29 de abr. de 2013

Vinde a Mim (Paul Waher) – Série Um Verdadeiro Discipulo



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Paul Washer prega sobre a oferta universal da salvação de Deus através do Evangelho de Jesus Cristo, a corrupção e miséria do homem caído e a importância da regeneração operada no homem pelo Espírito Santo.
Por: Paul Washer © HeartCry Missionary Society. Website: hcmissions.com.
Permissões: Você está autorizado e incentivado a reproduzir e distribuir este material em qualquer formato, desde que informe o autor, seu ministério e o tradutor, não altere o conteúdo original e não o utilize para fins comerciais.


Fonte: [Voltemos ao Evangelho]

Diário de bordo: Coreia do Norte – Parte 2


A Portas Abertas teve acesso ao relato de uma brasileira que viajou recentemente para a Coreia do Norte. Número 1 na Classificação de países por perseguição, esse é o lugar onde é mais difícil ser cristão. Em meio às tensões políticas da atualidade, leia o testemunho de quem esteve lá e viu como as coisas funcionam realmente. Confira a segunda parte dessa experiência
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3º dia –
 Hoje foi um dia muito pesado. Visitamos o museu da guerra. O passado ainda é muito vivo na memória do povo, um passado traumático que reflete em todas as ações nos dias atuais. Os guias sempre perguntam aos norte-americanos se eles estão bem, diante dos relatos das atrocidades cometidas no passado pelos Estados Unidos, eles dizem que não tem nada contra os cidadãos norte-americanos, apenas contra o governo.
Seguimos viagem para Kaesong, uma cidadezinha muito bonita, com muitas crianças em todo o caminho. Encontramos algumas crianças em seu primeiro dia de aula e nos foi permitido tirar foto com elas, cada pequeno contato é muito especial.
4º dia – Hoje visitamos o museu onde foi assinado o armistício. Um norte americano tirou uma foto apertando a mão de um soldado. Fomos acompanhados por soldados em nosso ônibus durante todo um trajeto onde há militares.
Passamos rapidamente por alguns pontos turísticos, a líder de nossa equipe nos indicou os lugares onde havia ocorrido o grande avivamento do passado, desse modo, oramos e cantamos nestes lugares. Nossos guias turísticos sempre esperavam e respeitavam estes momentos. Uma vez, um guia até disse que seria bom orar por paz em determinado lugar.
Após isso, fomos ao paralelo 38, na linha que divide as duas Coréias. Havia mais soldados do lado Sul do que o normal e uma movimentação de jornalistas. Afastamos-nos um pouco do local e oramos por paz, depois cantamos "He is Lord". Podia-se sentir a tensão e opressão no local.
No final da tarde retornamos a Pyongyang, fomos a um circo. O espetáculo foi muito bom, os coreanos são realmente disciplinados e engraçados como palhaços.
5 º dia - Assim como a chuva e a neve descem dos céus e não voltam para ele sem regarem a terra e fazerem-na brotar e florescer, para ela produzir semente para o semeador e pão para o que come, assim também ocorre com a palavra que sai da minha boca: Ela não voltará para mim vazia, mas fará o que desejo e atingirá o propósito para o qual a enviei.  Isaías 55:10-11
Deus trouxe esse texto ao meu coração pela manhã. Cremos que o propósito para o qual viemos foi atingido, é preciso paciência para aguardar a colheita.
Visitamos uma grande biblioteca, um hospital maternidade e lá oramos pelas famílias e bebes. No período da tarde, fomos a uma escola. Assistimos as apresentações de música e dança das crianças, em certo momento elas nos convidaram a dançar com elas. Foi muito especial. No final cantamos "Yes, Jesus loves me", me senti muito encorajada em estar com as crianças e cantar sobre Jesus para elas, mesmo cantando em inglês. Sei que embora elas não tenham compreendido a letra, Deus agiu naquele lugar.
6º dia – Dia da partida. Tivemos nosso grupo de oração e me senti mal, com uma dor enorme no coração pelos norte-coreanos, choramos e oramos juntos, até que o mal estar foi passando. Senti uma um peso de batalha espiritual enorme nessa manhã. Mas Deus nos trouxe esperança para o futuro e compartilhou uma visão com o nosso grupo.
Retornamos a China de trem, enquanto que os norte-americanos tiveram que retornar de avião, pois assim era mais fácil para serem controlados.
Saio do país com o coração grato a Deus por ter nos trazido neste momento.
Tivemos acesso aos lugares que contribuíam para a boa imagem da nação, mas ao mesmo tempo não foi possível esconder a pobreza e sofrimento da população no trajeto para o interior. Deixo a Coréia do Norte, com a certeza de que um dia vou retornar para contribuir com a propagação do Reino de Deus neste lugar. Amo os norte coreanos e agora mais do que nunca me sinto parte deste povo, sinto as suas dores e as suas alegrias.
Leia aqui a primeira parte do relato.

