22 de jul. de 2011

Seguindo a Deus de Perto



“A minha alma apega-se a ti: a tua destra me ampara” (Sl 63:8.).

Por A. W. Tozer

O evangelho nos ensina a doutrina da graça preveniente, que significa simplesmente que, antes de um homem poder buscar a Deus, Deus tem que buscá-lo primeiro.

Para que o pecador tenha uma idéia correta a respeito de Deus, deve receber antes um toque esclarecedor em seu íntimo; que, mesmo que seja imperfeito, não deixa de ser verdadeiro, e é o que desperta nele essa fome espiritual que o leva à oração e à busca.

Procuramos a Deus porque, e somente porque, Ele primeiramente colocou em nós o anseio que nos lança nessa busca. “Ninguém pode vir a mim”, disse o Senhor Jesus, “se o Pai que me enviou não o trouxer” (Jo 6:44), e é justamente através desse trazer preveniente, que Deus tira de nós todo vestígio de mérito pelo ato de nos achegarmos a Ele. O impulso de buscar a Deus origina-se em Deus, mas a realização do impulso depende de O seguirmos de todo o coração. E durante todo o tempo em que O buscamos, já estamos em Sua mão: “... o Senhor o segura pela mão” (Sl 37:24.).

Nesse “amparo” divino e no ato humano de “apegar-se” não há contradição. Tudo provém de Deus, pois, segundo afirma Von Hügel, Deus é sempre a causa primeira. Na prática, entretanto (isto é, quando a operação prévia de Deus se combina com uma reação positiva do homem), cabe ao homem a iniciativa de buscar a Deus. De nossa parte deve haver uma participação positiva, para que essa atração divina possa produzir resultados em termos de uma experiência pessoal com Deus. Isso transparece na calorosa linguagem que expressa o sentimento pessoal do salmista no Salmo 42: “Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo: quando irei e me verei perante a face de Deus?” E um apelo que parte do mais profundo da alma, e qualquer coração anelante pode muito bem entendê-lo.

A doutrina da justificação pela fé — uma verdade bíblica, e uma bênção que nos liberta do legalismo estéril e de um inútil esforço próprio — em nosso tempo tem-se degenerado bastante, e muitos lhe dão uma interpretação que acaba se constituindo um obstáculo para que o homem chegue a um conhecimento verdadeiro de Deus. O milagre do novo nascimento está sendo entendido como um processo mecânico e sem vida. Parece que o exercício da fé já não abala a estrutura moral do homem, nem modifica a sua velha natureza. É como se ele pudesse aceitar a Cristo sem que, em seu coração, surgisse um genuíno amor pelo Salvador. Contudo, o homem que não tem fome nem sede de Deus pode estar salvo? No entanto, é exatamente nesse sentido que ele é orientado: conformar-se com uma transformação apenas superficial.

Os cientistas modernos perderam Deus de vista, em meio às maravilhas da criação; nós, os crentes, corremos o perigo de perdermos Deus de vista em meio às maravilhas da Sua Palavra. Andamos quase inteiramente esquecidos de que Deus é uma pessoa, e que, por isso, devemos cultivar nossa comunhão com Ele como cultivamos nosso companheirismo com qualquer outra pessoa. É parte inerente de nossa personalidade conhecer outras personalidades, mas ninguém pode chegar a um conhecimento pleno de outrem através de um encontro apenas. Somente após uma prolongada e afetuosa convivência é que dois seres podem avaliar mutuamente sua capacidade total.

Todo contato social entre os seres humanos consiste de um reconhecimento de uma personalidade para com outra, e varia desde um esbarrão casual entre dois homens, até a comunhão mais íntima de que é capaz a alma humana. O sentimento religioso consiste, em sua essência, numa reação favorável das personalidades criadas, para com a Personalidade Criadora, Deus. “E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste".

Deus é uma pessoa, e nas profundezas de Sua poderosa natureza Ele pensa, deseja, tem gozo, sente, ama, quer e sofre, como qualquer outra pessoa. Em seu relacionamento conosco, Ele se mantém fiel a esse padrão de comportamento da personalidade. Ele se comunica conosco por meio de nossa mente, vontade e emoções.

O cerne da mensagem do Novo Testamento é a comunhão entre Deus e a alma remida, manifestada em um livre e constante intercâmbio de amor e pensamento.

Esse intercâmbio, entre Deus e a alma, pode ser constatado pela percepção consciente do crente. É uma experiência pessoal, isto é, não vem através da igreja, como Corpo, mas precisa ser vivida, por cada membro. Depois, em conseqüência dele, todo o Corpo será abençoado. E é uma experiência consciente: isto é, não se situa no campo do subconsciente, nem ocorre sem a participação da alma (como, por exemplo, segundo alguns imaginam, se dá com o batismo infantil), mas é perfeitamente perceptível, de modo que o homem pode “conhecer” essa experiência, assim como pode conhecer qualquer outro fato experimental.

Nós somos em miniatura, (excetuando os nossos pecados) aquilo que Deus é em forma infinita. Tendo sido feitos a Sua imagem, temos dentro de nós a capacidade de conhecê-lO. Enquanto em pecado, falta-nos tão-somente o poder. Mas, a partir do momento em que o Espírito nos revivifica, dando-nos uma vida regenerada, todo o nosso ser passa a gozar de afinidade com Deus, mostrando-se exultante e grato. Isso é este nascer do Espírito sem o qual não podemos ver o reino de Deus. Entretanto, isso não é o fim, mas apenas o começo, pois é a partir daí que o nosso coração inicia o glorioso caminho da busca, que consiste em penetrar nas infinitas riquezas de Deus. Posso dizer que começamos neste ponto, mas digo também que homem nenhum já chegou ao final dessa exploração, pois os mistérios da Trindade são tão grandes e insondáveis que não têm limite nem fim.

