30 de mar. de 2011

Absolvição na condenação e bênção na maldição - João Calvino


Se alguém nos perguntar como Cristo aboliu o pecado, reconciliou-nos com Deus e obteve para nós uma retidão justificadora, podemos responder que assim fez mediante todo o transcurso da Sua obediência. Uma prova disso é fornecida pelas palavras de Paulo em Rom. 5:19, "Porque, como pela desobediência de um só homem muitos se tor¬naram pecadores, assim também por meio da obediência de um só muitos se tornarão justos." Também em Gal. 4:4 ele se refere à vida toda de Cristo como o meio da nossa liber¬tação da maldição, "Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei." De fato, desde o momento em que tomou sobre Si a forma de um servo, começou a pagar o preço da redenção. E contudo, para de¬finir de modo mais seguro o meio da nossa salvação, as Escrituras atribuem-na de maneira especial à morte de Cris¬to. Ele mesmo diz: "O Filho do homem veio dar a sua vida em resgate por muitos" (Mat. 20:28). Paulo nos diz que "Cristo morreu pelos nossos pecados" (1 Cor. 15:3). E João Batista exclama: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!" (Jo. 1:29). Se eu fosse citar todas as passagens com significado semelhante, o número delas seria imenso. No entanto, a obediência prestada a Deus por Cristo duran¬te Sua vida precisa ser calculada como parte da Sua obra redentora. Paulo a inclui quando diz que Cristo "a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à mor¬te, e morte de cruz" (RI. 2:7-8). E é evidente que até mesmo na Sua morte grandíssima importância pertence à submis¬são voluntária da vítima divina, pois um sacrifício que não fosse oferecido de livre vontade não teria eficácia para justificarmos; daí o Senhor disse expressamente: "Ninguém tira minha vida de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou" (Jo. 10:18). E somos informados nos Evangelhos que Ele foi voluntariamente ao encontro dos soldados, e submeteu-Se a ser condenado por Pilatos sem abrir Sua boca para defender-Se.

Aqui duas coisas devem ser observadas que não somente foram preditas pelos profetas, mas também trazem à nossa fé o maior conforto e confirmação, Primeiramente, foi enviado para a morte a partir do tribunal. Por que assim? A fim de que tomasse o lugar de um pecador, porquanto Sua morte não foi por causa da Sua inocência, mas sim por causa da nossa culpa. Em segundo lugar, foi inocentado pela mesma boca que O condenou, já que Pilatos foi compelido, mais de uma vez, a dar testemunho da Sua inocência; e nisto foi cumprida a predição: "Por isso tenho de restituir o que não furtei" (Sal. 69:4). Esta compensação precisa ser especialmente lembrada, a fim de não passarmos nossa vida inteira temendo o justo juízo de Deus. O Filho de Deus transferiu aquele julgamento para Si mesmo e sofreu sua sentença.

Há um significado misterioso até mesmo no tipo de morte que Cristo padeceu. A cruz era maldita, não apenas na opinião do homem, mas também pelo decreto da lei de Deus (Deut. 21:23). Portanto, ao ser levantado sobre ela, Cristo Se colocou sob uma maldição. E isso era necessário, a fim de que a maldição merecida por nós por causa dos nossos pecados, viesse sobre Ele. Este fato foi prefigurado nos sacrifícios prescritos na lei de Moisés e foi cumprido no sacrifício de Cristo. E dessa forma ficou claro o que o profeta queria dizer, "O Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos" (is. 53:6). Para remover a contaminação da nossa iniquidade. Ele foi, por imputação, revestido dela; e o símbolo desta transferência foi a cruz, conforme o apóstolo Paulo testifica: "Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição e nosso lugar, porquê está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro; para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios, em Cristo Jesus" (Gal. 3:13-14). De modo semelhante, Pedro nos diz que Cristo "carregou ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados" (1 Ped. 2:24), porque pela cruz que era o próprio símbolo da maldição, entendemos mais claramente que o fardo que estava nos esmagando foi colocado sobre Ele. Dessa forma, a fé apreende absolvição na condenação de Cristo e bênção na Sua maldição.

Fonte: [O Calvinista]

Os afetos que tornam autêntica a adoração – John Piper


Sejamos específicos. Quais são esses sentimentos ou afetos que tornam autênticos os atos exteriores de adoração? Para chegar à resposta, recorreremos aos salmos e aos hinos inspirados do Antigo Testamento. Um conjunto de afetos diferentes entrelaçados pode tomar conta do coração a qualquer momento. Portanto, a extensão e sequência da lista abaixo não têm a intenção de limitar as possibilidades de prazer no coração de alguém.

Talvez a primeira resposta do coração ao ver a santidade majestosa de Deus seja o silêncio perplexo. "Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus" (SI 46.10). "O Senhor está em seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra" (He 2.20).

Do silêncio brota um sentimento de temor, reverência e maravilha diante da imensa grandeza de Deus. "Tema ao Senhor toda a terra, temam-no todos os habitantes do mundo" (Si 33.8).