Através de um projeto da Portas Abertas, ajude refugiados norte-coreanos!
Fonte: [Portas Abertas]

22 de abr. de 2013

Interrupções são oportunidades divinas

por Trevin Wax
Trevin Wax
Trevin Wax
Eu confesso. Sou maníaco por controle.
Para dar um nome melhor para minha mania, eu poderia dizer que é porque eu sou “disciplinado” e gosto de planejar o meu tempo. Mas essa não é a realidade. A verdade é que eu gosto de estar no controle, porque isso me faz sentir poderoso e seguro. A questão central é que eu estou à procura de segurança em algo que não seja Deus. Então, é idolatria, não disciplina.
Se você gosta de estar no controle das situações, então você sabe o que significa interrupções.  Elas são frustrantes.  Atrapalham seus planos. Precisam ser evitadas, descartadas ou tratadas o quanto antes para você poder voltar ao controle, certo?
Errado.
Aqueles entre nós que seguem Jesus não deveriam agir assim quando interrompidos. Nós não deveríamos encarar interrupções como obstáculos para nossos planos, mas oportunidades de abraçar os planos de Deus.

Jesus interrompido

Não consigo evitar de ficar maravilhado com o jeito que Jesus lidava com as interrupções. Pegue a historia em Mateus 14, quando Jesus descobre a decapitação de João Batista. Ele se entristece com a notícia e quer ficar só. Então, o que ele faz? Ele entra no barco e começa uma viagem para conseguir algum consolo e alívio.
Mas o consolo de Jesus é interrompido. Uma grande multidão fica sabendo do seu plano e vai para a outra margem esperar por ele.
Imagine Jesus enquanto se aproxima da margem e enxerga as milhares de pessoas esperando para encontrar com ele. A maioria de nós ficaria frustrada com essa visão. Provavelmente pensaríamos no melhor jeito de mandar todo mundo embora. Ou talvez ficássemos no barco e iríamos para outro lugar.
Mas não é essa a reação de Jesus. Ele não está  frustrado. Mateus diz que ele sentiu compaixão pelas pessoas.
Compaixão?
É, enquanto estou ocupado imaginando uma forma de me manter no controle, Jesus está pensando em como ele pode mostrar compaixão. Ele não fica se lamentando. Ao invés disso, ele coloca os outros em primeiro lugar. O que provoca frustração em nós, provoca compaixão nele!

Interrupções e coisas da “vida real”

A maioria de nós acha que as interrupções atrapalha a “vida real”. É por isso que não gostamos delas. Elas nos lembra que não estamos no controle.
  • O tráfego mais pesado que o de costume, e você perde o compromisso;
  • Circunstâncias imprevistas que fizeram você perder o prazo;
  • Seu filho que pegou uma gripe exatamente quando você deveria sair de férias.
C. S. Lewis recomendou que cristãos parassem de olhar tudo que é desagradável ​​como interrupções de sua “própria” vida, ou vida “real”. Ele escreve:
É claro que a verdade em torno do que se chama de interrupções é exatamente a própria vida real – a vida que Deus está dando dia-a-dia: o que se chama de ‘vida real’ de uma pessoa é um fantasma de sua própria imaginação.
Interrupções não são obstáculos aos nossos planos; elas são oportunidades para nós abraçarmos os planos de Deus.
Assim, a próxima vez que a vida real colidir com sua ideia que você está “no controle”, procure pela oportunidade de mostrar a compaixão de Cristo. Ao invés de ficar frustrado com a presença de outras pessoas, procure pela oportunidade de refletir a compaixão do Salvador.
Traduzido por Diogo Bastos | iPródigo.com | Original aqui
Via: [iPródigo]

Cristãos brasileiros deixam prisão no Senegal, mas não podem sair do país Parte 2


