17 de jul. de 2010

O que é adorar a Deus em espírito? - Thomas Watson (1620-1686)




O que é ser espiritual?

É ser refinado e elevado, ter o coração fixo no céu, pensar em Deus e em sua glória e ser carregado para cima numa carruagem de fogo do amor de Deus."... quem mais tenho eu no céu?" (SI 73.25), o que Beza parafraseia assim: "Que a terra se vá! Ah! se eu estivesse no céu contigo!" Um cristão, que é retirado dessas coisas terrenas, como os espíritos (álcool) são retirados do vinho, tem uma alma espiritual nobre e se assemelha muito àquele que é Espírito.

Quarta aplicação: a adoração que Deus requer de nós, e que lhe é a mais aceitável, é uma adoração espiritual: "Importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade" (Jo 4.24). Uma adoração espiritual é uma adoração pura. Embora Deus receba o culto de nossos corpos, nossos olhos e mãos levantados para testificar a outros a reverência que temos por sua glória e majestade, ele deve receber a adoração principalmente de nossa alma: "glorificai a Deus no vosso corpo" (ICo 6.20). Uma adoração espiritual de Deus o valoriza muito, pois chega perto de sua própria natureza que é espiritual.

O que é adorar a Deus em espírito?

i. Adorar a Deus em espírito é adorá-lo sem cerimônias. As cerimônias da lei, que o próprio Deus ordenou, são, em nossos tempos, nulas e ultrapassadas. Quando Cristo veio, as sombras se foram e, portanto, os apóstolos chamam as cerimônias da lei de rituais carnais (Hb 9.10). Se não podemos usar aquelas cerimônias judias que Deus uma vez determinou, então não podemos usar aquelas que ele nunca determinou.

ii. Adorar a Deus em espírito é adorá-lo com fé no sangue do Messias (Hb 10.19). Adorá-lo com maiores zelo e intensidade da alma. "... as nossas dozes tribos, servindo a Deus fervorosamente de noite e de dia" (At 26.7); vemos a intensidade dessa adoração não somente em sua constância, mas também em sua urgência. Isso é adorar a Deus em espírito.

Quanto mais espiritual um culto for, tanto mais próximo se torna de Deus, que é um Espírito, e mais excelente esse culto será. Aparte espiritual do culto é a gordura do sacrifício: é a alma e a essência da religião. As maiores riquezas do coração são espirituais e as melhores obrigações são aquelas de natureza espiritual. Deus é Espírito e deverá ser adorado em espírito; não é a pompa da adoração que Deus aceita, mas a pureza. Arrependimento não são as penitências externas afligidas ao corpo, como a penitência, o jejum e os flagelos corporais, mas consiste no sacrifício de um coração quebrantado. Ação de graças não se caracteriza na música da igreja, na melodia ou em um órgão, porém em fazer melodia no coração do Senhor (Ef 5.19). Oração não é afinar a voz em uma confissão sem coração ou contar as pedras de um rosário, mas consiste em expressar sofrimento e lamento (Rm 8.26). Quando o fogo do fervor é colocado no incenso da oração, sobe como um aroma suave. A verdadeira água benta não é aquela que o papa asperge, mas é a destilada do olho penitente. A adoração espiritual agrada muito a Deus, que é Espírito. "São estes que o Pai procura para seus adoradores" (Jo 4.23), para lhes mostrar a sua grande aceitação e como se agrada com uma adoração espiritual. Essa é a carne sacrificial agradável que Deus ama.

Quão poucos se importam com isso, pois oferecem mais refugos que essências; acham que é suficiente apresentar suas obrigações cumpridas, mas não seus corações; o que faz Deus renunciar os próprios cultos que ele mesmo determinou (Is 1.12; Ez 33.31). Vamos, então, dar a Deus uma adoração espiritual, pois é a mais apropriada à sua natureza. Um elixir soberano cheio de virtude pode ser dado em poucas gotas; assim uma pequena oração, se for feita com o coração e o espírito, pode ter muita virtude e eficácia em si. O publicano fez uma oração curta: "Ó Deus, sê propício a mim, pecador!" (Lc 18.13), mas foi cheia de vida e de espírito, veio do coração, portanto foi aceita.

Quinta aplicação: vamos orar a Deus para que, como um Espírito, possa nos dar de seu Espírito. A essência de Deus é incomunicável, mas não as operações, a presença e as influências de seu Espírito. Quando o sol brilha em uma sala, não é o corpo do sol que está ali, mas a luz, o calor e a influência dele. Deus fez uma promessa de seu Espírito: "... porei dentro de vós o meu Espírito" (Ez 36.27). Transforme as promessas em orações: "Senhor, tu que és Espírito, dá-me de teu Espírito. Eu, carne, imploro teu Espírito, a iluminação, a santificação e o enchimento do teu Espírito". Melanchton41 orou assim: "Senhor, inflama minha alma com teu Santo Espírito". Quão necessário é o Espírito de Deus. Sem ele, não podemos fazer nenhuma obra de maneira vivida. Quando esse vento sopra em nossas velas, movemo-nos suavemente em direção ao céu. Oremos, portanto, para que Deus nos dê uma porção de seu Espírito (Ml 2.15), de maneira que possamos nos mover com mais vigor na esfera da religião.

Sexta aplicação: assim como Deus é Espírito, os galardões que oferece são espirituais. As principais bênçãos que ele nos dá, nesta vida, são bênçãos espirituais (Ef 1.3), e não ouro e prata; ao nos dar Cristo, seu amor, enche-nos com graça. Da mesma maneira os galardões principais que nos dá após esta vida são espirituais, "a imarcescível coroa da glória" (lPe 5.4). Coroas terrenas se desfazem, mas a coroa do crente é imortal, pois é espiritual, uma coroa que nunca se apaga. "E impossível", diz Joseph Scaliger, "para o que é espiritual estar sujeito à mudança ou à corrupção". Isto pode consolar um cristão diante de suas lutas e seus sofrimentos; ele se oferece a si mesmo para Deus e tem pouco ou nenhum prêmio nesta vida, mas lembre-se: Deus, que é Espírito, dará galardões espirituais, a visão de sua face no céu, as roupas brancas e o peso de glória. Que o serviço de Deus não seja um peso, mas pense no prêmio espiritual: uma coroa de glória que não se desfaz.


Fonte: [Josemar bessa]

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