochechas enrugadas enquanto ela apontava com a mão trêmula para a igreja e dizia: ‘Eu esperei setenta anos por isso!’ Essa mulher manifestou uma fé que a tinha sustentado por todos aqueles anos. Finalmente ela podia adorar a Deus com liberdade. No ano seguinte, essa santa foi ter com o seu Senhor, aos 100 anos de idade. Ela é um exemplo nos dias de hoje do princípio da fé tão fundamental no Evangelho de João”. (Walter Elwell & Robert Yarbrough)
————–
1 – Todas as grandes doutrinas da graça são mencionadas neste contundente discurso de Jesus: eleição incondicional (6.65), expiação limitada (6.37), chamado eficaz (6.44-45) e perseverança dos santos (6.39), pressupondo a incapacidade humana de responder ao puro evangelho. Também deve ser notada a ênfase na união mística do crente em Cristo (6.51-58), e a cooperação entre o Pai (6.37-40; 44-46, 57, 65), o Filho e o Espírito Santo (63) na obra de redenção.

13 de dez. de 2010

O Que Eu Prego - C.H. Spurgeon



É uma grande coisa já começar a vida Cristã crendo em boa e sólida doutrina. Algumas pessoas têm recebido vinte diferentes "evangelhos" neste mesmo número de anos; e quantos mais irão aceitar antes que sua jornada termine é difícil de dizer.

Dou graças a Deus por Ele logo cedo ter me ensinado o evangelho, e tenho estado tão perfeitamente satisfeito com ele, que não quero conhecer nenhum outro.Porque, se eu cresse no que alguns pregam sobre uma salvação temporária, e sem importância, que somente dura por um tempo, eu raramente seria grato por ela, se é que seria; mas quando sei que aqueles que Deus salva, Ele os salva com uma salvação eterna, quando sei que Ele lhes dá uma justiça eterna, quando eu sei que Ele os assenta em uma fundação eterna de amor eterno, e que Ele os trará ao Seu reino eterno, oh, então me admiro, e me surpreendo pelo fato de uma bênção tal como esta tenha, em algum momento, sido dada a mim!Suponho que haja algumas pessoas cujas mentes naturalmente se inclinam em direção à doutrina do livre-arbítrio. Eu posso somente dizer que a minha se inclina naturalmente em direção à doutrina da graça soberana.

Algumas vezes, quando vejo algumas das piores personalidades na rua, eu sinto como se meu coração devesse jorrar em lágrimas de gratidão, porque se Deus me tivesse deixado só e não me tivesse tocado por Sua graça, que grande pecador eu teria sido! Eu teria ido aos extremos do pecado, mergulhado nas maiores profundezas do mal, também não teria reprimido qualquer vício ou loucura se Deus não me tivesse restringido. Eu sinto que eu teria sido o próprio rei dos pecadores, se Deus me tivesse deixado só.Eu não consigo entender a razão pela qual sou salvo, exceto sobre a base de que Deus queria que isto fosse assim.

Eu não posso, se olhar sinceramente, descobrir qualquer tipo de razão em mim mesmo pela qual eu deva ser um participante da graça Divina. Se não estou neste momento sem Cristo, é somente porque Cristo Jesus tem Sua vontade para comigo, e que esta vontade é que eu deveria estar com Ele onde Ele estiver, e que deveria partilhar da Sua glória. Não posso por a coroa em nenhum outro lugar exceto sobre a cabeça Daquele cuja poderosa graça tem me salvado de seguir abaixo para o abismo. Foi Ele que transformou meu coração, e me colocou de joelhos diante de Si.Posso bem me lembrar da maneira pela qual eu aprendi as doutrinas da graça em um único instante. Nascido, como todos nós somos por natureza, um arminiano, ainda cria nas velhas coisas que tinha ouvido continuamente do púlpito, e não via a graça de Deus. Quando estava vindo a Cristo, pensei estar fazendo aquilo tudo por mim mesmo, e ainda que buscasse o Senhor sinceramente, não tinha idéia de que o Senhor estava me buscando.

Não penso que o novo convertido esteja, a princípio, consciente disto. Eu posso relembrar o dia e a hora exatos em que pela primeira vez recebi aquelas verdades em minha própria alma, quando elas foram, como diz John Bunyan, gravadas em meu coração como com um ferro em brasa; e eu posso recompor como me senti quando cresci repentinamente de um bebê para um homem que havia feito progressos no conhecimento das Escrituras, por ter encontrado, de uma vez por todas, a chave para a verdade de Deus.Em uma noite de um dia de semana, quando estava sentado na casa de Deus, não estava pensando muito sobre o sermão do pregador, porque não cria nele. Um pensamento me tocou: "Como você veio a ser um Cristão?" Eu vi o Senhor. "Mas como você veio a buscar o Senhor?" A verdade lampejou por minha mente em um momento, eu não poderia tê-lo buscado a menos que tivesse havido alguma influência prévia em minha mente para me fazer buscá-Lo. Eu orei, pensei eu, mas quando perguntei a mim mesmo, como eu vim a orar? Fui induzido a orar pela leitura das Escrituras.