Uziel Santana, presidente da ANAJURE, confirmou que a libertação dos missionários foi obtida após o juiz aceitar que o caso do projeto Obadias havia sido a primeira ocorrência na impecável ficha criminal deles
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“Quando apresentamos provas de que eles não possuíam ocorrências em suas respectivas fichas criminais, ambos foram temporariamente libertados”, contou Uziel Santana, em relação ao processo dos missionários brasileiros José Dison da Silva e Zeneide Moreira.
Leia mais sobre o caso aqui.
“Eles deverão se apresentar na prisão de 15 em 15 dias e não podem sair do país. Dentro de 30 dias após a sua liberação, eles serão julgados.” Nesse meio tempo, segundo Santana,  a ANAJURE está cuidando da legalização do Projeto Obadias.

A despeito do ocorrido, diversas fontes afirmaram que Silva esteve de bom humor durante o encarceramento, testemunhando de sua fé aos outros detentos. Em uma carta dirigida a sua esposa, Marli, ele escreveu: "Escreva a todos, até aos que estão no Senegal, que o inimigo irá colocar alguns na prisão, mas tudo será para a glória de Deus”.

A libertação dos dois missionários foi recebida com alegria e alívio por membros das comunidades cristãs da cidade de Thies. Um estrangeiro que frequenta os cultos dominicais da igreja batista disse à agência de notícias World Watch Monitorque houve lágrimas de alegria e um tempo de oração emocionante.
A prisão de obreiros cristãos estrangeiros sem um processo judicial levantou muitas questões em um país visto como modelo de democracia na África, também conhecido por sua cultura de tolerância.

Projeto Obadias
Silva, que trabalha no Senegal desde 2005, levantou o orfanato e Projeto Obadias em 2011, com o objetivo de tirar crianças das ruas, lhes oferecendo casa e comida, além de educação e atividades esportivas. Zeneide atua no abrigo como a “mãe” que muitos pequenos não têm.

Milhares de crianças no oeste africano, provenientes de famílias da zona rural pobres demais para criá-las, são enviadas para grandes cidades, ainda e tenra idade – aos 3 e 4 anos – para receberem ensino. Esse ensino consiste primariamente de aulas sobre o Alcorão. Esses “talibes” ou “estudantes do Alcorão” precisam mendigar nas ruas, sob a supervisão de talibes mais velhos, e estão sujeitos a diversos maus-tratos.

Na maioria das vezes, vivem em meio à pobreza. Em março, nove crianças morreram em um incêndio numa escola corânica em Senegal. Quando as crianças se tornam adolescentes, saem dos cuidados do imame e devem tomar conta de si mesmas e encontrar um emprego.
História de tolerânciaO Senegal faz fronteira com o Mali e a Mauritânia, e 94% de seus 13 milhões de habitantes são muçulmanos. A convivência entre eles e a minoria cristã tem sido pacífica. O primeiro presidente do Senegal, Léopold Sédar Senghor (de 1960 a 1980) era católico, e recebeu a visita do papa João Paulo II em 1992.
Essa cultura de tolerância tem sido percebida de várias maneiras no Senegal: cristãos e muçulmanos são enterrados nos  mesmos cemitérios de diversas cidades.
Entretanto, como em muitos países do oeste africano, o Senegal tem alto índice de pobreza e desemprego generalizado. O tráfico de seres humanos e a  exploração infantil são sérios problemas sociais, a despeito da economia relativamente estável.
Nos últimos anos vêm sendo relatado alguns ataques contra cristãos. Sete igrejas evangélicas foram saqueadas ou incendiadas entre 2010 e 2011, incitando uma forte reação da Aliança de Evangélicos do Senegal. Seu presidente à época, pastor Eloi Sabel Dogue, condenou tais ataques e pediu que a lei fosse respeitada uma conferência de imprensa realizada em 1º de julho de 2011.
“Nem a Constituição do Senegal nem a Carta Africana de Direitos Humanos nem a Declaração de Direitos Humanos da ONU e, menos ainda, nossos valores culturais podem ser mencionados como justificativa para tais atos”, disse ele.
FontePortas Abertas Internacional
TraduçãoDaila Fanny

12 de abr. de 2013

A verdade é uma Pessoa e não um conceito?