Encontrar-se com o Senhor, e mesmo assim continuar a buscá-lO, é o paradoxo da alma que ama a Deus. É um sentimento desconhecido daqueles que se satisfazem com pouco, mas comprovado na experiência de alguns filhos de Deus que têm o coração abrasado. Se examinarmos a vida de grandes homens e mulheres de Deus, do passado, logo sentiremos o calor com que buscavam ao Senhor. Choravam por Ele, oravam, lutavam e buscavam-nO dia e noite, a tempo e fora do tempo, e, ao encontrá-lO, a comunhão parecia mais doce, após a longa busca. Moisés usou o fato de que conhecia a Deus como argumento para conhecê-lO ainda melhor. “Agora, pois, se achei graça aos teus olhos, rogo-te que me faças saber neste momento o Teu caminho, para que eu Te conheça, e ache graça aos Teus olhos” (Ex 33:13). E, partindo daí, fez um pedido ainda mais ousado: “Rogo-te que me mostres a tua glória” (Ex 33:18). Deus ficou verdadeiramente alegre com essa demonstração de ardor e, no dia seguinte, chamou Moisés ao monte, e ali, em solene cortejo, fez toda a Sua glória passar diante dele.

A vida de Davi foi uma contínua ânsia espiritual. Em todos os seus salmos ecoa o clamor de uma alma anelante, seguido pelo brado de regozijo daquele que é atendido. Paulo confessou que a mola-mestra de sua vida era o seu intenso desejo de conhecer a Cristo mais e mais. “Para O conhecer” (Fp 3:10), era o objetivo de seu viver, e para alcançar isso, sacrificou todas as outras coisas. “Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus meu Senhor: por amor do qual perdi todas as cousas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo” (Fp 3:8).

Muitos hinos evangélicos revelam este anelo da alma por Deus, embora a pessoa que canta, já saiba que o encontrou. Há apenas uma geração, nossos antepassados cantavam o hino que dizia: “Verei e seguirei o Seu caminho”; hoje não o ouvimos mais entre os cristãos. É uma tragédia que, nesta época de trevas, deixemos só para os pastores e líderes a busca de uma comunhão mais íntima com Deus. Agora, tudo se resume num ato inicial de “aceitar” a Cristo (a propósito, esta palavra não é encontrada na Bíblia), e daí por diante não se espera que o convertido almeje qualquer outra revelação de Deus para a sua alma. Estamos sendo confundidos por uma lógica espúria que argumenta que, se já encontramos o Senhor, não temos mais necessidade de buscá-lO. Esse conceito nos é apresentado como sendo o mais ortodoxo, e muitos não aceitariam a hipótese de que um crente instruído na Palavra pudesse crer de outra forma. Assim sendo, todas as palavras de testemunho da Igreja que significam adoração, busca e louvor, são friamente postas de lado. A doutrina que fala de uma experiência do coração, aceita pelo grande contingente dos santos que possuíam o bom perfume de Cristo, hoje é substituída por uma interpretação superficial das Escrituras, que sem dúvida soaria como muito estranha para Agostinho, Rutherford ou Brainerd.

Em meio a toda essa frieza existem ainda alguns — alegro-me em reconhecer — que jamais se contentarão com essa lógica superficial. Talvez até reconheçam a força do argumento, mas depois saem em lágrimas à procura de algum lugar isolado, a fim de orarem: “Ó Deus, mostra-me a tua glória”. Querem provar, ver com os olhos do íntimo, quão maravilhoso Deus é.

É meu propósito instilar nos leitores um anseio mais profundo pela presença de Deus. É justamente a ausência desse anseio que nos tem conduzido a esse baixo nível espiritual que presenciamos em nossos dias. Uma vida cristã estagnada e infrutífera é resultado da ausência de uma sede maior de comunhão com Deus. A complacência é inimigo mortal do crescimento cristão. Se não existir um desejo profundo de comunhão, não haverá manifestação de Cristo para o Seu povo. Ele espera que o procuremos. Infelizmente, no caso de muitos crentes, é em vão que essa espera se prolonga.

Cada época tem suas próprias características. Neste exato instante encontramo-nos em um período de grande complexidade religiosa. A simplicidade existente em Cristo raramente se acha entre nós. Em lugar disso, vêem-se apenas programas, métodos, organizações e um mundo de atividades animadas, que ocupam tempo e atenção, mas que jamais podem satisfazer à fome da alma. A superficialidade de nossas experiências íntimas, a forma vazia de nossa adoração, e aquela servil imitação do mundo, que caracterizam nossos métodos promocionais, tudo testifica que nós, em nossos dias, conhecemos a Deus apenas imperfeitamente, e que raramente experimentamos a Sua paz.

Se desejamos encontrar a Deus em meio a todas as exteriorizações religiosas, primeiramente temos que resolver buscá-Lo, e daí por diante prosseguir no caminho da simplicidade. Agora, como sempre o fez, Deus revela-Se aos pequeninos e se oculta daqueles que são sábios e prudentes aos seus próprios olhos. É mister que simplifiquemos nossa maneira de nos aproximar dEle. Urge que fiquemos tão-somente com o que é essencial (e felizmente, bem poucas coisas são essenciais). Devemos deixar de lado todo esforço para impressioná-lO e ir a Deus com a singeleza de coração da criança. Se agirmos dessa forma, Deus nos responderá sem demora.

Não importa o que a Igreja e as outras religiões digam. Na realidade, o que precisamos é de Deus mesmo. O hábito condenável de buscar “a Deus e” é que nos impede de encontrar ao Senhor na plenitude de Sua revelação. É no conectivo “e” que reside toda a nossa dificuldade. Se omitíssemos esse “e”, em breve acharíamos o Senhor e nEle encontraríamos aquilo por que intimamente sempre anelamos. Não precisamos temer que, se visarmos tão-somente a comunhão com Deus, estejamos limitando nossa vida ou inibindo os impulsos naturais do coração. O oposto é que é verdade. Convém-nos perfeitamente fazer de Deus o nosso tudo, concentrando-nos nEle, e sacrificando tudo por causa dEle.

