18 de ago. de 2011

A Predestinação Divina – J. I. Packer



"Eu vos tenho amado", diz o SENHOR; "mas vós dizeis: Em que nos tens amado?' "Não foi Esaú irmão de Jacó?" — disse o SENHOR; "todavia amei a Jacó, porém aborreci a Esaú... " (Ml 1.2,3)

Os quarenta ou mais escritores que produziram os sessenta e seis livros da Escritura no espaço de tempo aproximado de mil e quinhentos anos viram-se, e a seus leitores, envoltos na realização do propósito soberano de Deus para este mundo, propósito que o levou a criar, que o pecado depois rompeu, e que sua obra de redenção está presentemente restaurando. Esse propósito era, e é, em essência, a incessante expressão e gozo do amor entre Deus e suas criaturas racionais — amor manifesto em sua adoração, louvor, gratidão, honra, glória e serviço prestados a Ele, e na comunhão, privilégios, alegrias e dádivas que Ele lhes dá.

Os escritores lançam um olhar àquilo que já se fez para promover o plano salvífico no planeta terra danificado pelo pecado, e olham à frente o dia de sua completitude, quando o planeta terra será recriado com glória inimaginável (Is 65.17-25; 2 Pe 3.10-13; Ap 21.1-22.5). Eles proclamam Deus como o todo-poderoso Criador-Redentor e se apoiam constantemente nas multiformes obras da graça que Deus realiza na história para assegurar para si um povo, uma grande companhia de indivíduos reunidos, com os quais seu propósito original de dar e receber amor possa ser cumprido. E os escritores insistem que, como Deus se mostra absoluto no controle dos fatos ao conduzir seu plano ao ponto atingido no momento em que eles escrevem, assim Ele continuará com o total controle, executando todas as coisas de acordo com sua própria vontade, completando assim seu projeto redentor. É dentro desta moldura de referência (Ef 1.9-14; 2.4-10; 3.8-11; 4.11-16) que se inserem as questões sobre predestinação.

Predestinação é uma palavra frequentemente usada para significar a preordenação de Deus de todos os eventos da história universal, passados, presentes e futuros, e este uso é bem apropriado. Contudo, na Escritura e na linha teológica prevalecente, predestinação significa especificamente a decisão de Deus, tomada na eternidade antes da existência do mundo e de seus habitantes, com respeito ao destino final dos pecadores individuais. De fato, o Novo Testamento usa as palavras predestinação e eleição (ambas sinônimas), somente para indicar a escolha divina de pecadores particulares para a salvação e a vida eterna (Rm 8.29; Ef 1.4,5,11).

Muitos, entretanto, têm chamado a atenção para o fato de a Escritura também atribuir a Deus uma decisão antecipada sobre aqueles que não se salvarão (Rm 9.6-29; 1 Pe 2.8; Jd 4), e assim tornou-se comum na teologia protestante definir a predestinação de Deus como incluindo tanto a decisão de salvar alguns do pecado (eleição) como, paralelamente, sua decisão de condenar os restantes por seu pecado (reprovação).

À pergunta, "Sobre que base Deus escolhe indivíduos para a salvação?", responde-se ocasionalmente: com base em sua presciência de que, quando se defrontassem com o evangelho, eles escolheriam Cristo como seu Salvador. Nessa resposta, presciência significa uma previsão passiva da parte de Deus daquilo que os indivíduos se inclinam a fazer, sem que Ele predetermine sua ação. Porém

(a) Antever em Romanos 8.29; 11.2 (cf. 1 Pe 1.2 e 1.20, onde a Bíblia NVI traduz o grego antevisto por "escolhido") significa "amor prévio" e "designação prévia": não expressa a idéia de uma antecipação do espectador sobre o que acontecerá espontaneamente.


(b) Uma vez que todos estão naturalmente mortos em pecado (isto é, excluídos da vida de Deus e indiferentes a Ele), ninguém que ouve o evangelho jamais chegará ao arrependimento e à fé sem um toque íntimo que somente Deus pode transmitir (Ef 2.4-10). Jesus disse: "Ninguém poderá vir a mim, se pelo Pai não lhe for concedido" (Jo 6.65, cf. 44; 10.25-28). Os pecadores escolhem Cristo somente porque Deus os escolheu para essa escolha e os inspirou a fazê-lo pela renovação de seus corações.

Embora todos os atos humanos sejam livres no sentido de autodeterminados, nenhum deles está livre do controle de Deus, conforme seu eterno propósito e preordenação.

Os cristãos devem, portanto, agradecer a Deus sua conversão, olhar para Ele para que os guarde na graça para a qual os trouxe, e confiantemente esperar seu triunfo final, de acordo com seu plano.


Fonte: [Josemar Bessa]

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