Por Pr. Silas Figueira
2Sm 6. 1-23
A Bíblia nos relata que o Rei Davi depois que se estabeleceu como rei de
Israel, quis trazer a Arca do Senhor que estava na casa de Abinadabe para
Jerusalém. Só que nesse percurso ouve um incidente que marcou a sua vida, é que
Uzá, um dos que estavam guiando o carro que trazia a Arca do Senhor quando viu
que o boi havia tropeçado e a Arca estava para cair, ele colocou a mão nela
para evitar que isso ocorresse. O texto bíblico relata que Uzá, por ter feito
isso, o Senhor o matou. A narrativa bíblica é muito clara em relação a isso,
veja:“Quando chegaram à eira de Nacom, estendeu Uzá a mão à arca de Deus e a
segurou, porque os bois tropeçaram. Então, a ira do SENHOR se acendeu contra
Uzá, e Deus o feriu ali por esta irreverência; e morreu ali junto à arca de Deus” (2Sm
6.6,7). Porque Deus fez isso com um homem tão bem intencionado?
Havia naquele ambiente temor e tremor diante de Deus. As pessoas ali, a começar
pelo próprio rei, estavam alegres e cultuando a Deus levando a Arca para
Jerusalém, e de repente Deus se levanta com ira santa e mata aquele homem.
Porque isso ocorreu? Porque a ira de Deus se acendeu contra Uzá? Durante muito
tempo eu me questionei a respeito desse texto até o dia em que eu parei de
questionar e procurei em oração estuda-lo e descobri porque isso tudo ocorreu.
Vamos analisar esse texto e observar as lições que esse episódio tem para nos
ensinar e que se adapta muito bem para os dias de hoje, mas para isso temos que
retornar cerca de oitenta anos, no tempo do sacerdote Eli.
O contexto histórico. Na época do
sacerdote Eli os seus dois filhos Hofni e Finéias, que eram também sacerdotes,
estavam em pecado. Apesar de eles serem responsáveis em levar o povo a cultuar
a Deus e interceder por ele, estes dois sacerdotes estavam agindo na contra mão
das suas funções. Além de menosprezarem o sacrifício a Deus oferecido pelo
povo, eles também se deitavam com as mulheres que serviam à porta da tenda da
congregação (1Sm 2.12-17, 22-26). O Senhor então falou para o sacerdote Eli que
sua família não continuaria mais no sacerdócio e o sinal que Eli receberia como
prova de que isso provinha do Senhor era que os seus dois filhos morreriam no
mesmo dia, pois Eli honrava mais aos seus filhos que a Deus (1Sm 2.27-34).
Entenda uma coisa, os filhos do sacerdote Eli eram sacerdotes, mas eram homens
que segundo a Bíblia, eram filhos de Belial, ou seja, eles eram homens sem
valia ou rebeldes. Homens que não se importavam com o Senhor (1Sm 2.16).
Nesse período, houve uma guerra entre Israel e os Filisteus. Na primeira
batalha os filisteus venceram (1Sm 4.2), então os israelitas tiveram a
brilhante ideia de levar para o campo de batalha a Arca do Senhor, pois para
eles, aquela batalha havia sido perdida porque o Senhor não estava com eles
através da Arca. Observe o texto: “Mandou, pois, o povo trazer de Siló
a arca do SENHOR dos Exércitos, entronizado entre os querubins; os dois filhos
de Eli, Hofni e Finéias, estavam ali com a arca da Aliança de Deus” (1Sm
4.4). Para o povo a Arca da Aliança representava somente um patuá, um amuleto,
pois eles não entendiam que a manifestação da glória do Senhor no meio do seu
povo vinha de uma vida consagrada e o Senhor não tem compromisso com quem não
tem compromisso com Ele. No entanto, o povo era o reflexo do que era o ofício
sacerdotal naquela época. Sacerdotes de si mesmos e não do Deus Altíssimo.
Sacerdotes segundo a vontade do povo e não segundo os princípios estabelecidos
por Deus em sua Palavra. Não eram diferentes dos líderes que temos visto nos
dias de hoje. Como disse Judas, irmão de Jesus em sua epístola a respeito dos
líderes que estavam se levantando em sua época: “Ai deles! Porque
prosseguiram pelo caminho de Caim, e, movidos de ganância, se precipitaram no
erro de Balaão, e pereceram na revolta de Corá. Estes homens são como rochas
submersas, em vossas festas de fraternidade, banqueteando-se juntos sem
qualquer recato, pastores que a si mesmos se apascentam; nuvens sem água
impelidas pelos ventos; árvores em plena estação dos frutos, destes
desprovidas, duplamente mortas, desarraigadas; ondas bravias do mar, que
espumam as suas próprias sujidades; estrelas errantes, para as quais tem sido
guardada a negridão das trevas, para sempre” (Jd 11-13). E este mesmo
espírito está até hoje em nosso meio, agindo na vida e no ministério de muitos
líderes por aí.