O autor do estranho e antigo clássico inglês, The Cloud of Unknowing (A nuvem do desconhecimento), dá-nos instruções de como conseguir isso. Diz ele: “Eleve seu coração a Deus num impulso de amor; busque a Ele, e não Suas bênçãos. Daí por diante, rejeite qualquer pensamento que não esteja relacionado com Deus. E assim não faça nada com sua própria capacidade, nem segundo a sua vontade, mas somente de acordo com Deus. Para Deus, esse é o mais agradável exercício espiritual”.

Em outro trecho, o mesmo autor recomenda que, em nossas orações, nos despojemos de todo o empecilho, até mesmo de nosso conhecimento teológico. “Pois lhe basta a intenção de dirigir-se a Deus, sem qualquer outro motivo além da pessoa dEle.” Não obstante, sob todos os seus pensamentos, aparece o alicerce firme da verdade neotestamentária, porquanto explica o autor que, ao referir-se a “ele”, tem em vista “Deus que o criou, resgatou, e que, em Sua graça, o chamou para aquilo que você agora é”. Este autor defende vigorosamente a simplicidade total: “Se desejamos ver a religião cristã resumida em uma única palavra, para assim compreendermos melhor o seu alcance, então tomemos uma palavra de uma sílaba ou duas. Quanto mais curta a palavra, melhor será, pois uma palavra menor está mais de acordo com a simplicidade que caracteriza toda a operação do Espírito. Tal palavra deve ser ou Deus ou Amor”.

Quando o Senhor dividiu a terra de Canaã entre as tribos de Israel, a de Levi não recebeu partilha alguma. Deus disse-lhe simplesmente: “Eu sou a tua porção e a tua herança no meio dos filhos de Israel” (Nm 18:20), e com essas palavras tornou-a mais rica que todas as suas tribos irmãs, mais rica que todos os reis e rajás que já viveram neste mundo. E em tudo isto transparece um princípio espiritual, um princípio que continua em vigor para todo sacerdote do Deus Altíssimo.

O homem, cujo tesouro é o Senhor, tem todas as coisas concentradas nEle. Outros tesouros comuns talvez lhe sejam negados, mas mesmo que lhe seja permitido desfrutar deles, o usufruto de tais coisas será tão diluído que nunca é necessário à sua felicidade. E se lhe acontecer de vê-los desaparecer, um por um, provavelmente não experimentará sensação de perda, pois conta com a fonte, com a origem de todas as coisas, em Deus, em quem encontra toda satisfação, todo prazer e todo deleite. Não se importa com a perda, já que, em realidade nada perdeu, e possui tudo em uma pessoa — Deus — de maneira pura, legítima e eterna.

Ó Deus, tenho provado da Tua bondade, e se ela me satisfaz, também aumenta minha sede de experimentar ainda mais. Estou perfeitamente consciente de que necessito de mais graça. Envergonho-me de não possuir uma fome maior. Ó Deus, ó Deus trino, quero buscar-Te mais; quero buscar apenas a Ti; tenho sede de tornar-me mais sedento ainda. Mostra-me a Tua glória, rogo-Te, para que assim possa conhecer-Te verdadeiramente. Por Tua misericórdia, começa em meu íntimo uma nova operação de amor. Diz à minha alma: “Levanta-te, querida minha, formosa minha, e vem” (Ct 2:10). E dá-me graça para que me levante e te siga, saindo deste vale escuro onde estou vagueando há tanto tempo. Em nome de Jesus. Amém.

21 de jul. de 2011

Pastores-Teólogos



Por Thomas K. Ascol 
Cristo tenciona que suas igrejas sejam guiadas por homens que preenchem certas qualidades. Em suas cartas a Timóteo e Tito, o apóstolo Paulo escreveu com muita clareza a respeito do que os presbíteros de uma igreja devem ser. A principal preocupação é o caráter. Eles devem ser homens cujas vidas são exemplo de santidade.
Além disso, os homens que devem pastorear o rebanho de Deus têm de ser doutrinariamente corretos. Precisam crer sinceramente na verdade e ser capazes de ensiná-la com clareza. Paulo estabeleceu esse fato em Tito 1.9, depois de ressaltar as qualificações morais que todo presbítero tem de possuir. Um presbítero, ele escreveu, deve ser "apegado à palavra fiel, que é segundo a doutrina, de modo que tenha poder tanto para exortar pelo reto ensino como para convencer os que o contradizem".
As igrejas devem ser assistidas pelo ministério de pastores que são teólogos. Essa idéia parece bastante estranha em nossos dias porque nos últimos cem anos testemunhamos uma separação desses ofícios. Pastores estavam ligados às igrejas, enquanto os teólogos, fomos levados a crer, estavam vinculados a universidades e seminários.
No entanto, a instrução de Paulo a Tito nos força a admitir que todo pastor é chamado a ser um teólogo. A verdade que Deus revelou em sua Palavra tem de ser explorada, entendida, crida, ensinada e defendida. Isso descreve a obra de um teólogo, e o ministério pastoral não pode ser realizado eficazmente por um homem que não se engaja nesse tipo de esforço.
As igrejas devem ser governadas pela Palavra de Deus. Os homens que têm a responsabilidade de liderar uma igreja não têm outra alternativa, senão a de serem bem alicerçados nas Escrituras.
Um pastor deve ser firme em sua compreensão da Palavra, "que é segundo a doutrina". Paulo estava se referindo ao que, naquele tempo, havia se tornado um corpo reconhecido de ensino doutrinário. Antes de um homem ser qualificado para servir na função de pastor em uma igreja, ele deve "apegar-se" às doutrinas da Palavra de Deus; ou seja, ele tem de compreender essas doutrinas e crer nelas. Nem o pensamento superficial, nem um compromisso indiferente com os ensinos das Escrituras será suficiente para o homem que deseja ser um pastor na igreja de Jesus Cristo. Isso significa que os pastores devem ser homens que se dedicam com diligência ao estudo e cultivam constantemente fé humilde.
Paulo menciona duas razões por que um pastor tem de ser um teólogo diligente. A primeira diz respeito à sua responsabilidade de nutrir e cuidar do rebanho ao qual ele serve. Pastores têm de alimentar as ovelhas, e a única dieta que Deus prescreveu para seu povo é a sua Palavra (Hb 5.12-14; 1 Pe 2.2). Um presbítero de igreja deve ser "apto para ensinar" (1 Tm 3.2), pois é por meio do ministério da Palavra que os crentes são alimentados. Como David Wells sugere corretamente, um pastor é um agente da verdade, cuja responsabilidade primária é estudar, proclamar e aplicar a Palavra de Deus, para que o "caráter moral seja formado e a sabedoria cristã se manifeste" no povo de Deus. Essa é a primeira razão por que um pastor tem de ser um teólogo – para que possa instruir na "sã doutrina".
Mas um pastor não tem apenas de ensinar os filhos de Deus. Ele precisa também defendê-los. Ele tem de afirmar a verdade e refutar o erro. E ambas as tarefas exigem discernimento resultante de estudo cuidadoso. A igreja de Cristo sempre esteve impregnada de pessoas que "contradizem" a sã doutrina. A tarefa dos pastores consiste de repreender essas pessoas, de modo que o erro delas não se espalhe, como um câncer, na igreja (2 Tm 2.15-18).