Hoje ouvi um renomado pastor falar que "para nós, cristãos, a verdade é uma Pessoa e não um conceito". Ele certamente está se baseando na declaração de Jesus "eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim" (Jo 14:6) e usando-a para questionar a validade de declarações teológicas acerca de Deus, de Cristo, da salvação, etc. É o velho argumento de que o Cristianismo é uma relação com Deus e não um conjunto de declarações teológicas ou proposições doutrinárias. 

Então, tá.

Eu concordo que o Cristianismo não pode ser reduzido a um conjunto de conceitos teológicos em detrimento da busca de um relacionamento pessoal e significativo com Deus mediante Jesus Cristo. Mas será que temos que excluir uma coisa em favor da outra?

O que é a declaração deste pastor, "a verdade é uma Pessoa e não um conceito," senão um conceito em si mesma? Se ele está dizendo a verdade, como acha que está, então a verdade é conceitual também. Ou não?


O próprio Jesus usou um conceito ou uma proposição ao dizer "eu sou o caminho, a verdade e a vida." Se isto aqui não for a verdade sob a forma de um conceito, o que mais será? Além do mais, se eu perguntasse ao ilustre pastor, "Tá. Mas, quem é Jesus, então?" - ele só poderia me responder a verdade usando conceitos, declarações, proposições, sentenças de sentido teológico.

Ah, outra coisa: se eu quiser conhecer esta Pessoa, que é a verdade, onde vou encontrá-la, como posso conhecê-la? Resposta: num livro, recheado de conceitos, na forma de declarações, afirmações, depoimentos, testemunhos e revelações, que é a Bíblia.

Esta raiva que determinados liberais têm contra a ideia de que existe verdade absoluta e que a mesma pode ser entendia e transmitida mediante conceitos, argumentos, declarações e proposições chega ao ponto de quererem separar Jesus do registro que foi feito dele pelos seus próprios apóstolos, a mando e orientação do próprio Jesus.

Fonte: [O Tempora, O Mores]

A necessidade da Expiação




por John Murray


A realização da redenção preocupa-se com aquilo que é geralmente chamado expiação. Nenhum estudo da expiação pode ser devidamente desenvolvido sem reconhecer em primeiro lugar o livre e soberano amor de Deus. Esta perspectiva se encontra no texto mais conhecido da Bíblia: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16). Temos aqui uma revelação fundamental de Deus e, portanto, do pensamento humano. Além disso não podemos e nem devemos aventurar-nos ir.

Pelo fato de ser um fundamento do pensamento humano não exclui, contudo, outras caracterizações desse amor de Deus. A Escritura nos informa que esse amor de Deus, do qual a expiação emana, e da qual é a sua expressão, é um amor distinto. Ninguém gloriava-se nesse amor de Deus mais do que o apóstolo Paulo. “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco, pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Romanos 5:8). “Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou a seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura não nos dará graciosamente com ele todas as coisas?” (Romanos 8:31,32). Contudo, é o mesmo apóstolo que nos delineia o eterno conselho de Deus que fornece o contexto para tal afirmação e que nos define a órbita dentro da qual tais pronunciamentos têm sentido e validade. Ele escreve: “Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” (Romanos 8:29). E em outro lugar, ele se torna talvez ainda mais explícito quando diz:“Assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade” (Efésios 1:4,5). O amor de Deus, do qual a expiação se origina, não é indiscriminado; é um amor que elege e predestina. Deus foi servido em colocar o seu amor invencível e eterno sobre uma multidão inumerável, e é o propósito determinante deste amor que assegura a expiação.

É necessário salientar este conceito de amor soberano. Verdadeiramente, Deus é amor. O amor não é algo à parte de Deus, não é algo que ele pode escolher ser ou não ser. Deus é necessariamente amor; o amor lhe é inerente e eterno. Da mesma forma em que Deus é espírito e luz, assim ele é amor. Porém, pertence à própria essência do amor eletivo o reconhecimento de que este amor necessariamente não deve culminar em redenção e adoção em favor de objetos que são totalmente indesejáveis e merecedores do inferno. Foi do livre e soberano beneplácito de sua vontade, um beneplácito que emana das profundezas da sua própria bondade, que ele elegeu um povo para ser herdeiro de Deus e co-herdeiro com Cristo. A razão reside inteiramente nele mesmo e procede das determinações que são peculiarmente suas: “Eu sou o que Sou”. A expiação não persuade e nem compele o amor de Deus. Pelo contrário, o amor de Deus é que compele à expiação, como o meio para cumprir o propósito determinante deste mesmo amor. [1]