Como eu vim a ler as Escrituras? Eu as havia lido, mas o que me levou a assim proceder? Então em um instante, eu vi que Deus estava na base disto tudo, e que Ele foi o Autor da minha fé, e assim toda a doutrina da graça se tornou acessível a mim, e desta doutrina eu não me afastei até hoje, e desejo fazer desta, a minha confissão perpétua: "Eu atribuo minha conversão inteiramente a Deus".Certa vez compareci a um culto aonde o texto veio a ser: "[Ele] escolherá para nós a nossa herança"(1) e o bom homem que ocupou o púlpito era mais do que apenas um pouco arminiano. Por esta razão, quando começou, ele disse: "Esta passagem se refere inteiramente à nossa herança temporal, não tem nada a ver com nosso destino eterno, porque", disse ele, "nós não queremos que Cristo faça por nós a escolha do Céu ou do inferno. Isto é tão claro e direto, que cada homem que tenha um grão de senso comum irá escolher o Céu, e nenhuma pessoa será tão desajuizada que escolha o inferno.

Não temos qualquer necessidade de alguma inteligência superior, ou de qualquer grande Ser, para escolher Céu ou inferno por nós. Isto é deixado para o nosso próprio livre-arbítrio, e temos bastante sabedoria dando-nos meios suficientemente corretos para julgar por nós mesmos," e, portanto, como ele muito logicamente inferiu, não há necessidade de Jesus Cristo, ou de qualquer outro, fazer a escolha por nós. Nós podemos escolher a herança por nós mesmos sem qualquer assistência.

"Ah!" eu pensei, "mas, meu bom irmão, pode ser mesmo verdade que nós podemos, mas penso que precisamos querer algo mais que o senso comum antes que possamos escolher corretamente".Primeiro, deixe-me perguntar, não devemos todos nós admitir uma soberana Providência, e a designação da mão do SENHOR, como os meios através dos quais nós viemos a este mundo? Aqueles homens que pensam que, depois de tudo, nós somos deixados ao nosso próprio livre-arbítrio para escolher este ou aquele para direcionar os nossos passos, deve admitir que nossa entrada neste mundo não aconteceu por nossa própria vontade, mas que Deus teve, naquela hora, que escolher por nós.

Que circunstâncias foram aquelas, sob de nosso controle, que nos direcionaram a eleger certas pessoas como sendo nossos pais? Tivemos nós alguma coisa a ver com isto? Não foi o próprio Deus que determinou nossos pais, nosso local de nascimento, e amigos?John Newton costumava contar uma parábola sobre uma boa mulher que, de modo a provar a doutrina da eleição, dizia: "Ah! meu caro, o Senhor deve ter me amado antes de eu nascer, ou caso contrário Ele não teria visto nada em mim para amar depois". Estou certo que é verdade no meu caso; Eu creio na doutrina da eleição, porque estou bem certo que, se Deus não me tivesse escolhido, eu nunca O teria escolhido; e tenho certeza que Ele me escolheu antes de eu nascer, ou caso contrário Ele nunca teria me escolhido depois; e Ele deve ter me eleito por razões desconhecidas por mim, porque eu nunca pude encontrar qualquer razão em mim mesmo pela qual Ele devesse me olhar com especial amor.Se seria admirável ver um rio brotar da terra já crescido, tanto mais seria olhar pasmado para uma vasta fonte da qual todos os rios da terra saíssem borbulhando de uma só vez; um milhão deles nascendo em um só nascimento? Que visão haveria de ser! Quem pode concebê-la.