E por sermos todos pecadores, em nossa reverência há um medo santo do poder justo de Deus. 'Ao Senhor dos Exércitos, a ele santificai; seja ele o vosso temor, seja ele o vosso espanto" (Is 8.13). "Entrarei na tua casa e me prostrarei diante do teu santo templo, no teu temor" (Si 5.7).

Esse temor, porém, não é um terror paralisante, cheio de ressentimento contra a autoridade absoluta de Deus. Ele encontra alívio na contrição, no arrependimento e na tristeza por nossa distância de Deus. "Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus" (SI 51.17). "Assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e vivificar o coração dos contritos" (Is 57.15).

Misturado ao sentimento genuíno de contrição,e tristeza pelo pecado aparece um anseio por Deus. "Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo" (SI 42.1, 2). "Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraza na terra. Ainda que a minha carne e o meu coração desfaleçam, Deus c a fortaleza do meu coração e a minha herança para sempre" (SI 73.25, 26). "O Deus, tu és o meu Deus forte; eu te busco ansiosamente; a minha alma tem sede de ti; meu corpo te almeja, como terra árida, exausta, sem água" (SI 63.1).

Deus não fica indiferente ao anseio contrito da alma. Ele vem, retira a carga do pecado e enche nosso coração de alegria e gratidão. "Converteste o meu pranto em folguedos; tiraste o meu pano de saco e me cingiste de alegria, para que o meu espírito te cante louvores e não se cale. Senhor, Deus meu, graças te darei para sempre" (SI 30.11, 12).

Nossa alegria, porém, não é resultado apenas da gratidão gerada pelo olhar em retrospectiva. Ela também vem do olhar esperançoso prospectivo:

"Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu" (Si 42.5). "Aguardo o Senhor, a minha alma o aguarda; eu espero na sua palavra" (SI 130.5).

No fim das contas, o coração não anseia por qualquer das dádivas de Deus, mas pelo próprio Deus. Vê-lo, conhecê-lo e estar em sua presença é o maior banquete da alma. Depois disso ela não quer mais nada. As palavras passam a ser insuficientes. Nós falamos de prazer, alegria, delícia, mas esses são apenas frágeis indicadores da experiência indizível.

"Uma coisa peço ao Senhor, e a buscarei: que eu possa morar na Casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a beleza do Senhor e meditar no seu templo" (SI 27.4). "Na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente" (Si 16.11). "Agrada-te do Senhor" (Si 37.4).

Esses são alguns dos afetos do coração que podem evitar que a adoração seja "em vão". Adorar é uma maneira alegre de refletir de volta para Deus o brilho do seu valor. Não é um mero ato de vontade, pelo qual executamos ações externas. Sem a participação do coração, não adoramos de verdade. O envolvimento do coração na adoração é o despertamento de sentimentos, emoções e afetos do coração. Onde os sentimentos por Deus estão mortos, a adoração está morta.

A adoração genuína precisa incluir sentimentos interiores que refletem o valor da glória de Deus. Se não fosse assim, a palavra hipócrita não teria sentido. Mas a hipocrisia existe—ter emoções exteriores (como cantar, orar, dar, recitar) que significam afetos do coração que não existem. "Este povo me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim."

29 de mar. de 2011

O que é mortificação? – John MacArthur



Os cristãos têm uma obrigação — não para com a carne, mas em relação ao novo princípio de justiça personificado no Espírito Santo. Eles lutam, pelo poder do Espírito Santo, para mortificar o pecado na carne — "para mortificardes os feitos do corpo". Se você estiver fazendo isso, ele diz, "[viverás]" ( Rm 8.13).


É claro que Paulo não está sugerindo que alguém pode obter vida, mérito ou favor de Deus pelo processo da mortificação. Mas está dizendo que é uma característica de crentes verdadeiros o fato de mortificarem os feitos do corpo. Nada é mais natural para pessoas que são "guiadas pelo Espírito de Deus" (v.14) do que mortificar seu pecado. Uma das provas da nossa salvação é que fazemos isso. Espera-se isso dos crentes. É a expressão da nova natureza.

Em outras palavras, o crente verdadeiro não é como Saul, que queria mimar e preservar Agague, mas como Samuel que o despedaçou sem mercê e sem demora. Saul pode ter querido fazer de Agague um animal de estimação, mas Samuel sabia que isso era totalmente impossível. Da mesma maneira, nunca domesticaremos nossa carne. Não podemos afagar nosso pecado. Devemos tratá-lo com rapidez e de um modo severo. Foi o que disse Jesus:

Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti; pois te convém que se perca um dos teus membros, e não seja todo o teu corpo lançado no inferno. E, se a tua mão direita te faz tropeçar, corta-a de ti; pois te convém que se perca um dos teus membros, e não vá todo o teu corpo para o inferno (Mt 5.29,30).