Devemos compreender, portanto, que o amor de Deus é uma premissa estabelecida, ou seja, este amor é a causa ou a fonte da expiação. Todavia, isto não resolve o problema quanto à razão ou necessidade da expiação. Qual é a razão por que o amor de Deus deve tomar um caminho na realização de seu fim e no cumprimento de seu propósito? Somos compelidos a indagar: Por que o sacrifício do Filho de Deus? Por que o sangue do Senhor da glória? Anselmo de Canterbury perguntou: “Sabendo que Deus é onipotente, qual foi a necessidade e qual foi a razão para tomar sobre si a humilhação ”. [2] Por que Deus não podia realizar os propósitos de seu amor para a humanidade pela palavra de seu poder ou pelo decreto de sua vontade? Se declaramos que ele não podia, estamos impugnando o seu poder? Se declaramos que ele podia, porém não quis, estamos impugnando a sua sabedoria? Tais indagações não são sutilezas escolásticas e nem vã curiosidade. Fugir delas é perder algo que é central na interpretação da obra redentora de Cristo e perder a visão de uma parte de sua glória essencial. Por que Deus se fez homem? E tendo-se tornado homem, por que morreu? E tendo morrido, por que morreu a morte maldita de cruz? Esta é a indagação sobre a necessidade da expiação.

Entre as respostas oferecidas para estas perguntas, duas são mais importantes. Elas são, antes de tudo, o conceito conhecido como necessidade hipotética, e, segundo, o conceito que podemos designar como o da necessidade conseqüente e absoluta. O primeiro foi defendido por homens eruditos, tais como Agostinho e Tomás de Aquino.[3] O segundo pode ser considerado como a posição clássica do protestantismo.

O conceito conhecido como necessidade hipotética assevera que Deus podia perdoar o pecado e salvar os seus eleitos sem a expiação ou satisfação — outros meios estavam disponíveis a Deus, a quem todas as coisas são possíveis. Porém, a forma de sacrifício vicário do Filho de Deus foi simplesmente o meio que Deus, em sua graça e sabedoria soberanas, escolheu, porque este é o meio pelo qual a graça é mais maravilhosamente revelada. Assim, embora Deus pudesse salvar sem uma expiação, todavia, de acordo com o seu decreto soberano, ele de fato não o fez. Sem derramamento de sangue, realmente não há remissão nem salvação. Contudo, não há nada inerente à natureza de Deus ou à natureza da remissão do pecado que faz o derramamento de sangue indispensável.

Chamamos ao outro conceito de necessidade conseqüente e absoluta. A palavra “conseqüente”, nesta designação, se refere ao fato de que a vontade de Deus ou o decreto para salvar alguém é de livre e soberana graça. A salvação de homens perdidos não foi uma necessidade absoluta, e, sim, a expressão do beneplácito de Deus. Os termos “necessidade absoluta”, porém, indicam que Deus, tendo elegido alguns para a vida eterna, segundo o seu livre beneplácito, se sentiu na obrigação de cumprir este propósito através do sacrifício de seu próprio Filho, uma obrigação que emanou das perfeições da sua própria natureza. Em uma palavra, embora não fosse inerentemente necessário que Deus salvasse, todavia, desde que a salvação foi propositada, era necessário assegurar esta salvação através de uma satisfação que pudesse ser realizada somente através de um sacrifício substitutivo e uma redenção adquirida por meio de sangue. [4]

Pode parecer algo inutilmente especulativo e presunçoso forçar tal indagação e procurar determinar o que é inerentemente necessário para Deus. Além disso, pode surgir um texto como: “sem derramamento de sangue não há remissão”, que a revelação se limita a dizer que de fato não há remissão sem derramamento de sangue, e que iríamos além da autoridade da Escritura afirmando o que é de fato indispensável para Deus.

Mas não é presunçoso quando dizemos que certas coisas são inerentemente necessárias ou impossíveis para Deus. Pertence à nossa fé em Deus confessar que ele não pode mentir e que não pode negar-se a si mesmo. Os não pode divinos são a sua glória, e para nós deixar de admitir tais impossíveis seria negar a glória e a perfeição de Deus.