E ainda assim o amor de Deus é aquela fonte, formando cada um dos rios de misericórdia, os quais têm sempre satisfeito nosso povo com todos os rios de graça durante o tempo, e de glória depois de subirem. Minh'alma, permaneça naquele manancial sagrado, e adore e exalte para todo o sempre a Deus, nosso Pai, que tem nos amado! Bem no início, quando este grande universo estava na mente de Deus, como florestas não nascidas na semente do carvalho; muito antes que os ecos acordassem os ermos; antes que as montanhas fossem geradas; e muito antes que a luz rompesse pelo céu, Deus amou estas criaturas escolhidas. Antes que houvesse qualquer ser criado, quando o éter ainda não havia sido agitado pelas asas do anjos, quando o próprio espaço ainda não tinha existência, quando não havia nada exceto Deus somente, mesmo então, naquela solidão de Deidade, e naquela penetrante quietude e profundidade, Seu coração se moveu com amor por seus escolhidos. Seus nomes estavam escritos em Seu coração, e então eram eles queridos de Sua alma. Jesus amou Seu povo antes da fundação do mundo, mesmo da eternidade! E quando Ele me chamou por Sua graça, me disse: "Porquanto com amor eterno te amei, por isso com benignidade te atraí"(2). Se qualquer um me perguntasse o que eu entendo por um Calvinista, eu responderia: "Ele é alguém que diz: Salvação do Senhor".

Eu não consigo encontrar nas Escrituras nenhuma outra doutrina além desta. É a essência da Bíblia. "Só ele é a minha rocha e a minha salvação"3. Me diga qualquer coisa contrária a esta verdade, e será uma heresia; diga-me uma heresia, e eu acharei sua essência aqui: que ela se afastou desta grande, desta fundamental, desta firme verdade, "Deus é minha rocha e minha salvação".Qual é a heresia de Roma, além da adição de algo aos perfeitos méritos de Jesus Cristo, o acréscimo de obras da carne, para auxiliar em nossa justificação? E qual é a heresia do arminianismo além de adicionar algo à obra do Redentor? Cada heresia, se trazida à pedra de toque, irá se descobrir aqui.Eu tenho minha própria opinião particular de que não há tal coisa como pregar Cristo e Ele crucificado, a menos que nós preguemos que nos dias de hoje isto é chamado de Calvinismo. É um apelido chamar a isto de Calvinismo; o Calvinismo é o evangelho, e nada mais. Eu não creio que podemos pregar o evangelho, se não pregarmos a justificação pela fé, sem obras; nem sem pregarmos a soberania de Deus e Sua dispensação de graça; nem sem exaltarmos a eleição, pelo inalterável, eterno, imutável, conquistador amor do SENHOR; nem penso que podemos pregar o evangelho, a menos que o baseemos sobre a especial e particular redenção de Seu povo eleito e escolhido o qual Cristo formou sobre a cruz; nem posso eu compreender um evangelho que deixa santos decaírem após serem chamados, e sujeitar os filhos de Deus a serem queimados no fogo da condenação após terem uma vez crido em Jesus. Tal evangelho eu abomino.Não há alma viva que defenda mais firmemente as doutrinas da graça que eu, e se algum homem me pergunta se porventura me envergonho de ser chamado Calvinista, respondo que eu não quero ser chamado de nada além de Cristão; mas se você me perguntar, eu defendo a visão doutrinária que foi defendida por João Calvino, eu replico, estou no centro de sua defesa, e estou feliz por professá-la.Mas, longe de mim, sequer imaginar que Sião não contém nada além de Cristãos Calvinistas dentro de seus muros, ou que não há ninguém salvo que não defenda nossa visão.

Creio que há multidões de homens que não conseguem ver estas verdades, ou, pelo menos, não conseguem vê-las do modo em que nós as colocamos, mas que não obstante, têm recebido a Cristo como seu Salvador, e são tão queridos do coração do Deus de graça como o mais ruidoso Calvinista dentro ou fora do Céu. Frequentemente é dito que estas doutrinas nas quais nós cremos têm uma tendência de nos levar ao pecado. 

Eu tenho ouvido isto ser declarado muito positivamente: que aquelas grandes doutrinas que amamos, e que encontramos nas Escrituras, são licenciosas. Não sei quem terá a audácia de fazer esta afirmação, quando considerar que os mais santos dentre os homens têm crido nelas. Pergunto ao homem que se atreve a dizer que o Calvinismo é uma religião licenciosa, o que ele pensa do caráter de Agostinho, ou de Calvino, ou de Whitefield, que em sucessivas eras foram grandes expoentes do sistema da graça; ou o que diria dos Puritanos, cujas obras estão cheias delas? Se um homem tivesse sido um Arminiano naqueles dias, teria sido considerado o mais vil herege vivente, mas agora nós somos vistos como hereges, e eles como ortodoxos.Nós temos retornado à velha escola; nós podemos traçar nossa linhagem desde os apóstolos.