É óbvio que Jesus não estava falando no sentido literal, embora muitos tenham entendido mal essa passagem. Ninguém menos que o próprio grande teólogo Orígenes castrou-se, num esforço mal orientado de cumprir esse mandamento literalmente. Jesus não estava proclamando a automutilação, mas sim a mortificação dos feitos do corpo. Mortificação, nas palavras do puritano John Owen significa que a carne, "com [suas] faculdades e proprie¬dades, [sua] sabedoria, astúcia, sutileza, força, deve, segundo o apóstolo, ser morta, afligida, mortificada — isto é, ter seu poder, vida, vigor e força para produzir seus efeitos, afastados pelo Espírito".

Romanos 8.12, 13, versos que Paulo usa para introduzir a idéia de mortificação do pecado, sinalizam para um grande ponto de alteração na linha de pensamento que percorre esse capítulo. Martyn Lloyd-Jones disse:

É aqui, pela primeira vez, nesse capítulo, que entramos no campo da aplicação prática. Tudo o que vimos até agora foi uma descrição geral do cristão — seu caráter, sua posição. Mas agora o apóstolo realmente explicita a doutrina da santificação. Aqui nos é dito exatamente como, na prática, o cristão se torna santificado. Ou, dizendo isso de uma outra maneira, aqui nos é dito em detalhes e na prática como o cristão deve travar a batalha contra o pecado.

Paulo não promete uma libertação imediata do assédio do pecado. Não descreve uma crise momentânea de santificação, quando o crente imediatamente se tornaria perfeito. Ele não diz aos romanos para deixarem as coisas na mão de Deus enquanto eles não fazem nada. Não sugere que uma "decisão em momento crítico" resolverá a questão de uma vez para sempre. Ao contrário, ele fala de uma luta contínua com o pecado, que devemos, de forma persistente e perpétua, "mortificar os feitos do corpo".

Essa linguagem é frequentemente mal-entendida. Paulo não está chamando as pessoas a uma vida de autoflagelação. Ele não está dizendo que os cristãos deveriam ser subjugados pela fome, literalmente torturarem o corpo, ou privarem-se das necessidades básicas da vida. Não está lhes dizendo para se mutilarem, abraçarem uma vida monástica ou qualquer coisa do tipo. A mortificação de que Paulo fala não tem nada que ver com uma autopunição exterior. E um processo espiritual realizado pelo "Espírito". Paulo está descrevendo uma forma de vida para sufocar o pecado, aniquilá-lo de nossa vida, sugar suas forças, extirpá-lo e impedir sua influência. Isso é o que significa mortificar o pecado.

A Experiência da Presença de Deus – M. Lloyd-Jones


. . .precisamos dar-nos conta de que estamos na presença de Deus. Que significa isso? Significa a percepção de algo de quem Deus é e do que Ele é. Antes de começar a proferir palavras, devemos sempre • proceder assim. Devemos dizer-nos a nós mesmos: «Estou entrando agora na sala de audiências daquele Deus,  o Todo-poderoso,   o  absoluto, o eterno e grande Deus, com todo o Seu poder, força e majestade, aquele Deus que é fogo consumidor, aquele Deus que é luz, e não há nele treva nenhuma, aquele perfeito, absoluto e Santo Deus. É isso que estou fazendo» . . . Mas, acima de tudo, nosso Senhor insiste em que devemos aperceber-nos de que, além de tudo aquilo, Ele é nosso Pai. . .

Oh, que compreendamos essa verdade! Se tão-somente entendêssemos que este Deus onipotente é nosso Pai mediante o Senhor Jesus Cristo! Se tão-somente compreendêssemos que . . .toda vez que oramos é como um filho dirigindo-se a seu pai! Ele sabe todas as coisas que nos dizem respeito; Ele conhece cada uma de nossas necessidades antes que Lhas contemos. . . Ele deseja abençoar-nos muitíssimo mais do que desejamos ser abençoados. Ele tem opinião formada a nosso respeito, Ele tem um plano e um programa para nós, Ele tem uma ambição a favor de nós, digo-o com reverência, uma inspiração que transcende o nosso mais elevado pensamento e imaginação. . .

Ele cuida de nós. Ele já contou os cabelos de nossa cabeça. Ele disse que nada nos pode suceder fora dEle. Depois, é preciso que lembremos o que Paulo declara tão gloriosamente em Efésios 3. Ele é «poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos,, ou pensamos».Esse é o verdadeiro conceito da oração, diz Cristo. Não se trata de ir fazer girar a roda de orações. Não basta contar as contas. Não diga: «Devo passar horas em oração; decidi-me a fazê-lo e tenho que fazê-lo» . . . Temos que despojar-nos dessa noção matemática da oração. O que devemos fazer, antes de tudo, é dar-nos conta de quem é Deus, do que Ele é, e de nossa relação com Ele.

23 de mar. de 2011

Evangelhos Falsificados


Trevin Wax, autor de Counterfeit Gospels, aponta uma série de pseudo-evangelhos que se contrastam com o verdadeiro Evangelho:

Evangelho Terapêutico: O pecado rouba a nossa sensação de plenitude. A morte de Cristo prova o nosso valor como seres humanos e nos dá poder para alcançar nosso potencial. A Igreja nos ajuda a encontrar a felicidade.