A realidade da questão é: a Escritura nos fornece evidências ou considerações pelas quais podemos concluir que esta é uma das coisas impossíveis ou necessárias para Deus; impossível que ele salve pecadores sem sacrifício vicário e inerentemente necessário, portanto a salvação, livre e soberanamente determinada, seria realizada somente pelo derramamento do sangue do Senhor da glória. As seguintes considerações bíblicas nos induzem a dar uma resposta afirmativa. Quando aduzimos estas considerações, devemos lembrar que elas têm de ser vistas em coordenação e em seu efeito cumulativo.

1. Existem passagens que criam uma forte conjectura em favor desta inferência. Por exemplo, em Hb 2.10,17 é afirmado que Deus, a fim de conduzir muitos filhos à glória, foi servido que o Comandante da salvação deles fosse aperfeiçoado pelos sofrimentos e que em todas as coisas se tornasse semelhante aos irmãos. A força de tais expressões é dificilmente satisfeita pela noção de que foi simplesmente consoante com a sabedoria e o amor de Deus realizar a salvação desta maneira. Os adeptos do conceito da necessidade hipotética não reconhecem estas dificuldades. Mas existe muito mais nesse texto. Ele ensina que as exigências do propósito da graça que os ditames divinos requeriam que a salvação fosse realizada somente através de um Líder supremo da salvação que seria aperfeiçoado através de sofrimentos, e foi necessário que este supremo Guia da salvação fosse feito em todas as coisas semelhante aos homens. Em outras palavras, somos conduzidos da idéia de consonância com o caráter divino à idéia dos direitos divinos que tornam in dispensável que muitos filhos sejam conduzidos à glória desta maneira específica. Se este for o caso, então somos levados a concluir que as exigências divinas são satisfeitas pelos sofrimentos do Chefe da salvação.

2. Há passagens, como Jo 3.14-16, que de forma clara sugerem que a alternativa de oferecer o Filho unigênito de Deus e de ser ele levantado no madeiro maldito é a perdição eterna dos perdidos. O perigo eterno a que os perdidos estão expostos é remediado pela doação do Filho. Porém, dificilmente podemos escapar da idéia adicional de que não existe outra alternativa.

3. Passagens tais como Hb 1.1-3; 2.9-18; 9.9-14,22-28 ensinam claramente que a eficácia da obra de Cristo é dependente da constituição única de sua pessoa. Este fato, por si mesmo, não estabelece o ponto em questão. Porém, considerações contextuais revelam outras implicações. A ênfase nestes textos tem por base a finalidade, a perfeição e a eficácia transcendentes do sacrifício de Cristo. Tal finalidade, perfeição e eficácia são necessárias por causa da gravidade do pecado, e o pecado tem de ser eficazmente removido para que a salvação seja realizada. Esta é a consideração que dá força à necessidade mencionada em Hb 9.23, ao efeito que, enquanto as figuras das coisas celestiais se purificassem com o sangue de cabritos e bezerros, as próprias coisas celestiais fossem purificadas com nenhum outro sangue senão o do Filho. Em outras palavras, existe uma necessidade que não pode ser expiada senão pelo sangue de Jesus. Mas o sangue de Jesus é o sangue que tem a indispensável virtude e eficácia somente naquele que é o Filho, a refulgência da glória do Pai e a expressa imagem da sua substância. Ele se tornou participante da carne e sangue, e assim ele foi qualificado por um único sacrifício a aperfeiçoar todos aqueles que são santificados. Certamente que não é uma inferência sem base concluir que a idéia aqui apresentada é que somente esta pessoa, oferecendo tal sacrifício, pôde resolver o problema do pecado, removendo-o e fazendo total purificação, garantiu que muitos filhos seriam trazidos à glória, tendo acesso à santíssima presença divina. É o mesmo que dizer que o derramamento do sangue de Jesus foi necessário para os fins propostos e assegurados.