É aquele veio de livre-graça, correndo através da pregação de Batistas, os quais nos têm salvado como denominação. Não é por isto que nós não podemos permanecer onde estamos hoje. Nós podemos correr uma linha dourada até o próprio Jesus Cristo, através de uma santa sucessão de vigorosos pais, todos os quais defenderam estas gloriosas verdades; e podemos perguntar a seu respeito: "Onde você encontraria homens melhores e mais consagrados no mundo?".

Nenhuma doutrina é tão planejada para preservar o homem do pecado quanto a doutrina da graça de Deus. Aqueles que a têm chamado de "doutrina licenciosa" não sabem nada a seu respeito. Coisas pobres da ignorância, eles mal souberam que seu próprio material ruim foi a mais licenciosa doutrina sob o céu. Se eles conhecessem a graça de Deus em verdade, eles logo iriam ver que não houve nada que preservasse mais da queda que o conhecimento de que somos eleitos de Deus desde a fundação do mundo. Não há nada como a crença na perseverança eterna, e na imutabilidade da afeição de meu Pai, que possa me manter mais perto Dele, pela simples razão da gratidão. Nada faz um homem mais virtuoso que a crença na verdade.

Uma mentira doutrinária irá logo produzir uma prática mentirosa. Um homem não pode ter uma crença errada sem em algum momento futuro ter uma vida errônea. Eu creio que uma coisa naturalmente leva à outra.De todos os homens, os que têm a mais desinteressada piedade, a mais sublime reverência, a mais ardente devoção, são aqueles que crêem que são salvos pela graça, sem obras, através da fé, e não de si mesmos, a qual é dom de Deus.4Os Cristãos devem ter cautela, e ver que isto sempre é assim, a fim de que por quaisquer meios Cristo não seja novamente crucificado, e exposto ao vitupério5.

1 Salmo 47:4
2 Jeremias 31:3
3 Salmo 62:6
4 Efésios 2:8-9
5 Hebreus 6:6

12 de dez. de 2010

A Bíblia não diz que Deus não quer que Ninguém Pereça? - R. C. Sproul



O apóstolo Pedro declara com clareza que Deus não quer que ninguém pereça.

“Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para conosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento” (2Pedro 3.9).

Como podemos encaixar este versículo na predestinação? Se não é a vontade de Deus eleger todos para a salvação, como pode então a Bíblia dizer que Deus não quer que ninguém pereça?

Em primeiro lugar precisamos entender que a Bíblia fala da vontade de Deus em mais de uma maneira. Por exemplo, a Bíblia fala do que nós chamamos de vontade soberana eficaz. A vontade soberana de Deus é aquela vontade pela qual Deus faz com que as coisas aconteçam com absoluta certeza. Nada pode resistir à vontade de Deus neste sentido. Por sua soberana vontade, Ele criou o mundo. A luz não poderia recusar-se a brilhar.

A segunda maneira na qual a Bíblia fala da vontade de Deus é com respeito ao que chamamos de vontade preceptiva. A vontade preceptiva de Deus refere-se a seus comandos, suas leis. E a vontade de Deus que façamos o que Ele ordena. Somos capazes de desobedecer a sua vontade. Na realidade, quebramos seus mandamentos. Não podemos fazer isso com impunidade. Fazemos isso sem sua permissão ou sanção. Ainda assim o fazemos. Nós pecamos.

Um terceiro modo que a Bíblia fala da vontade de Deus faz referência à disposição de Deus, ao que agrada a Ele. Deus não tem prazer na morte do ímpio. Existe um sentido no qual a punição do ímpio não traz alegria a Deus. Ele escolhe fazê-lo porque é bom punir o mal. Ele se alegra na justiça de seu julgamento, mas é “triste” que tal julgamento justo precise ser realizado. E algo como um juiz sentar-se na corte e sentenciar seu próprio filho à prisão.

Vamos aplicar estas três definições possíveis à passagem de 2 Pedro.

Se tomarmos a declaração compreensiva “Deus não quer que ninguém pereça”, e aplicarmos a ela a vontade soberana eficaz, a conclusão é óbvia. Ninguém perecerá. Se Deus soberanamente decreta que ninguém deve perecer, e Deus é Deus, então certamente ninguém jamais perecerá. Este, então, seria um texto de prova não para o arminianismo, mas para o universalismo. O texto, então, provaria demais para os arminianos.

Suponha que aplicamos a definição da vontade preceptiva de Deus a esta passagem. Então a passagem significaria que Deus não permite que ninguém pereça. Isto é, Ele proíbe o perecimento das pessoas. E contra sua lei. Se as pessoas fossem adiante e perecessem, Deus teria de puni-las por perecerem. Sua punição por perecerem seria mais perecimento. Mas como alguém se envolve em mais perecimento do que o perecimento? Esta definição não funcionará nesta passagem. Não faz sentido.