O pastor tem de ser "bem instruído", escreveu Calvino, "no conhecimento da sã doutrina; a segunda é que tenha inabalável firmeza de coragem... e a terceira é que ele faça a sua maneira de ensinar tender à edificação".
Os maiores teólogos na história da igreja foram pastores fiéis. E os maiores pastores na história da igreja foram teólogos dedicados. É óbvio que os nomes em ambas as listas (com raras exceções) são os mesmos.
Agostinho, Lutero, Calvino, Gill, Edwards, Fuller, Spurgeon e Lloyd-Jones eram pastores-teólogos. Eram homens que levavam bem a sério as qualificações apostólicas quanto a um presbítero e, no cumprimento de sua chamada para pastorear o rebanho de Deus, dedicaram-se fielmente à obra de teologia.
J. I. Packer observou sabiamente: "Para ser um bom expositor... um homem tem de ser, primeiramente, um bom teólogo. Teologia é aquilo que Deus colocou nos textos da Escritura, e teologia é aquilo que os pregadores devem extrair desses textos".
Se anelamos ver renovada vitalidade espiritual enchendo as nossas igrejas, temos de insistir com aqueles que servem como pastores para que reconheçam estar inerente em sua vocação a responsabilidade de serem teólogos sãos. Somente assim o povo de Deus será instruído apropriadamente no caminho de Cristo e protegido, com eficácia, de erros e heresias que corroem a saúde espiritual.
Traduzido por: Francisco Wellington
Copyright© Tom Ascol

Thomas K. Ascol é o pastor da Gace Baptist Church em Cape Coral, na Flórida. Obteve seus graus de mestrado (M.Div) e doutorado (Ph.D) pelo seminário teológico batista Sowthwestern. É preletor de conferências teológicas e autor de diversos livros e artigos teológicos e é o diretor executivo do ministério Founders. Tom Ascol é casado com Donna e o casal tem 6 filhos.
Fonte: Editora Fiel Via: [Ministério Batista Beréia]


18 de jul. de 2011

Há algum conflito entre a fé e as obras?



Por Rev. Hernandes Dias Lopes

Muitos estudiosos da Bíblia encontram um irreconciliável conflito entre Paulo e Tiago acerca do que ensinaram sobre a fé e as obras. Paulo ensina que a salvação é recebida pela fé e não pelas obras (Ef 2.8,9). Tiago, por sua vez, ensina que sem obras a fé é morta (Tg 2.17). A grande pergunta é: Existe alguma contradição entre Paulo e Tiago? Estão esses dois escritores bíblicos em conflito? A fé exclui as obras ou as obras dispensam a fé? Precisamos entender que não há contradição nas Escrituras. Paulo e Tiago não estão batendo cabeça. Eles estão falando a mesma verdade, sob perspectivas diferentes. Paulo fala da causa da salvação e diz que somos salvos pela fé independente das obras. Tiago fala da consequência da salvação e diz que as obras é que provam a fé.

Tanto a fé como as obras são fundamentais quando se trata da salvação. A fé é a raiz e as obras são o fruto. A fé produz o fruto das obras e as obras procedem da seiva que vem da raiz. A fé é a causa e as obras o resultado. Não somos salvos por causa das obras, mas para as boas obras. Não praticamos boas obras para sermos salvos, mas porque já fomos salvos pela fé. As obras não nos levam para o céu, mas aqueles que vão para o céu, porque foram salvos pela fé, serão acompanhados por suas obras.

Tanto a fé como as obras procedem de Deus. A fé é dom de Deus. Não geramos a fé, recebemo-la. As obras que praticamos são inspiradas pelo próprio Deus, pois é ele quem opera em nós tanto o querer quanto o realizar. De tal forma que não há espaço para soberba por parte de quem crê nem por parte de quem realiza boas obras, pois tanto a fé como as obras vieram de Deus e devem ser direcionadas para Deus. Nossa fé deve estar em Deus e nossas obras devem ser feitas para a glória de Deus.