Evangelho Formalista: Pecado é não conseguir manter as regras da igreja e regulamentos. A morte de Cristo me dá uma agenda, para que eu possa começar a seguir as formas prescritas do cristianismo.

Evangelho Moralista: Nosso grande problema são pecados (plural) e não o pecado (a natureza). O propósito da morte de Cristo é para nos dar uma segunda chance e fazer de nós pessoas melhores. A redenção vem através do exercício de força de vontade com a ajuda de Deus.

Evangelho sem Julgamento: O perdão de Deus não precisa vir através do sacrifício de Seu Filho. O julgamento é mais sobre a bondade de Deus, não a necessidade de a rebelião humana ser punida. Evangelismo não é urgente.

Evangelho do Clube Social: A salvação é encontrar companheirismo e amizade na igreja. O evangelho é reduzido a relações cristãs que nos ajudam a apreciar a vida.

Evangelho Ativista: O reino avança através de nossos esforços para construir uma sociedade justa. O poder do evangelho é demonstrado através da transformação cultural, e a igreja está unida em torno de causas políticas e projetos sociais.

Evangelho sem Igreja: O foco da salvação está essencialmente sobre o indivíduo, de uma maneira que faz com que a comunidade de fé seja periférica para propósitos de Deus. A igreja é vista como uma opção para a espiritualidade pessoal, ou mesmo um obstáculo para Cristo.

Evangelho Místico: A salvação vem por meio de uma experiência emocional com Deus. A igreja está lá para me ajudar a me sentir perto de Deus, ajudando-me ao longo da minha busca da união mística.

Evangelho Quietista: A salvação é sobre as coisas espirituais, e não questões seculares. O cristianismo é apenas uma mudança de vida individual e não está preocupado com a sociedade e a política.

17 de mar. de 2011

Tudo é vosso, inclusive a morte – John Piper


Nem a morte, nem a vida... poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor" (Rm 8.38, 39). De fato, a morte não é somente incapaz de separar-nos do amor de Deus, ela é também, juntamente com todas as outras dificuldades, uma dádiva do evangelho. Ouçam o que Paulo disse em 1 Coríntios 3.21-23: "Ninguém se glorie nos homens; porque tudo é vosso: seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, sejam as coisas presentes, sejam as futuras, tudo é vosso, e vós, de Cristo, e Cristo, de Deus". Tudo é vosso — inclusive a morte! A morte está incluída em nosso cofre de tesouro dos dons de Deus por meio do evangelho. Por isso, Paulo disse que somos "mais do que vencedores" na morte. Disse também que tudo é nosso, inclusive a morte. Entendo que ele estava afirmando que, por causa das verdades de Romanos 8. 28 e 32, Deus toma cada dificuldade e faz com que ela nos sirva, inclusive a morte. A morte é "nossa" — nossa serva. O fato de que somos "mais do que vencedores" significa que a morte não apenas jaz morta aos nossos pés, depois do combate — ela é levada cativa e tornada nossa serva.

E como a morte nos serve? Como a servidão da morte, comprada por sangue, abençoa os filhos de Deus? Paulo responde: "Para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro" (Fp 1.21). Por que o morrer é lucro? Ele responde em seguida: "Tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor" (Fp 1.23). Estar com Cristo, depois da morte, é "incomparavelmente melhor" do que estar na terra. Esta é a razão por que somos mais do que vencedores quando a morte parece triunfar. Ela se torna uma porta para uma melhor comunhão com Cristo.

11 de mar. de 2011

John Owen - Pressão e Crescimento - John Piper


O que começou a me impressionar, à medida que aprendia quão pública e quão administrativamente carregada era a vida de Owen, foi que ele era capaz de continuar estudando e escrevendo, a despeito de tudo, e em parte por causa de tudo.

Em Oxford, Owen era responsável pelos serviços de adoração, pois a Igreja de Cristo era uma catedral, bem como uma faculdade, e ele era o pregador. Ele era responsável pela escolha de estudantes, a nomeação de capelães, a provisão de facilidades tutoriais, a administração de disciplina, a supervisão da propriedade, a cobrança de aluguéis e dízimos, a doação de possessões e o cuidado dos carentes no hospital da igreja, mas o seu objetivo principal, em toda a sua vida, diz Peter Toon, era “estabelecer a vida inteira da Faculdade sobre a Palavra de Deus”.

Sua vida era simplesmente sobrepujada pela pressão. Eu não posso imaginar que tipo de vida familiar ele tinha, e durante o tempo em que suas crianças estavam morrendo (sabemos que pelo menos dois filhos morreram na praga de 1655). Quando ele terminou seus deveres como Vice-Chanceler, ele disse na conclusão do seu discurso, Os labores têm sido inumeráveis; além de submeterem a enormes gastos, frequentemente quando trazido à beira da morte por sua causa, tenho odiado estes membros e este corpo débil com o qual estava pronto a abandonar minha mente; as censuras dos plebeus têm sido indiferentes; a inveja dos outros tem sido sobrepujada: nestas circunstâncias eu desejo a vocês toda prosperidade e dou adeus.