A terceira alternativa é que Deus não tem prazer no perecimento das pessoas. Isto se enquadra no que a Bíblia diz, em outros lugares, sobre a disposição de Deus em relação aos perdidos. Esta definição poderia servir nesta passagem. Pedro poderia simplesmente estar dizendo aqui que Deus não tem prazer no perecimento de ninguém.

Embora a terceira definição seja possível e atraente para ser usada na solução desta passagem, com a qual a Bíblia ensina sobre predestinação, há ainda um outro fator a ser considerado. O texto diz mais do que simplesmente que Deus não quer que ninguém pereça. A cláusula inteira é importante: “pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento.”

Qual é o antecedente de nenhum? É claramente “nós” . Será que “nós” se refere a todos nós humanos? Ou se refere a nós cristãos, o povo de Deus? Pedro gosta de falar dos eleitos como um grupo especial de pessoas. Eu acho que o que ele está dizendo aqui é que Deus não quer que nenhum de nós (os eleitos) pereça. Se esse é o seu significado, então o texto exigiria a primeira definição e seria mais uma forte passagem a favor da predestinação.

De duas maneiras diferentes o texto poderia ser harmonizado com a predestinação. De maneira nenhuma sustentaria o arminianismo. Seu único outro significado possível seria o universalismo, que então entraria em conflito com tudo o mais que a Bíblia diz contra o universalismo.

A Enganosa Liberdade do Pecado



Uma das acusações que o cristianismo recebe é a de ser muito cerceador ou repressor. Diz-se que ser cristão ou um crente em Jesus é viver preso, sem qualquer liberdade ou permissão de fazer qualquer coisa que se deseja. Este pensamento diz que o crente está perdendo os prazeres da vida, ela está passando e ele não a está aproveitando. Em resumo a visão deste mundo sobre o crente é que ele é um tolo.
Quando compreendemos o que a Bíblia diz sobre o crente vemos que há um engano claro sobre este pensamento. Há uma pergunta que é muito pertinente sobre esse tema: quem é de fato livre, o crente em Jesus Cristo ou o incrédulo?
Para responder esta pergunta podemos nos valer de vários textos bíblicos, porém vamos usar apenas um versículo. O apóstolo Paulo lidou com o problema da liberdade cristã na igreja de Corinto e quando ele tratou desta questão. Em 1 Coríntios 6.12 está escrito: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas”. É provável que a primeira parte deste versículo fosse uma referência a um provérbio que estava se tornando popular entre os coríntios e Paulo o usa para ensinar-lhes sobre a verdadeira liberdade em Cristo.
Paulo afirma que todas as coisas são lícitas para o crente; e é verdade, pois todo pecado foi pago por Cristo na cruz. Paulo, entretanto acrescenta que nem tudo o que um crente faz será benéfico para ele. A palavra traduzida em nossas Bíblias como “lícitas” vem de uma palavra grega que quer dizer vantajoso, legal, proveitoso. Paulo está então dizendo que o crente pode fazer todas as coisas, mas nem tudo o que ele faz trará vantagem para ele. Isto não é falta de liberdade, muito pelo contrário, é a verdadeira expressão dela. O que o texto está dizendo é que o crente tem a liberdade de escolher fazer coisas vantajosas do ponto de vista espiritual, e que serão proveitosas para o seu relacionamento com Deus. Esta é uma liberdade que só o crente tem. Aqueles que não têm Cristo só fazem aquilo que o pecado lhes ordena que seja feito. Jesus disse que eles são escravos do pecado (Jo 8.34). O crente é alguém que é livre para fazer tudo o que quiser. Quando ele faz o que é bom e correto diante de Deus, ainda que isso seja privação de algum prazer momentâneo, ele o faz não porque não foi livre para fazer de outro jeito. O crente o faz justamente porque usou de sua liberdade em Cristo e escolheu fazer o que é certo. Diferentemente, o incrédulo peca porque não tem outra opção, ele é escravo do pecado. Quem é o livre e quem é o escravo então?
Na frase seguinte do versículo Paulo faz outra afirmação interessante. Ele diz que todas as coisas são lícitas ao crente, mas ele não se deixará dominar por nenhuma delas. O crente é alguém que recebeu poder em Cristo para vencer o pecado. A expressão em português “me deixarei dominar” neste texto é tradução do grego que significa literalmente “estar sob a autoridade de”. Paulo afirma que ele não estaria mais sob a autoridade do pecado, ele foi liberto disso. O crente em Jesus Cristo não tem mais o pecado como senhor de sua vida, ele não é mais escravo do pecado, mas sim de Cristo, que é amoroso, compreensivo, misericordioso e justo. Aqui temos mais uma diferença entre o crente e o incrédulo. É a diferença de domínio. O crente tem Jesus como Senhor, ele está sob o domínio do Salvador. O incrédulo está sob o domínio do pecado e o pecado é injusto, destruidor e enganador.
Enquanto está pecando, o incrédulo pensa que está sendo livre, no entanto ele é tão cego que não vê as correntes do pecado prendendo seus pés, mãos e até mesmo sua mente e boca. Ele está seguindo todas as ordenanças destruidoras do pecado. Em uma paráfrase podemos dizer o que Paulo está afirmando da seguinte maneira: “Eu sou livre em Cristo, por isso posso desobedecer às ordens que o pecado me dá”. Esta é uma liberdade que o incrédulo não tem. Ele está dominado pelo pecado, por isso não consegue deixar de pecar. Ele não é livre para vencer as tentações do adultério, ele não é livre para vencer as tentações da idolatria e da cobiça. Quando faz estas coisas ele se gaba dizendo que é livre, porém ele não sabe que está sendo um pobre escravo, submisso, fraco, subjugado e obediente às ordens do pecado. Ele não é livre para controlar suas palavras, seus pensamentos, e suas atitudes. Ele pensa que tem domínio sobre estas coisas, mas são estas coisas que o dominam. Ele está preso. Como disse o jogador de basebol americano Jim Bouton: “Você gasta uma boa parte de sua vida segurando uma bola de basebol e no final descobre que era justamente o contrário o tempo todo”. O incrédulo pensa que está dominando quando na verdade está sendo dominado.
Quem é livre então? Quem de fato pode fazer o que é certo e agradável a Deus? Somente você que é crente em Cristo Jesus pode realmente dizer que é livre. Alegre-se, pois se você crê em Jesus, como a Bíblia diz, você é livre da enganosa liberdade do pecado.