Há também outras considerações que podem ser derivadas destas passagens, especialmente Hb 9.9-14, 22-28. São considerações que surgem do fato de que o próprio sacrifício de Cristo é o grande exemplo do qual os sacrifícios levíticos foram figuras. Às vezes pensamos nos sacrifícios levíticos como que fornecendo as figuras do sacrifício de Cristo. Esta forma de pensar não é incorreta - os sacrifícios levíticos nos fornecem os elementos em termos por meio dos quais podemos interpretar o sacrifício de Cristo, especialmente as categorias da expiação, propiciação e reconciliação. Porém esta linha de pensamento não é a característica de Hb 9. A ideia específica é que os sacrifícios levíticos foram figuras segundo o modelo celestial - foram “figuras das coisas que se acham nos céus” (Hb 9.23). Por isso, a necessidade de se oferecer sangue na economia levítica surgiu do fato de que o modelo, do qual elas eram figuras, foi uma oferenda de sangue, a oferenda do sangue transcendente pelo qual as coisas celestiais são purificadas. A necessidade de derramamento de sangue na ordenança levítica é simplesmente uma necessidade que surge da necessidade de derramamento de sangue na mais alta esfera celestial. Ora, a nossa pergunta é a seguinte: que espécie de necessidade é está que surgiu na esfera celestial? Foi meramente hipotética ou foi absoluta? As seguintes observações indicarão a resposta.

a) A ênfase do contexto é que a eficácia transcendente do sacrifício de Cristo é requerida pelas exigências oriundas do pecado. E estas exigências não são hipotéticas - são absolutas. A lógica desta ênfase sobre a gravidade intrínseca do pecado e a necessidade de sua remoção não concordam com a idéia de uma necessidade hipotética - a realidade e a gravidade do pecado fazem com que uma expiação efetiva seja indispensável e, portanto, absolutamente necessária.

b) A natureza exata da oferta sacerdotal de Cristo e a eficácia de seu sacrifício estão inseparavelmente ligadas com a constituição de sua pessoa. Se houvesse a necessidade de tal sacrifício a fim de remover o pecado, nenhum outro, senão Cristo, poderia oferecer tal sacrifício. E isso revela a necessidade que tal pessoa ofereça tal sacrifício.

c) Nesta passagem, as coisas celestiais em conexão com as quais o sangue de Cristo foi derramado são denominadas verdadeiras. O contraste subentendido não é verdadeiro em oposição ao falso ou real, mas em oposição ao fictício. O celestial é contrastado com o terreno, o eternal com o temporário, o completo com o parcial, o final com o provisório, o permanente com aquilo que é efêmero. Quando consideramos o sacrifício de Cristo como uma oferta em conexão com as coisas correspondentes àquela caracterização - celestial, eterno, completo, final, permanente - é impossível pensar que este sacrifício foi apenas hipoteticamente necessário na realização do desígnio de Deus em trazer muitos filhos à glória. Se o sacrifício de Cristo fosse apenas hipotética­ mente necessário, então as coisas celestiais em conexão com o que é relevante e significante, seriam também apenas hipoteticamente necessárias. E esta é sem dúvida uma hipótese demasiadamente difícil.

A síntese da questão é que uma necessidade (Hb 9.23) para o derramamento do sangue de Cristo para a remissão dos pecados (vv.14, 22, 26) é aqui proposta, e é urna necessidade sem reserva ou qualificação.

4. A salvação que a eleição da graça envolve em cada conceito da necessidade da expiação é a salvação do pecado para a santificação e comunhão com Deus. Mas se pensarmos na salvação assim concebida em termos que são compatíveis com a santidade e justiça de Deus, esta salvação deve incluir não apenas o perdão do pecado, mas também a justificação. E deve ser uma justificação que reconheça a nossa situação como culpados e condenados. Esta justificação implica a.necessidade de uma justiça que seja adequada à nossa situação. De fato a graça reina, mas uma graça reinante à parte da justiça não é apenas inverossímel, mas também inconcebível. Ora, que justiça é igual à justificação de pecadores? A única justiça concebível que satisfará as necessidades da nossa situação como pecadores e que satisfará as exigências de uma plena e irrevogável justificação é a justiça de Cristo. Esta afirmação implica a sua obediência e, portanto, a sua encarnação, morte e ressurreição. Em uma palavra, a necessidade da expiação é inerente. Uma salvação do pecado que é divorciada da justificação é uma impossibilidade, e a justificação de pecadores sem a justiça divina do Redentor é inconcebível. É difícil fugir da relevância da palavra de Paulo: “Porque se fosse promulgada uma lei que pudesse dar vida, a justiça, na verdade, seria procedente de lei”. (Gl 3.21). O que Paulo enfatiza é que, se a justificação fosse possível por qualquer outro método e não pela fé em Cristo, então esse método teria sido utilizado.