Deus mesmo planejou nossa salvação e ele mesmo a executa. Ele mesmo é quem abre nosso coração para crermos e ele mesmo nos dá poder para realizarmos as boas obras que atestam a autenticidade da fé. A fé prova nossa salvação diante de Deus e nossas obras diante dos homens. Deus vê a fé, os homens as obras. Fé e obras não se excluem, completam-se. A raiz sem frutos está morta; o fruto sem a raiz inexiste.

Aqueles que defendem a salvação pela fé sem a evidência das obras laboram em erro. De igual forma, aqueles que julgam alcançar a salvação pelas obras sem a fé. É preciso afirmar com meridiana clareza que a salvação é só pela fé e não pela fé mais o concurso das obras. Porém, a fé salvadora nunca vem só. A fé salvadora produz obras. Não provamos nossa salvação pela fé sem as obras, mas pela fé mediante as obras. As obras não são a causa da salvação, mas sua evidência.

Concluímos, afirmando que não há qualquer conflito entre Paulo e Tiago. Não há qualquer contradição entre fé e obras. Não podemos confundir causa e efeito. Toda causa tem um efeito e todo efeito é produzido por uma causa. As obras não substituem a fé nem a fé pode vir desacompanhada das obras. Fé e obras caminham de mãos dadas. Não estão em lados opostos, mas são parceiras. Ambas têm o mesmo objetivo, glorificar a Deus pela salvação. Somos salvos pela fé e somos salvos para as obras. Recebemos fé e fomos preparados de antemão para as obras. Não há merecimento na fé nem nas obras. Ambas vem de Deus. Ambas devem glorificar a Deus. Ambas estão conectadas com nossa salvação. A fé nos leva a Cristo e as obras nos levam ao próximo. A fé nos coloca de joelhos diante de Deus em adoração e as obras nos coloca de pé diante dos homens em serviço. Somos salvos pela fé para adorarmos a Deus e somos salvos para as obras para servirmos ao próximo.



16 de jul. de 2011

Lascívia – John Owen (1616-1683)


Um enfraquecimento habitual do mau desejo

Toda lascívia (desejo mau) é um hábito depravado, que continuamente inclina o coração para o mal. Em Gênesis 6:5, temos uma descrição de um coração no qual o pecado não foi mortificado: "era continuamente mau todo desígnio do seu coração". Em todo homem não convertido, há um coração que não foi mortificado e que está cheio de uma variedade de desejos ímpios, e cada um desses desejos está continuamente clamando por satisfação.

Concentrar-nos-emos apenas na mortificação de um desses desejos. Este desejo (pense no pecado que mais lhe atrai) é uma disposição forte, habitual, e profundamente enraizada, que inclina a vontade e os sentimentos para certo pecado em particular. Uma das grandes evidências de tal desejo mau é a tendência para se pensar nas diversas maneiras de gratificá-lo (veja Rom. 13:14). Este hábito pecaminoso (ou seja, a lascívia ou desejo mau) opera violentamente. "Fazem guerra contra a alma" (1 Ped. 2:11) e buscam tornar a pessoa um "prisioneiro da lei do pecado" (Rom. 7:23). Ora, a primeira coisa que a mortificação efetua é o enfraquecimento deste desejo mau, de modo que se torna cada vez menos violento nos seus esforços para provocar e seduzir a pecar (veja Tiago 1:14,15).

A esta altura, é preciso que se faça uma advertência. Todos os desejos maus têm o poder de seduzir e provocar alguém a pecar, porém parece que não têm, todos eles, o mesmo poder. Há pelo menos duas razões pelas quais alguns desejos maus parecem ser muito mais fortes do que outros:


a)      Um desejo mau pode ser mais forte do que outros na mesma pessoa e também mais forte do que o desejo numa outra pessoa. Há muitas maneiras pelas quais este poder e vida extras são dados, mas especialmente isso ocorre por meio da tentação.


b)      A ação violenta de alguns desejos maus é mais óbvia do que a de outros. Paulo sublinha uma diferença entre impureza e todos os outros pecados. "Fugi da impureza! Qualquer outro pecado que uma pessoa cometer, é fora do corpo; mas aquele que pratica a imoralidade peca contra o próprio corpo" (1 Cor. 6:18). Isso significa que pecados dessa natureza são mais facilmente discerníveis do que outros. Contudo, uma pessoa com um amor desordenado pelo mundo pode estar debaixo do poder desse desejo mau (embora esse poder não seja tão óbvio) tanto quanto outro homem que é cativado por um desejo mau ou por uma imoralidade sexual.


A primeira coisa, então, que a mortificação efetua é um enfraquecimento gradual dos atos violentos do desejo mau, de modo que seu poder para impelir, despertar, perturbar e deixar a alma perplexa seja diminuído. Isso é chamado de crucificar "a carne, com as suas paixões e concupiscências" (Gál. 5:24). Esta linguagem é muito gráfica, como se pode ver na seguinte ilustração:


Pense num homem pregado numa cruz. A princípio o homem se esforçará, lutará e clamará com grande intensidade e poder. Depois de certo tempo, à medida em que vai perdendo sangue, seus esforços se tornam fracos e seus gritos baixos e roucos. Da mesma maneira, quando um homem se propõe a cumprir seu dever de mortificar o pecado, há uma luta violenta; todavia à medida em que a força e a energia do desejo mau se esvai, seus esforços e gritos diminuem. A mortificação radical e inicial do pecado é descrita em Romanos, capítulo 6, e especialmente no versículo 6:

"Sabendo isto, que foi crucificado com ele o nosso velho homem" - para qual propósito? - "para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos ao pecado como escravos".