A despeito de toda esta pressão administrativa, e até mesmo hostilidade, por causa de seu compromisso com a piedade e com a causa Puritana, ele estava constantemente estudando e escrevendo, provavelmente até tarde da noite, em vez de dormir. Isto mostra quão preocupado ele era com a fidelidade doutrinária às Escrituras. Peter Toon lista 22 obras publicadas durantes estes anos. Por exemplo, ele publicou sua defesa da Perseverança dos Santos em 1654. Ele viu um homem chamado John Goodwin espalhando erro sobre esta doutrina e sentiu-se constrangido, mesmo com todos os seus outros deveres, a respondê-lo – com 666 páginas! Este livro preenche todo o volume 11 em suas Works. E ele não escrevia felpas que desapareciam durante a noite. Um biógrafo dele disse que este livro é “a vindicação mais magistral da perseverança dos santos na língua inglesa”.

Durante estes anos administrativos ele escreveu também Of the Mortification of Sin in Believers [Sobre a Mortificação do Pecado nos Crentes] (1656), Of Communion with God[Sobre a Comunhão com Deus] (1657), Of Temptation: The Nature and Power of It [Sobre a tentação: A Natureza e o Poder dela] (1658). O que é impressionante sobre estes livros é que eles são o que poderia ser chamado de intensamente pessoais e em muitos lugares muito suaves. Assim, ele não estava apenas lutando batalhas doutrinárias; ele estava lutando contra o pecado e a tentação. E ele não estava apenas lutando, ele estava tentando encorajar uma profunda comunhão com Deus em seus estudantes.

Ele foi aliviado dos seus deveres de Deão em 1660 (tendo renunciado a Vice-Chancelaria em 1657). Cromwell tinha morrido em 1658. A monarquia com Charles II estava de volta. O Ato da Uniformidade, que removeu 2.000 Puritanos dos seus púlpitos, estava às portas (1662). Os dias seguintes para Owen, agora, não seriam os grandes dias políticos e acadêmicos dos últimos 14 anos. Ele era agora, de 1660 até sua morte em 1693, um tipo de pastor fugitivo em Londres.

Durante estes anos ele se tornou o que alguns têm chamado de o “Atlas e o Patriarca da Independência”. Ele se tornou persuadido de que a forma Congregacional de governo era mais bíblica. Ele foi o principal porta-voz desta ala da Não-conformidade, e escreveu extensivamente para defender a visão.

Mas, ainda mais significante, ele foi o principal porta-voz da tolerância, tanto da forma Presbiteriana como Episcopal. Mesmo enquanto em Oxford, ele tinha a autoridade para acabar com a adoração Anglicana, mas ele permitiu um grupo de Episcopais adorar em salas do outro lado dos seus próprios quartos. Ele escreveu numerosos tratados e livros pedindo a tolerância dentro da Ortodoxia. Por exemplo, em 1667 ele escreveu (em in Indulgence and Toleration Considered [Indulgência e Tolerância Consideradas]):

Parece que somos um dos primeiros que, em algum lugar no mundo, desde a fundação deste, pensou em arruinar e destruir pessoas da mesma religião que a nossa, meramente pela escolha de algumas formas peculiares nesta religião.

Suas idéias de tolerância eram tão significantes que elas tiveram uma larga influência sobre William Penn, o Quaker e fundador de Pensilvânia, que foi um estudante de Owen. E é significante para mim, como um Batista, que ele tenha escrito em 1669, com vários outros pastores, uma carta de interesse para o governador e congregacionalistas de Massachusetts, suplicando-lhes para não perseguir os Batistas.


Ministério Pastoral

Durante estes 23 anos após 1660, Owen foi um pastor. Por causa da situação política, ele não era sempre capaz de estar num único lugar e com o seu povo, mas ele parecia carregá-los em seu coração, mesmo quando viajava de um lugar para outro. Perto do fim de sua vida, ele escreveu ao seu rebanho, “Embora esteja ausente de vocês em corpo, estou em mente, afeição e espírito presente com vocês, e em suas assembléias; pois espero que vocês sejam minha coroa e regozijo no dia do Senhor”.

Não somente isto; ele ativamente aconselhou e fez planos para o cuidado deles em sua ausência. Ele aconselhou-lhes em uma carta com palavras que são maravilhosamente relevantes para a luta do cuidado pastoral em nossas igrejas hoje: Rogo-vos que ouçam uma palavra de aviso em caso de aumento de perseguições, que provavelmente acontece por um período de tempo indefinido. Eu desejaria, visto que vocês não têm presbíteros regentes, e seus professores não podem passear publicamente com segurança, que vocês apontassem alguém entre vocês mesmos, que possa continuamente, à medida que suas ocasiões admitam, ir de casa em casa e se aplicarem peculiarmente aos fracos, tentados e temerosos, àqueles que estão prontos a se desesperar ou a parar, para encorajá-los no Senhor. Escolham para este fim aqueles que possuem um espírito de coragem e fortaleza; e deixe-os saber que eles são felizes, a quem Cristo honrará com Sua bendita obra. Eu desejo que as pessoas desse grupo sejam homens fiéis, e conheçam o estado da igreja; através disto vocês saberão qual é a estrutura dos membros da igreja, que será uma grande direção para vocês, mesmo em suas orações.