Como Deus não compactua com o pecado e para cumprir a Sua Palavra já
antes anunciada ao sacerdote Eli, os israelitas perderam a batalha, os seus
dois filhos morreram e a Arca do Senhor foi levada pelos filisteus. Quando a notícia
chegou a Siló, o sacerdote Eli que estava assentado numa cadeira ao pé do
caminho, pois temia pela Arca do Senhor, quando soube que a Arca havia sido
tomada pelos filisteus, caiu para trás, quebrou o pescoço e morreu, pois era um
homem pesado e idoso, ele tinha noventa e oito anos. Ele havia julgado Israel
por cerca de quarenta anos. A nora do sacerdote Eli, esposa de Finéias, quando
soube que a Arca havia sido tomada, que seu sogro havia acabado de falecer e
que seu marido havia morrido também; ela, que estava para dar a luz teve seu
filho naquele momento, mas não se alegrou com o nascimento do filho e ainda pôs
o nome dele de Icabô, que quer dizer: “Foi-se a glória de Israel” (1Sm
4.12-22). Tudo isso devido a consequência do pecado de um pai que não ousou com
autoridade repreender seus filhos, por deixa-los exercendo o sacerdócio e ainda
permitir levar a Arca da Aliança para o campo de batalha mesmo depois de ter
ouvido o que o Senhor lhe havia dito.
A Arca ficou na terra dos filisteus por cerca de sete meses (1Sm 6.1).
Nesse período eles foram atacados por várias enfermidades e pragas de ratos que
estavam destruindo a terra (1Sm 6.5). Diz a Bíblia que lhes nasceram
tumores e muitos morreram devido a isso. A Arca do Senhor foi então
enviada para cinco cidades diferentes e onde a Arca chegava isso ocorria. Então
resolveram devolver a Arca aos israelitas com uma oferta de cinco ratos e cinco
tumores ambos de ouro dentro de um cofre, representando os males que os estavam
assolando. Colocaram em um carro novo guiado por duas vacas com crias. Diz-nos
as Escrituras que elas foram em direção à terra dos israelitas andando e
berrando, mas sem se desviarem nem para a direita nem para a esquerda (1Sm
6.12). Por fim chegou ao território dos israelitas e a Arca ficou na casa de
Abinadabe e consagraram seu filho Eleazar para guardar a Arca do Senhor (1Sm
7.1).
Nos dias do rei Davi. Passaram-se cerca
de oitenta anos, Davi já estava estabelecido como rei em Israel, então ele
propôs em seu coração trazer a Arca do Senhor que estava na casa de Abinadabe
em Quiriate-Jearim (1Cr 13.5), para Jerusalém. Nesse percurso houve então esse
incidente e nos diz a Bíblia que Davi muito se desgostou por isso ter ocorrido.
Mas a questão é, porque isso ocorreu já que o rei estava tão bem intencionado?
Vamos mostrar os erros que Davi cometeu passo a passo e os erros que as outras
pessoas cometeram também.
Primeiro erro: Davi foi consultar ao povo e não a
Deus (1Cr 13.1-4).
“Consultou Davi os capitães de mil, e os de cem, e todos os príncipes; e
disse a toda a congregação de Israel: Se bem vos parece, e se vem isso do
SENHOR, nosso Deus, enviemos depressa mensageiros a todos os nossos outros
irmãos em todas as terras de Israel, e aos sacerdotes, e aos levitas com eles
nas cidades e nos seus arredores, para que se reúnam conosco; tornemos a trazer
para nós a arca do nosso Deus; porque nos dias de Saul não nos valemos dela.
Então, toda a congregação concordou em que assim se fizesse; porque isso
pareceu justo aos olhos de todo o povo.”
Davi agiu como alguns tipos de líderes que querem estar bem com o povo,
fazer a vontade deles e ao mesmo tempo ver se a sua vontade está de acordo com
o gosto dos liderados. E ainda usam o nome de Deus para satisfazerem o seu
egocentrismo. Observe o final do texto:“porque isso pareceu justo aos olhos
de todo o povo”, ou seja, as pessoas é que estavam ditando o que
queriam. O que mais temos visto hoje em dia são igrejas ao gosto do freguês, e
esse tipo de “igreja” é formada por pessoas que não tem compromisso com Deus,
mas com o seu prazer e suas vontades. Os líderes por sua vez são os balconistas
que estão para servi-los e agrada-los.
Segundo erro: Davi trouxe a Arca do Senhor imitando
os filisteus (2Sm 6.3).
“Puseram a arca de Deus num carro novo e a levaram da casa de Abinadabe,
que estava no outeiro; e Uzá e Aiô, filhos de Abinadabe, guiavam o carro novo.”