Sem esta mortificação inicial e radical, realizada mediante união com Jesus Cristo, como descrita em Romanos, capítulo 6 (no próximo capítulo diremos mais sobre isto), uma pessoa não pode fazer progresso na mortificação de um único desejo mau. Uma pessoa pode dar pauladas no mau fruto de uma árvore má até ficar esgotada, porém enquanto a raiz permanecer forte e vigorosa nenhum grau de espancamento impedirá que a raiz produza mais frutos maus. Esta é a tolice que muitas pessoas praticam quando se dispõem com todo fervor a quebrar o poder de qualquer pecado em particular, sem realmente atacar e ferir a raiz do pecado (como acontece quando um cristão é unido a Jesus Cristo).

15 de jul. de 2011

13 de jul. de 2011

Deus Caminhando Entre os Homens – A. W. Tozer

DEUS SEMPRE age à semelhança do Seu Ser, onde quer que faça algo, e seja o que for que estiver fazendo; nEle não há variação nem sombra de mudança. Todavia, a Sua infinidade O coloca tão acima do nosso conhecimento, que uma vida inteira despendida em cultivar o conhecimento sobre Ele deixa tanto por aprender como se nunca tivéssemos começado a conhecê-lo.

O conhecimento ilimitado de Deus e a Sua perfeita sabedoria capacitam-nO a agir racionalmente além dos limites do nosso conhecimento racional. Por esta razão, não podemos predizer as ações de Deus como podemos predizer os movimentos dos corpos celestes, pelo que Ele constantemente nos espanta pelo modo como se move com liberdade através do Seu universo. Nós O conhecemos tão imperfeitamente, que se pode dizer que um invariável concomitante com um genuíno encontro com Deus é um deleitável assombro. Não importa quão alta seja a nossa expectativa, quando Deus se move finalmente na esfera do nosso saber, certamente ficaremos espantados com o Seu poder de engolfar a mente e fascinar a alma. Ele é sempre mais maravilhoso do que podemos antecipar, e mais assombroso do que imaginamos que poderia ser.

Contudo, em certa medida, as Suas ações podem ser preditas, pois, como tenho dito, Ele sempre age à semelhança do Seu Ser. Desde que sabemos, por exemplo, que Deus é amor, podemos estar perfeitamente certos de que o amor estará presente em cada um dos Seus atos, seja a salvação do pecador penitente, seja a destruição de um mundo impenitente. Semelhantemente, podemos saber que Ele sempre será justo, fiel, misericordioso e veraz.
Suponho que é estranha a mente que se preocupa muito com a conduta de Deus naqueles distantes domínios que jazem além da experiência humana. Mas quase toda gente pergunta como Deus agiria se estivesse em nosso lugar. E pode ser que tenhamos tido momentos em que achamos que Deus não podia ter possibilidade alguma de entender como é duro para nós viver retamente num mundo mau como este. E pode ser que tenhamos perguntado como Ele agiria se tivesse de viver entre nós por algum tempo.

Fazer tal indagação pode ser natural, mas é totalmente desnecessário. Sabemos como Deus agiria se estivesse em nosso lugar — Ele esteve em nosso lugar. Este é o mistério da piedade, que Ele foi manifestado na carne (1 Tim. 3:16). Deram-Lhe o nome de Emanuel, que interpretado quer dizer Deus conosco.

Quando Jesus andou pela terra, era um homem agindo como Deus; mas é igualmente maravilhoso que Ele também era Deus agindo como Ele próprio no homem e num homem. Sabemos como Deus age no céu porque O vimos agir na terra. "Quem me vê a mim, vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai?" (João 14:9).

Por glorioso que isto seja, e é, não termina aqui. Deus ainda está caminhando entre os homens, e por onde anda, age como Ele próprio. Isto não é poesia, mas, sim, fato sólido e claro, passível de prova no laboratório da vida.

Que Cristo habita realmente a natureza do crente regenerado, é um fato pressuposto, implícito e afirmado abertamente na Escritura Sagrada. É dito que todas as três Pessoas da Divindade entram na natureza daquele que se compromete com a verdade do Novo Testamento com fé e obediência: "Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada" (João 14:23). E a doutrina da habitação do Espírito Santo no crente é por demais conhecida para precisar de apoio aqui; todo aquele que foi instruído na Palavra de Deus, ligeiramente embora, entende isto.

Tudo quanto Deus é, o homem Cristo Jesus também é. Tem sido firme crença da igreja, desde os dias dos apóstolos, que Deus não somente se manifesta em Cristo, mas também que Ele se manifesta como Cristo. Nos dias da controvérsia ariana, os chamados pais da igreja foram levados a colocar o ensino do Novo Testamento sobre este assunto numa "regra" ou credo sumamente condensado que pudesse ser aceito como final por todos os crentes. Fizeram-no com as seguintes palavras: "A fé correta é que cremos e confessamos que nosso Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, é Deus e homem. Deus da substância do Seu Pai, gerado antes de todos os séculos; homem da substância da Sua mãe, nascido no mundo. Perfeito Deus e perfeito homem. .. . Quanto à alma racional e à carne, é um homem. Assim, Deus e homem é o Cristo único".

Cristo no coração de um crente agirá da mesma maneira como agiu na Galiléia e na Judéia. A Sua disposição hoje é a mesma daquele tempo. Ele foi então santo, justo, compassivo, manso e humilde, e não mudou. Ele é o mesmo onde quer que se encontre, quer à destra de Deus, quer na natureza de um discípulo verdadeiro. Ele foi amistoso, amoroso, dado à oração, amável, afeito à adoração, disposto ao sacrifício próprio enquanto andava entre os homens; não é razoável esperar que Ele seja o mesmo quando caminha nos homens?

Então, por que às vezes cristãos verdadeiros agem de maneira diversa da de Cristo? Alguns supõem que quando um cristão professo deixa de mostrar a beleza moral de Cristo em sua vida, dá prova de que está enganado e, na verdade, não é um cristão real, de modo nenhum. Mas a explicação não é tão simples assim.