Sob circunstâncias normais Owen cria e ensinava que, “O primeiro é principal dever de um pastor é alimentar o rebanho pela diligente pregação da Palavra”. Ele apontava para Jeremias 3:15 e o propósito de Deus de “dar à Sua igreja pastores segundo o seu próprio coração, que os apascentariam com conhecimento e entendimento”. Ele mostrava que o cuidado da pregação do evangelho foi confiado a Pedro, e através dele, a todos os verdadeiros pastores da igreja, sob o nome de “apascentar” (João 21.15,16). Ele citava Atos 6 e a decisão dos apóstolos de se livrarem de todas as incumbências que haviam sido dadas a eles, para se dedicarem inteiramente à palavra e à oração. Ele se referia à 1 Timóteo 5.17 para demonstrar que é obrigação do pastor “trabalhar na palavra e na doutrina”, e à Atos 20.28 onde os responsáveis pelo rebanho devem apascentá-los com a Palavra.

E então, ele diz: “Não é requerido apenas que ele pregue agora e então descanse; mas que ele deixe todos os outros trabalhos, mesmo permitidos, todas as outras atividades na igreja, cuja uma constante atenção à elas o distrairia do seu trabalho, ao qual ele se entregou... Sem isto, nenhum homem será capaz de prestar contas do seu trabalho pastoral de uma maneira agradável no último dia”. Acho que seria justo dizer que Owen atendeu plenamente este desafio durante aqueles anos, sempre que a situação política o permitiu.

Owen e Bunyan

Não está claro para mim porque alguns puritanos naquela época estavam na prisão, e outros, como Owen, não. Parte da explicação é o quão abertamente eles pregavam. Parte é que Owen foi uma figura nacional com conexões com os altos cargos. Outra parte é que a perseguição não foi nacionalmente uniforme, mas alguns oficiais locais eram mais rigorosos do que outros.

Mas não importa a explicação disso, é notável o relacionamento que John Owen teve nestes anos com John Bunyan, que gastou muitos deles na prisão. Uma história conta que o Rei Charles II perguntou a Owen certa vez por que ele se importava em ouvir a pregação de um “funileiro” sem educação como Bunyan. Owen respondeu “Pudesse eu possuir a habilidade para pregar deste funileiro, vossa majestade, alegremente abriria mão de todo o meu aprendizado”.

Uma das melhores ilustrações da face sorridente de Deus por trás de uma providência carrancuda é a história de como Owen falhou em ajudar Bunyan a sair da prisão.

Repetidamente quando Bunyan estava na prisão, Owen lutou por sua libertação com todas as forças que ele podia usar. Mas não foi possível. Porém, quando John Bunyan foi libertado em 1676, trouxe consigo um manuscrito “de uma dignidade e importância que quase não podia ser compreendida”. De fato, Owen encontrou-se com Bunyan e o recomendou a seu editor, Nathaniel Ponder.

A parceria deu certo e o livro muito provavelmente, depois da Bíblia, é o mais publicado no mundo – tudo porque Owen falhou em suas tentativas de libertar Bunyan, e porque ele obteve sucesso em encontrar-lhe um editor. A lição: “Não julge o Senhor com débil entendimento, Mas confie nele para sua graça. Por trás de uma providência carrancuda, Ele oculta uma face sorridente”.

Morte

Owen morreu em 24 de Agosto de 1683. Ele foi enterrado em 4 de Setembro, no Bunhill Fields, Londres, onde cinco anos mais tarde o Pensador e “Imortal Sonhador da Prisão de Bedford” seria enterrado com ele. Foi decidido que os dois descansassem unidos, após o longo trabalho do Gigante Congregacional pela causa da tolerância dos batistas pobres na Inglaterra e na Nova Inglaterra.