Isso deu certo com os filisteus, mas não foi isso que a Lei determinava.
A Arca deveria ser levada nos ombros pelos levitas e não em carro novo:
“Também lhe farás moldura ao redor, da largura de quatro dedos, e lhe
farás uma bordadura de ouro ao redor da moldura. Também lhe farás quatro
argolas de ouro; e porás as argolas nos quatro cantos, que estão nos seus
quatro pés. Perto da moldura estarão as argolas, como lugares para os varais,
para se levar a mesa” (Êx 25.25-27).
“Os filhos dos levitas trouxeram a arca de Deus aos ombros pelas varas
que nela estavam, como Moisés tinha ordenado, segundo a palavra do SENHOR” (1Cr 15.15).
Outro detalhe importante, não era qualquer levita que podia levar a
arca, deveria ser os filhos de Coate (Nm 4). Somente os coatitas que podiam
lidar com as coisas santíssimas. Hoje em dia tem gente que pensa fazer tudo de
qualquer maneira passando a frente dos verdadeiros responsáveis na igreja. Todo
mundo pensa que pode ser pastor e vai por aí a fora. Outra coisa a Arca deveria
ser coberta e quem pusesse a mão nela morreria (Nm 4.15). Uzá sofreu as
consequências do que já estava escrito na Lei do Senhor. Tem gente que lê a
Bíblia e pensa que o que está nela não é bem assim, que as coisas hoje estão
diferentes, e vai por aí. Cuidado, com Deus não se brinca! Os filisteus
simbolizam o mundo e Davi estava imitando o mundo. Mas isso tem ocorrido em
muitas igrejas hoje. Tem muitas igrejas se mundanizando, ao invés de observarem
a Palavra de Deus observam as últimas novidades e como podem aplica-las em suas
igrejas, são como os atenienses na época de Paulo, que só queriam saber as
últimas novidades (At 17.21). Recentemente eu vi uma igreja que tinha um ringue
de luta livre dentro dela, outra tinha lutas de capoeira. Se a igreja pretende
competir com o mundo em divertimento certamente irá perder, primeiro porque a
igreja não tem esse papel e segundo, a igreja foi levantada para adorar a Deus
e não agradar as pessoas. Devemos ir a igreja para ouvir a voz de Deus e não
uma palavra que nos agrade. Devemos ir a igreja cultuar a Deus e não nos
divertir. Para isso existem os cinemas, teatros e shows dos mais diversos por aí.
Quer se divertir vá para o mundo, quer adorar a Deus vá a um culto. Eu não
adoro a Deus imitando o mundo, mas negando a mim mesmo e tomando a minha cruz.
Foi isso que Jesus nos ensinou (Lc 9.23).
Terceiro erro: Uzá e Aiô não quiseram contrariar o
rei Davi. Esses dois homens eram netos de Abinadabe, filhos de Eleazar, eles
sabiam muito bem como Arca deveria ser transportada e a maneira como o rei
estava fazendo estava totalmente errada. O rei deveria ser corrigido, mas
nenhum deles deve coragem de desafiar as suas ordens. Eles foram coniventes com
o erro. Uma coisa é administrar uma nação outra é culto a Deus. Eles foram
completamente diferentes dos sacerdotes da época do rei Uzias. Diz-nos a
história bíblica que o rei Uzias resolveu oferecer incenso no templo e foi
barrado pelos sacerdotes (2Cr 26.16-20). O texto nos fala assim:
“Mas, havendo-se já fortificado, exaltou-se o seu coração para a sua
própria ruína, e cometeu transgressões contra o SENHOR, seu Deus, porque entrou
no templo do SENHOR para queimar incenso no altar do incenso. Porém o sacerdote
Azarias entrou após ele, com oitenta sacerdotes do SENHOR, homens da maior
firmeza; e resistiram ao rei Uzias e lhe disseram: A ti, Uzias, não compete
queimar incenso perante o SENHOR, mas aos sacerdotes, filhos de Arão, que são
consagrados para este mister; sai do santuário, porque transgrediste; nem será
isso para honra tua da parte do SENHOR Deus. Então, Uzias se indignou; tinha o
incensário na mão para queimar incenso; indignando-se ele, pois, contra os
sacerdotes, a lepra lhe saiu na testa perante os sacerdotes, na Casa do SENHOR,
junto ao altar do incenso. Então, o sumo sacerdote Azarias e todos os
sacerdotes voltaram-se para ele, e eis que estava leproso na testa, e
apressadamente o lançaram fora; até ele mesmo se deu pressa em sair, visto que
o SENHOR o ferira.”