8 de dez. de 2010

John Piper - Glória de Cristo


Fonte: [Youtube]
Via: [Vem ver Tv]

O que é Calvinismo? - B.B. Warfield



É algo muito estranho como parece difícil para algumas pessoas entenderem simplesmente o que é o Calvinismo. E mesmo assim o assunto em si não é assim tão complicado. É um assunto capaz de ser expresso em uma única frase; e isso, em um nível de compreensão para qualquer tipo de pessoa religiosa. Pelo fato do Calvinismo ser a religião em sua forma mais pura. Precisamos então compreender a religião na pureza de sua essência para entendermos o que é o Calvinismo.

Em que atitude de espírito e de coração pode a religião atingir plenamente seus direitos? Não seria em uma atitude de oração? Quando nós nos prostramos perante o Senhor, não meramente com nossos corpos, mas com nossas mentes e corações, nós assumimos uma postura que acima de qualquer outra, merece ser chamada de uma postura religiosa. E essa postura religiosa por eminência é obviamente uma demonstração de nossa total dependência e humildade. Aquele que se achegar a Deus em oração, não vem com um espírito de auto afirmação, mas em um espírito de total dependência e confiança. Ninguém se dirige a Deus em oração dizendo: “Senhor, mesmo sabendo que Eu sou o arquiteto da minha própria sorte e aquele que determina o meu próprio destino. Tu podes fazer algo para me ajudar para que eu me assegure de meus propósitos, os quais Eu mesmo determinei. Mas meu coração pertence somente a mim, e Tu não podes se intrometer; minha vontade é só minha e o Senhor não pode incliná-la. Quando Eu desejar a sua ajuda, Eu o chamarei para que o faças. Enquanto isso, o Senhor deve esperar as minhas vontades”. Homens e Mulheres podem até raciocinar dessa forma; mas essa não é a forma que eles oram.



Alguém até já fez isso, de verdade, uma vez dois homens foram ao templo para orar. E um deles ficou de pé e orou para ele mesmo (pode até ser que essa expressão “para ele mesmo” tenha um significado mais profundo...), “Deus, eu te agradeço por não ser como os outros homens.” Enquanto o outro falando bem baixinho disse, “Deus tenha misericórdia de mim pois sou um pecador.” Mesmo admitindo que o primeiro declara uma certa dependência de Deus; pois ele agradece a Deus por suas virtudes. Mas nós não temos dúvida sobre qual oração esta embasada em uma atitude verdadeiramente religiosa. Só um demonstrou isso com clareza e dedicação.