A verdade é que quando Cristo habita na nova natureza do crente, Ele enfrenta forte competição da velha natureza do crente. O conflito entre a velha natureza e a nova prossegue continuadamente na maioria dos crentes. Isso é aceito como inevitável, mas não é o que o Novo Testamento ensina. Um estudo de Romanos 6 a 8, estudo feito em oração, indica o caminho da vitória. Se deixarmos com Cristo o domínio completo, Ele viverá em nós como viveu na Galiléia.


Fonte: [Ortopraxia]

10 de jul. de 2011

Tiago Santos – O que é Igreja: Culto ou Entretenimento?


Quando você usa o entretenimento para ganhar pessoas, você as ganha PARA  o entretenimento. (Tiago Santos)

Fonte: [Youtube] Via: [Voltemos ao Evangelho]

O sombrio crepúsculo da natureza – John Stott


As Escrituras ensinam claramente que o homem, em seu estado natural, não-redimido e não-regenerado, é cego. "O deus desta era cegou o entendimento dos descrentes, para que não vejam a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus" (2Co 4.4).

Como qualquer homem pode ver e crer? A fim de responder a essa questão, Paulo faz uma analogia entre a antiga criação e a nova. Ele faz que nossos pensamentos retornem milhões de anos no tempo, ao caos primevo, quando a terra era "sem forma e vazia", e as "trevas cobriam a face do abismo". Tudo era sem forma, sem vida, cheio de trevas, triste e vazio, até que a palavra criativa de Deus trouxe a luz e o calor, a forma e a beleza.

O mesmo acontece com o coração do homem natural que não tem a Cristo. O sombrio crepúsculo da natureza (sua razão e consciência) apenas alivia as trevas que, de outra forma, são impenetráveis, mas tudo é sombrio, vazio e frio, até que a ordem de Deus faça uma nova criação. "Pois Deus, que disse: 'Das trevas resplandeça a luz', ele mesmo brilhou em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo" (2Co 4.6).

Fonte: [Ortopraxia]

6 de jul. de 2011

Desconfie de si mesmo – J. I. Packer

Somente por meio do arrependimento constante e profundo nós, pecadores, podemos manter nossa alma com saúde.

A saúde espiritual, como a saúde do corpo, é um dom de Deus. Mas, como a saúde do corpo, é um dom que deve ser cuidadosamente tratado, uma vez que hábitos descuidados podem danificá-la. No instante em que acordarmos para o fato de que a perdemos, talvez seja muito tarde para fazer algo a respeito. O foco da saúde da alma é a humildade, enquanto a raiz da corrupção interior é o orgulho.

Na vida espiritual, nada permanece imóvel. Se não estivermos constantemente crescendo em humildade, estaremos prontamente aumentando e produzindo o fruto do orgulho. A humildade está no auto-conhecimento; o orgulho reflete a própria ignorância. A humildade expressa-se na desconfiança de si mesmo e na dependência consciente de Deus; o orgulho é autoconfíante e, embora possa passar pelos movimentos da humildade com alguma habilidade (pois o orgulho é um grande ator), ele é presunçoso, opinioso, tirânico, agressivo e obstinado. "A soberba precede a ruína e a altivez do espírito, a queda" (Pv 16.18).

Assim como o quinino é o antídoto para a malária, a humildade é o antídoto para o orgulho. No sentido em que Orsino, de Shakespeare, em Twelfth Night (Décima Segunda Noite) vê a música como o alimento do amor, o arrependimento deve ser visto como o alimento da humildade. Ou, mudando o quadro, o arrependimento deve ser pensado como o exercício rotineiro que mantém a humildade, e pela humildade, a saúde da alma. "Sem cruz não haverá coroa", disse William Penn. "Sem humildade não haverá saúde e, sem arrependimento não haverá hu-mildade" é o que estou dizendo agora.

O auto-conhecimento, no qual se enraíza o arrependimento de um cristão, vem da lei. Ele é o resultado de ter sido criado para encarar os padrões morais prescritos por Deus para nós, suas criaturas. Em Romanos 7.7-25, Paulo nos fala, primeiro, como, em sua mocidade, a lei o ensinou a reconhecer o seu próprio pecado, pondo em ação os mesmos motivos e desejos que ela proibia. "Mas eu não teria conhecido o pecado, senão por intermédio da lei; pois não teria eu co¬nhecido a cobiça, se a lei não dissera: Não cobiçarás" (Rm 7.7). Então, ele nos fala como se deu esse processo em sua vida cristã, apesar de "no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros" (Rm 7.22,23).

A "lei do pecado" significa que o pecado opera como uma força motora que, irracionalmente, é anti-Deus em seu impulso. A palavra "vejo" mostra-nos como Paulo percebe a si mesmo quando, pela luz da lei que deseja guardar, ele olha para si mesmo e avalia sua real condição - em outras palavras, o momento em que ele pratica a disciplina do auto-exame. Toda vez que faz isto, ele vê que seu alcance excedeu sua compreensão, que nada que disse ou fez foi tão bom e justo como deveria ter sido e que todos os seus atos mais generosos, nobres, sábios, altruístas, puros e honrosos a Deus tinham defeitos de certa forma discerníveis. Em retrospectiva, ele sempre descobre que sua conduta poderia e deveria ter sido mais semelhante à de Cristo, e suas motivações, menos confusas. Ele sempre desco¬bre que poderia ter sido melhor do que foi.

Esta constatação, que chama ao arrependimento constantemente renova¬do que advogo, é inquestionavelmente depressiva. Daí, o lamento agonizado de Paulo em Romanos 7.24: "Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?" No entanto, precisamos observar que esta confissão é seguida pelo grito triunfante de Romanos 7.25, uma vez que Paulo olha para a "redenção do nosso corpo", na vida futura (Rm 8.23): "Graças a Deus (que um dia, enfim, me resgatará) por Jesus Cristo, nosso Senhor".

