O apóstolo já nos tem exortado nesta Epístola aos Efésios acerca do que ele chama "parvoíces e chocarrices". Não devemos ser pomposos, não devemos apresentar-nos com excessiva seriedade, mas isso é muito diferente do erro das "parvoíces e chocarrices". Muitas vezes fico surpreso por ouvir cristãos cedendo a essas "parvoíces e chocarrices". Verifiquemos que não estamos produ¬zindo uma atmosfera nociva com esse tipo de coisa. Essa espécie de conversa pertence ao mundo, não a nós. Isso é a instrução das Escrituras.
O mundanismo, naturalmente, tem muitas formas, e há perigos específicos. O apóstolo adverte Timóteo, na Primeira Epístola, capítulo 6, versículo 9: "Os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína. Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores. Mas tu, ó homem de Deus, foge destas coisas". Paulo aí condena o amor ao dinheiro. O dinheiro como tal não é mau, se o homem o usa apropriadamente, como despenseiro do Senhor Jesus Cristo. Contudo, no momento em que o homem começa a amar o dinheiro, entra o pecado. Tenho bastante idade para poder dizer que tenho visto muita gente boa sair-se mal nesse ponto. Uma vez que acontece isso, a temperatura espiritual sempre abaixa, e ocorre uma rápida perda de vigor espiritual. Conheci homens que foram convertidos de uma vida muito pecaminosa, e que, por causa da sua conversão, começaram a dar atenção ao seu trabalho, progrediram e tiveram sucesso; e tive a infeliz experiência de ver alguns deles caírem na armadilha de que estamos falando. Antes, jogavam fora o seu dinheiro; agora, começaram a amá-lo. Ambos os extremos são maus.
Outra causa da perda de vigor e energia espiritual, e de deixar de ser "forte no Senhor e na força do seu poder", é a enervante atmosfera da respeitabilidade. É um perigo muito comum na Igreja. Às vezes me pergunto se não é a maior maldição na hora presente. Pelo menos, as estatísticas provam claramente que, por uma razão ou outra, o cristianis¬mo atual não está sensibilizando as classes trabalhadoras deste país. Será, às vezes me pergunto, porque estamos dando a impressão de que o cristianismo é só para as respeitáveis classes médias? Examinemo-nos a nós mesmos sobre isso. Tememos a manifestação do Espírito? Pesa sobre nós a culpa de apagar o Espírito? Tememos a vida, o vigor e o poder? Quantas vezes vi homens que começaram com fogo se tornarem cristãos simplesmente respeitáveis, finos - inúteis, sem nenhuma energia, sem nenhum vigor, sem nenhum poder!
Permitam-me ilustrar isso outra vez com fatos da esfera do ministério. Conheci homens que entraram no ministério e que sem dúvida eram homens chamados por Deus, cheios de paixão pelas almas e revestidos de poder na pregação. Vi-os terminarem apenas como bons pastores, bons visitadores. Visitar faz parte do ministério pastoral; mas se o homem se torna apenas um homem agradável, um pastor bondoso, excelente para receber-se em casa, alguém que toma uma xícara de chá com você, é trágico. Que tragédia o profeta acabar sendo tão-somente um homem amável e um pastor bondoso! Mais uma vez estamos vendo que sempre devemos procurar evitar os extremos. No entanto, não há nada que possa ser tão enervante como esse tipo de atmosfera fina e respeitável, na qual ficamos temendo quase tudo, e, acima de tudo, ficamos temendo a manifestação do poder do Espírito Santo. Por isso, começamos a "extinguir o Espírito"!
É evidente que há aplicações intermináveis deste tema. Ele constitui o fundo e base racional do ensino que se vê em 2 Coríntios, capítulo 6, sobre "não nos prendermos a um jugo desigual com os infiéis". Isso se aplica primariamente ao casamento. A razão pela qual o cristão não deve casar-se com alguém incrédulo é que, fazendo isso, ele se põe numa atmosfera nociva, que tende a minar a sua energia e vitalidade espiritual. Isso é inevitável, como se vê no fato de que desse modo ele se associou e se prendeu a alguém que não tem vida e entendimento espiritual. Ele, não o seu cônjuge, é que sofrerá as conseqüências. Por conseguinte, somos exortados a não nos sujeitarmos a um jugo desigual com os infiéis.
Fonte: [Martyn Lloyd-Jones]
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