Epitáfio


Qual será o seu epitáfio? O que será dito sobre você, quando você partir? Quais serão suas últimas palavras? As palavras que beiram a morte refletem como foi nossa vida.
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Há algum tempo, um amigo me falava sobre o pai de um amigo seu, norte americano, que houvera sido militar, nos Estados Unidos.
Este homem lutou na Guerra da Coréia. Lá, ele, que era crente, enfrentou uma situação extrema. Seu regimento foi abatido, muitos colegas e amigos morreram na investida das tropas inimigas. Ele foi um dos poucos que, mesmo ferido, por algum tempo conseguiu manter sua posição, lutar e, ainda, defender a vida de um soldado amigo, que estava muito ferido.
O texto que desejo considerar também de um soldado. Alguém que deu sua vida à causa pela qual lutou.
2 Timóteo 4.6-8:
Quanto a mim, estou sendo já oferecido por libação, e o tempo da minha partida é chegado.
Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé.
Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda.
Antes de nos determos nesta afirmação solene de Paulo, vamos entender um pouco do contexto em que ele a elaborada:
Uma carta, um destinatário.
O texto que analisamos faz parte de uma carta. As missivas tinham importância muito grande naqueles tempos – todo comunicação oficial era feita por meio delas. As Escrituras do Novo Testamento consistem, em sua maioria, de cartas – nelas eram dadas notícias, instruções para igrejas, indivíduos, saudações pessoais, informações importantes. Como toda carta, as cartas das Escrituras devem ser lidas por inteiro, para que se tenha uma boa compreensão do todo. Afinal, quando recebemos uma carta em casa, especialmente se é uma carta a qual esperamos há muito tempo e estamos ansiosos por ler, não leremos apenas um pequeno trecho, um parágrafo, uma linha, enfim, e ficaremos satisfeitos. Queremos lê-la por completo. Saber tudo o que há nela – e, muitas vezes, lemos e relemos, porque assim nos familiarizamos mais com seu conteúdo, suas notícias e informações.
A carta foi enviada a alguém: Timóteo. Timóteo era um jovem muito capaz. Sua mãe Eunice, e avó, Loide, eram crentes. Seu pai era um gentio. Timóteo fora instruído na Palavra de Deus desde criança. Era filho na fé do apóstolo Paulo, o qual, por diversas oportunidades, assim o chama (1 Tim. 1.2, 18; 2 Tim. 1.2; 2.1). Paulo, aliás, nutria por Timóteo uma grande afeição – dizia que ao revê-lo, transbordaria de alegria.
Timóteo era o pastor da Igreja em Éfeso. Ele chegou nesta cidade por insistência do apóstolo Paulo, que pedira-lhe que ali ficasse para “admoestar certas pessoas a fim de que não ensinem outra doutrina” (I Tim. 1.3).
Éfeso é uma cidade grande e importante, considerada a capital da Ásia naqueles tempos. Paulo esteve lá em sua terceira viagem missionária e permaneceu por quase três anos na cidade onde fundou uma importante e frutífera igreja. (At. 19).
A carta cujo trecho nós lemos foi a última carta escrita pelo apóstolo Paulo, antes de sua morte. Ele devia ter cerca de 60 anos quando a redigiu.
O remetente:
Em toda carta, nota-se a experiência de quem fora marcado pelo tempo de trabalhos árduos e difíceis e que, mesmo em sua velhice, enfrentava lutas duras.
Paulo estava encarcerado em uma prisão, em Roma, apenas aguardando a sentença definitiva – morte.
Nesta carta, Paulo, o velho, como ele mesmo se chamava (Fm. 1.19), dá uma série de conselhos a Timóteo, instruindo-o a perseverar na fé que recebeu na juventude e na qual foi confirmado pelo ministério. Paulo preocupa-se em citar seu próprio exemplo de firmeza e perseverança em contraste com a infidelidade e apostasia de homens que abandonaram a fé. Homens que andaram com o próprio apóstolo.
Oferece uma série de instruções finais, quase como se fosse um testamento. Esse, aliás, é o ponto ao qual devemos voltar nossa atenção nesta carta, pois nela temos as últimas palavras de um homem.
As palavras que beiram a morte refletem como foi nossa vida.
Pense em Abraão, Isaque, Jacó, José, Moisés, Josué, Samuel, Davi e em Jesus Cristo. Procure nas Escrituras quais foram suas últimas palavras, suas orientações finais. Vejam nestas palavras o fruto de sua preocupação – de sua atenção. Vejam como glorificaram a Deus em sua vida e também, em sua morte.
Agora, voltemo-nos para Paulo, em suas últimas palavras, em seu “canto do cisne”, e vejamos como ele tem a nos ensinar. Paulo inicia esta frase como uma conclusão da sentença anterior. Ele estava dizendo a Timóteo como devia ser o procedimento dele no ministério, nos versos iniciais do capítulo 4, e então diz:
“Quanto a mim, estou sendo já oferecido por libação”. Libação é o ato sacrificial de deitar óleo ou vinho sobre o sacrifício. A primeira vez que a palavra libação ocorreu na Bíblia, foi quando Jacó erigiu uma coluna onde Deus lhe apareceu (Gn. 35). Sua prática é mais tarde regulada pela Lei de Moisés. No N.T, só aparece duas vezes, as duas proferidas pelo apóstolo Paulo, para fazer referência à sua vida como libação, ou como a oferta de sua vida como um sacrifício pela causa do Senhor. Ele diz isso em Fp. 2.17 “Entretanto, mesmo que seja eu oferecido por libação sobre o sacrifício e serviço da vossa fé, alegro-me e, com todos vós, me congratulo” e nesta passagem. Aqui, o apóstolo está falando de sua vida como uma oferta ao Senhor. Ele nos exorta a fazer a mesma coisa em Romanos 12.1, quando roga-nos a que ofereçamos nossa vida como sacrifício vivo ao Senhor.