Todo homem assume uma atitude religiosa, quando ora. Mas muitos deles parecem “encaixotar” essa atitude exclusivamente em momentos de oração e a descartam de suas vidas assim que dizem amém, pois ao levantarem seus joelhos, tomam uma atitude totalmente diferente, se não no coração, pelo menos em suas mentes. Eles oram como se fossem unicamente dependentes da misericórdia de Deus em suas vidas, mas vivem, ou pelo menos pensam que vivem, como se Deus em certas áreas, depende-se de sua ajuda. O verdadeiro calvinista é o homem que está determinado a preservar essa atitude que ele tem em seus momentos de oração por todo seu proceder e com toda sua mente. Então, pode-se dizer, que esse é um homem que determinou em seu coração que religião me sua forma mais pura deve determinar seus pensamentos, sentimentos e atitudes, de forma totalitária. Essa é a base de uma forma especial de pensar, usando um raciocínio que pode ser chamado Calvinista; e da mesma forma ter uma atitude diferenciada frente ao mundo em que vivemos, pela razão a qual ele tem se tornado uma grande força regeneradora nesse mundo. Outros homens são calvinistas quando estão de joelhos; mas, Calvinista é aquele homem que está determinado em seu intelecto, e coração, e continuará em uma atitude de entrega e dependência continua, e somente essa atitude governará seus pensamentos, sentimentos e ações. Calvinismo é, então, um tipo de pensamento que traz a seu pleno direito a verdadeira atitude de dependência em Deus e humilde confiança em sua misericórdia como único caminho à salvação.

Existem então dois tipos de pensamento religioso nesse mundo se puderem de uma forma não muito própria usar o termo “religioso” para ambos. Existe a religião de fé e existe uma religião de obras. Calvinismo é a pura incorporação do primeiro tipo citado; aquilo que tem sido conhecido através da história como Pelagianismo é a pura incorporação do segundo tipo citado. Toda e qualquer outra forma de ensino “religioso” que se conhece no meio cristão são somente tentativas instáveis de se posicionar entre as duas idéias. No inicio do quinto século, esses dois tipos fundamentais entraram em conflito direto em uma memorável forma personificada nas pessoas de Agostinho e Pelágio. Ambos estavam verdadeiramente envolvidos em uma busca intensa para a melhora da vida de homens e mulheres. Porém Pelágio em suas exortações colocava o homem como total responsável em seus atos; eles eram capazes, declarava ele, de fazer tudo aquilo que Deus havia ordenado, de acordo com suas próprias forças, pois se isso não fosse verdade, Deus não o teria ordenado. Agostinho ao contrário apontava os seres humanos em suas fraquezas e total dependência de Deus; “Ele mesmo”, disse Agostinho, em seu fervoroso discurso, “Ele mesmo é o nosso poder”.O primeiro pregava a “religião” baseada em uma autodependência, já o segundo pregava uma religião de total dependência em Deus; o primeiro pregava uma “religião” de obras; o segundo, uma religião de fé. O primeiro não pode ser considerado religião, seus ensinos representam mero moralismo; o segundo ensina verdadeiramente aquilo que significa religião. Somente nessa proporção essa atitude de fé pode representar nosso pensamento, sentimentos e nossa vida de forma verdadeiramente religiosa. Calvinismo representa esse tipo de pensamento no qual se proclama o Reino.

“Existe um estado da mente”, (disse o Professor William James em sua palestra sobre “A Variedade de Experiências Religiosas”) “conhecido pelo homem religioso, mas para mais ninguém, na qual a vontade de nos afirmar e nos assegurar é demonstrada por uma vontade de fechar nossas bocas e nos tornarmos totalmente passivos frente as enxurradas de bênçãos vindas de Deus.” Ele está descrevendo o que ele considera ser um verdadeiro espírito religioso, que é contrário o que ele mesmo chama de “mero moralismo”.

“O moralista”, ele nos diz, “tem que prender a respiração e manter-se tenso”; pois as coisas só darão certo para ele quando ele mesmo conseguir. O homem religioso, ao contrário, encontra sua consolação na sua total falta de poder; sua confiança não está em si mesmo, mas em Deus; e “o momento de sua morte moral se torna seu nascimento espiritual”.

O analista psicológico conseguiu captar a exata distinção entre o moralismo e religião. É a distinção entre acreditar em nós mesmos e confiar em Deus. E quando nós retiramos toda a confiança em nós mesmos, e a confiança em Deus toma conta de nossas vidas de forma total e pura, então nós chegamos à essência do Calvinismo. Sob o nome de religião, nesse mesmo nível, o que o Professor James descreveu é sem dúvida Calvinismo.