A presente libertação parcial do poder do pecado, que é o outro lado de sua experiência (Rm 7.5-7), o faz desejar a libertação futura e total que Deus prometera. Enquanto isso, no entanto, ele cresce para baixo em profunda humildade, enquanto se conscientiza cada vez mais do modo como o pecado que há nele ainda ameaça seu objetivo de agradar plenamente a Deus. Nisto, ele é um modelo para todos nós.

4 de jul. de 2011

A Luz e a Escuridão


Daniel Gardner


E os homens, que iam com ele, pararam espantados, ouvindo a voz, mas não vendo ninguém. (Atos 9.7)
No capítulo 9 de Atos, é descrito o momento da conversão de Saulo, aquele que respirava ameaças e mortes contra os discípulos do Senhor. Lemos que um resplendor de luz do céu o cercou, a voz de Deus o confrontou, e a sua vida de perseguição e blasfêmia o condenou. Quando Cristo o chamou pelo nome, Saulo – tremendo e atônito – não pôde fugir do seu Salvador e simplesmente respondeu com um coração quebrantando: “Senhor, que queres que eu faça?” Imagine a alegria dos cristãos em Damasco quando ouviram que “aquele que já nos perseguiu anuncia agora a fé que antes destruía.” (Gal 1.23) 
Porém, no mesmo capítulo, é citado um triste relato: os homens que iam com Saulo e presenciaram sua conversão não viram por si mesmos a urgente necessidade de se arrepender e confiar em Cristo. Esses homens se espantaram e “se atemorizaram muito” (Atos 22.9) mas, aparentemente, foi apenas uma emoção passageira. Não houve aquela “tristeza segundo Deus [que] opera arrependimento para a salvação” (2 Coríntios 7.10). Ouviram ainda o som da voz, mas não entenderam as palavras que foram ditas a Saulo. Viram o resplendor da luz que cercou a Saulo, mas não puderam enxergar nem a glória de Cristo nem a depravação de seus corações.
Quantas pessoas hoje podem ser descritas com essas palavras: Ouvem a voz, mas não vêem ninguém! Verdadeiramente pode ser dito que vêem ninguém porque não enxergam nem o homem pelo qual veio a morte nem o Homem por quem vem a ressurreição dos mortos (1 Cor 15.21). Não enxergam em si mesmos o homem natural que anda desgarrado como ovelha, se desviando pelo seu caminho. Eles param e temem, mas não vêem ninguém pois não enxergam a Pessoa de Cristo. São como a multidão de pessoas que assistiram a crucificação de Cristo, dos quais é dito: “o povo estava olhando” (Lucas 23.35) mas quão poucos olhavam com os olhos da fé. Assistiram a morte de Cristo com a mesma cegueira dos homens que assistiram a dramática conversão de Saulo sem enxergar razão para buscar o arrependimento para si mesmos.
Diante deste cenário, percebemos uma certa ironia: o meio pelo qual Deus alcança homens cegos à luz é justamente através da luz do evangelho da glória de Cristo (2 Cor 4.4).  A palavra da cruz que é loucura para os que perecem é justamente o método divino para alcançar as almas perdidas. (1 Cor 1.18). Nos nossos dias – como nos dias de Saulo – a necessidade urgente da igreja não é de inventar métodos modernos para maravilhar e emocionar homens perdidos. O dever dos cristãos continua sendo de rogar a Deus que Ele cerque homens com sua luz, dando-lhes um coração que ecoa a humildade de Saulo: “Senhor, que queres que eu faça?”
Fonte: [Blog Fiel]

2 de jul. de 2011

Abandonado por Deus


Fonte: [Youtube]
Via: [Ortodoxia]

1 de jul. de 2011

O Silêncio do Salvador - C. H. Spurgeon


"Jesus não respondeu nem uma palavra." Mateus 27.14

Ele nunca foi lento de palavra quando pôde abençoar os filhos dos homens, mas não dizia uma única palavra em favor de si mesmo. "Jamais alguém falou como este homem" (João 7.46), e nunca um homem silenciou como Ele. Foi aquele silêncio singular o indicador de seu perfeito auto-sacrifício? Mostrou isso que Ele não diria uma palavra para sustar a matança de sua pessoa sagrada, que havia dedicado como uma oferenda por nós?

Rendeu-se Ele tão inteiramente que não interferiu em seu próprio favor, ainda que em mínima parcela, mas foi determinado ao deixar-se matar como vítima passiva e silenciosa? Foi aquele silêncio um tipo de abandono do pecado? Nada pode ser dito em dissimulação ou escusa da culpa humana; portanto, Ele que suportou todo o seu peso permaneceu mudo diante de seu julgamento. Não é o silêncio paciente a melhor resposta a um mundo contraditório?

A calma resignação responde a algumas perguntas infinitamente mais conclusivas do que a eloqüência mais imponente. Os melhores apologistas do cristianismo nos seus tempos iniciais foram seus mártires. A bigorna quebra uma multidão de martelos por suportar passivamente seus golpes. Não tinha o silente Cordeiro de Deus propiciado a nós um grande exemplo de sabedoria? Onde cada palavra era ocasião para uma nova blasfêmia, era a linha do dever não suprir mais combustível para a chama do pecado. O ambíguo e o falso, o indigno e o desprezível, logo vão arruinar-se, frustrar-se, e, portanto, a verdade pode permitir-se ficar calada e achar que o silêncio é sua sabedoria.

Evidentemente, nosso Senhor, por seu silêncio, forneceu um notável cumprimento da profecia. Uma longa defesa de si mesmo teria sido contrária à predição de Isaías. "Como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca" (Isaías 53.7). Por seu silêncio, Ele provou conclusivamente ser o verdadeiro Cordeiro de Deus. Por isso, saudamo-lo nesta manhã. Sê conosco, Jesus, e, no silêncio de nosso coração, deixa-nos ouvir a voz do teu amor.
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