Em outras palavras, é como se Paulo estivesse dizendo a Timóteo: “Seja assim, Timóteo, pois, quanto a mim, eu já fiz minha parte”.
Quantos de nós chegaremos ao fim de nossa vida com esta lucidez e clareza de nossa vida? Temos feito hoje nossa parte? Nosso presente determina como será nosso epitáfio. Nossa palavra final. O hoje e agora, serão a história do nosso amanhã. Se desejamos chegar ao fim de nossa vida com a mesma certeza de Paulo, temos de começar hoje e agora a história que amanhã, será ontem, será passado.
“Tempo da partida”, é a mesma expressão usada quando as amarras de um navio são soltas, para que ele possa navegar. Paulo estava consciente de sua partida desta vida. No entanto, ele não tinha temores ou desespero. Pelo contrário, queria ser útil enquanto estivesse vivo – mas entendia que a morte não era o fim. Em 1 Coríntios 15, o apóstolo Paulo lembre da vitória que obtemos em Cristo sobre a morte.
Em seguida então, ao refletir sobre toda sua vida – imaginem o apóstolo escrevendo para Timóteo, dando conselhos de uma imunda prisão romana:
Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé.A palavra para combater é “agonizomai” – de onde vem nossa palavra agonia. Paulo disse que agonizou a boa agonia. Esta palavra envolve uma boa dose de sofrimento. Paulo se refere à vitória que obteve em suas lutas e sofrimentos.
Quando ele instrui Timóteo em sua primeira epístola (6.12), ele diz: “Combate o bom combate da fé”. Este é o combate que Paulo completou. O bom combate da fé.
Manter a fé é uma agonia. É uma luta. Trata-se de uma luta intensa, difícil, sofrida a de manter a nossa fé, a nossa confissão em Cristo. É um grande desafio para nós, nos dias de hoje, seguir o exemplo do apóstolo Paulo e lutar o bom combate da fé.
Creio que, lendo esse texto, podemos resumir a vida de Paulo, nessas palavras: Fidelidade. Perseverança.
Um grande servo de Deus do passado, John Owen, recebeu a seguinte homenagem póstuma, em sua lápide: “Uma pura lâmpada da verdade evangélica brilhou para muitos em particular, para muitos no púlpito, e para todos, pelas obras impressas, apontando sempre o mesmo alvo. E nesse resplendor, foi gradualmente gastando suas forças até que elas se foram. Sua alma santa, anelando por desfrutar mais de Deus, partiu das ruínas de seu corpo quebrado , não mais apto para servir. Sua morte foi um dia de felicidade.”
Refletir nesses exemplos ajuda-nos a considerar o que será dito a nosso respeito, quando nós partirmos.
Paulo finalmente conclui dizendo que: Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda.
Todos os que perseverarem, receberão o prêmio das mãos do próprio salvador.
Em suas duas cartas, Paulo disse a Timóteo, que, num certo momento da carreira cristã, alguns de seus companheiros abandonaram a fé. Distraíram-se com este mundo. Amaram o presente século. Desanimaram-se. Acovardaram-se. Voltaram atrás. Titubearam. E, pense bem, esses que deixaram a fé foram um dia companheiros do próprio Paulo. Um dia eles estavam certos da confissão que faziam, mas não prosseguiram até o fim.
Mas, não temos porque temer. João disse: porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. (1 Jo. 5.4)
O que deve animar nosso coração, é o fato de a vitória final já haver sido conquistada por Cristo. Nós precisamos tão somente confiar no Senhor Jesus Cristo, e Ele mesmo nos conduzirá (Rm. 8.31-39).
Paulo lembra a Timóteo que ele permaneceu firme na fé, até o fim. Estava terminando bem a sua vida. Esta palavra não foi dada com arrogância ou para demonstrar superioridade. Paulo sabia de suas misérias e lutas e mais de uma vez afirmou isso em suas epístolas. Jerry Bridges sugere que, dentre outros, há 4 fatores que ajudam-nos a permanecer fieis, em toda nossa vida:
  • Tempo diário de comunhão consagrada com Deus
  • Apropriação diária do evangelho
  • Compromisso diário com Deus como um sacrifício vivo
  • Uma crença firme na soberania e no amor de Deus
Sobre a perseverança de Paulo, Bridges diz o seguinte:
“perseverança significa continuar avançando, apesar dos obstáculos. Portanto, quando Paulo disse: “Completei a carreira”, estava afirmando basicamente: “Perseverei”. Precisamos permanecer firmes. As Escrituras nos exortam, repetidas vezes, a fazermos isso. Contudo, lembre-se: isso é mais do que permanecer quieto. Se pensarmos assim, não entenderemos o que significa permanecer firme. Temos de avançar. Temos de perseverar. Temos de ser como Paulo e afirmar: “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé”. Sejamos, você e eu, semelhantes ao apóstolo Paulo. 1
Aquele soldado que lutou na Coréia, no começo de nosso texto, faleceu recentemente. Mesmo depois de 50 anos de seus atos heróicos, ele foi homenageado e lembrado por sua bravura e coragem no campo de batalha, em seu combate.
Que sejamos nós também, à semelhança do apóstolo Paulo, perseverantes e firmes até o fim. A ponto de, ao fim de nossas vidas, podermos olhar para trás e dizer que lutamos o bom combate da fé e estamos prontos para receber a coroa da vida.
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Fonte: [Blog Fiel]



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