5. A cruz de Cristo é a demonstração suprema do amor de Deus (Rm 5.8; 1 Jo 4.10). O caráter supremo da demonstração reside no extremo custo do sacrifício oferecido. É a respeito deste elevado custo que Paulo faz referência quando escreve: “Aquele que não poupou a seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou” (Rm 8.32). O custo do sacrifício nos persuade a respeito da grandeza do amor de Deus e garante a doação de todas as demais dádivas de forma gratuita.

Contudo, devemos perguntar: a cruz de Cristo seria a manifestação suprema do amor de Deus se não houvesse necessidade de tal custo? Não é verdade que a única inferência com base na qual a cruz de Cristo pode nos ser recomendada como a manifestação suprema do amor de Deus, e que as exigências em questão requereram nada menos que o sacrifício do Filho de Deus? Com base nesta pressuposição, podemos entender a palavra do apóstolo João: “Nisto consiste o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou, e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados” (1 Jo 4.10). Sem isto somos despidos dos elementos necessários para compreendermos o significado do Calvário e a maravilha de seu supremo amor insuperável para com os homens.

6. Finalmente, há o argumento da justiça vindicatória de Deus. O pecado é o oposto de Deus; portanto, o Senhor tem de reagir contra ele com uma santa indignação. É o mesmo que dizer que o pecado tem de confrontar-se com o juízo divino (vejam-se Dt 27.26; Na 1.2; Hc 1.13; Rm 1.17; 3.21-26; Gl 3.10,13). É esta santidade inviolável da lei de Deus o ditame imutável da santidade e a exigência irrevogável da justiça que faz obrigatória a conclusão de que a salvação do pecado sem expiação e propiciação é inconcebível. Este é o princípio que explica o sacrifício do Senhor da glória, as agonias do Getsêmani e o seu abandono no madeiro maldito. É este o princípio que fundamenta a grande verdade de que Deus é justo e o justificados daquele que crê em Jesus. Na obra de Cristo, os ditames da santidade e as exigências da justiça foram plenamente vindicados. Deus o estabeleceu como a propiciação a fim de declarar a sua justiça.

Por estas razões somos levados a concluir que o tipo de necessidade que as considerações bíblicas propõem é aquele que pode ser compreendido como absoluto ou indispensável. Os proponentes da necessidade hipotética não reconhecem suficientemente as exigências envolvidas na salvação do pecado para a vida eterna; eles não consideram convenientemente os aspectos teocêntricos da realização de Cristo. Se conservarmos em mente a gravidade do pecado e as exigências oriundas da santidade de Deus que devem ser encaradas na execução da salvação, então a doutrina da necessidade indispensável faz que o Calvário seja inteligível e que a maravilha incompreensível tanto do Calvário como do propósito soberano do amor de Deus que o Calvário cumpriu sejam exaltados. Na medida em que enfatizarmos as exigências inflexíveis da justiça e santidade, o amor de Deus e todas as suas providências se tornarão ainda mais maravilhosos.

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NOTAS:

[1] - V. Hug Martin: The Atonement: in its relation to the Covenant, The Priesthood, The Intercession of our Lord (Edinburgh, 1887), pág. 19. [voltar]
[2] - V. Cur Deus Homo, Lib. I, Cap. I “qua necessitate scilicet et ratione Deus, cum sit omnipotens, humilitatem et infirmitatem humanae naturae pro eius restauratione assumpserit”. [voltar]
[3] - V. Augustine: On The Trinity, Liv. XIII, Cap. 10; Aquinas: Suma Theologica, Parte III, Perg. 45, Arts. 2 e 3. [voltar]
[4] - V. Francis Turretin: Institutio Theologiae Elencticae, Loc. XIV, Q. X; James Henley Thorwell: “The Necessity of The Atonement” - in Collected Writings, vol. H (richamond, 1886), págs. 205-261; George Stevenson: A Dissertation on The Atonement (Philadelphia, 1832), págs. 5-98; A. A. Hodge, The Atonement (London, 1868), págs. 217-222. [voltar]

Fonte: Redenção Consumada e Aplicada, John Murray, Editora Cultura Cristã.
Via: Monergismo
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Via: [Bereianos]
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