Nós podemos usar o testemunho do Professor James, então, como testemunho que a religião em seu nível mais elevado, é o puro Calvinismo. Existem muitas formas de ensinos religiosos no mundo, que não são Calvinismo. Pelo fato, os ensinos, mesmo dentro da própria religião freqüentemente nos oferece “partículas de luz”. Não existe uma religião verdadeira no mundo, entretanto, que não é Calvinista – Calvinista em essência, Calvinista em suas implicações. Quando essas implicações são externadas e afirmadas, e a essência chega a seu verdadeiro propósito, nós obtemos dela o puro Calvinismo. Na proporção de nossa própria religiosidade, nessa proporção, então, somos nós Calvinistas? E quando a religião chega de forma total ao nosso pensamento, sentimento e agir, então nós seremos verdadeiramente Calvinistas. Por essa causa, aqueles que tem experimentado ao menos uma pequena amostra dessas coisas, amam com toda sua força aquilo que foi chamado pelos homens de “Calvinismo”, algumas vezes com uma aparência de contentamento; e porque eles se inclinam a essa idéia com entusiasmo. Não é mera expectativa de uma verdadeira religião no mundo: É a verdadeira religião no mundo, na total possibilidade que uma verdadeira religião no mundo tem de existir.

7 de dez. de 2010

Porque você precisa estudar teologia? .



Palavras como teologia e doutrina têm conotações negativas para muitos cristãos. Isto é uma grande tragédia, pois acredito firmamente que todo cristão precisa estudar teologia em algum momento de sua caminhada cristã. Em nenhuma ordem em particular, aqui vão cinco razões de porque você precisa estudar teologia, e possivelmente algumas delas você não tenha considerado antes.
1. Você já é um teólogo.
Por que você precisa estudar teologia? Porque teologia não é uma coisa que apenas o professor de teologia tem – todos nós cremos em alguma coisa sobre Deus e, portanto, somos teólogos à nossa própria maneira. No entanto, o que precisa ser questionado é se o que você crê é correto, e o estudo da teologia pode ajudar a responder essa pergunta.
2. Seu amor por Jesus é intrisicamente ligado com seu conhecimento de sua Palavra.
Por que você precisa estudar teologia? Porque Jesus disse: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” (João 14.15). Ouvi alguém dizendo que o certo cristão pode não ser grande teologicamente, mas estava tudo bem porque ele realmenteamava Jesus. Entretanto, Jesus diz que se nós o amamos, obedeceremos o que ele ordena. Como nós podemos obedecê-lo se nós não vamos à sua Palavra para conhecer corretamente seus mandamentos?
3. Sua doutrina determinará como você vive.
Por que você precisa estudar teologia? Porque o que você acredita (sua doutrina) determinará como você vive (sua prática). Isto pode ser visto em sua vida cotidiana. Se você acredita que alguma coisa é venenosa, você simplesmente não a bebe. Similarmente, suas crenças sobre Deus e sua Palavra determinam como você vive dia a dia. Por exemplo, se você acredita que Deus fala somente através de sua Palavra então você a estudará diligentemente. Entretanto, se você acredita que Deus fala através de impressões e coisas parecidas, então você procurará por aquela pequena voz silenciosa. O exemplo acima drasticamente muda como uma pessoa procurará encontrar a vontade de Deus para sua vida, e ilustra porque você precisa estudar teologia.
4. Suas afeições determinarão o que você estuda.
Por que você precisa estudar teologia? Porque onde suas afeições estão colocadas determinará o que você gastará tempo estudando. Se seu hobby é fotografia você desejará estudar o assunto para saber como melhorar suas fotografias e aumentar seu amor e apreciação por esse passatempo. Da mesma forma, se você é cristão e sua afeição principal está sobre Deus, por que você não desejaria estudar a Palavra para aumentar seu amor e apreciação por ele e sua Palavra?
5. Sua humildade depende disso.
Por que você precisa estudar teologia? Porque sem estudar teologia, é possível que você pense muito bem sobre você, mas não bem o bastante de Deus. Se é verdade que o conhecimento incha (1 Coríntios 8.1), as Escrituras, pelo contrário, quando corretamente entendidas e aplicadas, darão a você, por exemplo, o conhecimento da depravação e miserabilidade humana diante de Deus, e também darão conhecimento da magnificência, santidade, soberania e graça de Deus, o que somente pode servir para levar um verdadeiro convertido a ajoelhar-se em humildade.
Possa Deus ser glorificado quando você estudar teologia, com o desejo de saber mais sobre sua revelação especial ao homem.
Autor: Nathan W. Bingham
Fonte: [ Iprodigo ]
Via: [Bereianos]
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