Aquele não era o papel do rei, ele poderia ser rei, mas dentro da Casa
do Senhor quem tinha autoridade eram os sacerdotes. Eles desafiaram o rei e não
permitiram tal atitude. Já Uzá e Aiô não tiveram a mesma coragem e permitiram
que o rei Davi fizesse o que bem lhe agradara. O resultado com Davi foi morte
de Uzá, já no caso de Uzias a lepra recaiu sobre ele. Devemos seguir a Palavra
para agradar a Deus e não aos homens. Ainda que tais homens estejam revestidos
de autoridade o que não nos obriga a satisfazê-los e nem seguir as suas leis.
Estamos vivendo uma época em que muitas pessoas querem nos dizer como devemos
adorar a Deus. Como devemos ver o pecado, não como pecado, mas como algo natural
e que não ofende a Deus; afinal de contas Deus é amor. Estão tentando nos dizer
como devemos educar nossos filhos. Dizem-nos que o homossexualismo não é pecado
contra Deus (teologia inclusiva). Tentam até controlar o que fazemos com o
nosso dinheiro ensinando que o dízimo é coisa do AT com suas mais esdruxulas
teologias. Pessoas sem nenhuma autoridade espiritual tentando nos convencer a
relativar a Palavra de Deus. Pessoas assim agem da mesma forma que Satanás agiu
com os nossos primeiros pais (Gn 3). Mas nós não seguimos homens, o que nos
direciona é a Palavra de Deus, pois se não for assim geraremos morte e não
vida.
Outro problema aqui detectado é o que podemos chamar de culto à
celebridade. Uzá e Aiô deixaram de cultuar a Deus para cultuar o rei Davi.
Fizeram uma celebração não ao Rei dos reis, mas a um rei terreno e falho. Hoje
o que mais se vê por aí é show e não culto a Deus. As pessoas vão ao culto para
ver o cantor famoso, a banda de sucesso, o pregador das multidões, mas Deus que
é bom mesmo não é cultuado.
Quarto erro: indiferença para com as coisas de
Deus. Aiô e Uzá eram netos de Abinadabe e filhos de Eleazar. Os dois
sacerdotes cresceram com a Arca em sua casa e aquilo se tornou algo familiar
para eles. O fato de toda a sua vida ter conhecido a Arca aliando à geral
indiferença poderia ter gerado neles sentimento de excessiva familiaridade com
a mesma. Eles não tinham zelo pelo sagrado, aquilo se tornou corriqueiro para
eles. Daí eles fizeram como o rei queria, pois para eles aquilo não importava
muito. Isso me chama a atenção para a nova geração que está crescendo em nossas
igrejas, principalmente filhos de pastores que correm o mesmo risco de verem a
igreja como um ganha pão do pai ou ver o pai pastor como uma celebridade e que
ele, como filho do pastor, podendo fazer qualquer coisa na igreja e fora dela,
pois ele é filho do “dono da igreja”. E é exatamente isso que temos visto por
aí. Filhos de pastores que não tiveram ainda uma experiência de conversão e
estão seguindo inclusive a “carreira” do pai. A culpa de tudo isso, geralmente,
são dos pais. Veja a história do sacerdote Eli que é um bom exemplo disso e até
mesmo das dos filhos de Samuel posteriormente:
“Tendo Samuel envelhecido, constituiu seus filhos por juízes sobre
Israel. O primogênito chamava-se Joel, e o segundo, Abias; e foram juízes em
Berseba. Porém seus filhos não andaram pelos caminhos dele; antes, se
inclinaram à avareza, e aceitaram subornos, e perverteram o direito” (1Sm 8.1-3).
Muitas vezes o pastor tem tempo para as famílias da igreja, mas não dá a
devida atenção aos seus próprios filhos. Filhos de pastor não são pastorzinhos
e muito menos devem ser tratados de forma diferente dos filhos dos membros da
igreja. Isso é muito sério.
E o que gerou tudo isso? Morte. Quem anda na contra mão da Palavra de
Deus tendo a responsabilidade de ensiná-la e não a faz gera morte em sua vida e
na vida dos outros. Deu não foi mau com Uzá, Deus foi bom com o povo, pois se
Ele não fizesse isso o erro continuaria e Ele não compactua com o erro. Saiba
de uma coisa, a Bíblia nos ensina como devemos cultuar ao nosso Deus, mas tem
muita gente querendo fazer do seu jeito. O Senhor Jesus disse que devemos
adorar a Deus em espírito e em verdade (Jo 4.23,24) e não com o espírito de
mentira. Cuidado por onde você anda!
Devido a esse ocorrido, Davi deixou a Arca na casa de Obede-Edom por
cerca de três meses. E nos diz o texto sagrado que a casa deste foi abençoada
por causa da arca que estava em sua casa. Observe que em momento algum as
Escrituras dizem que a casa de Abnadabe foi abençoada, mas nos diz que a casa
de Obede-Edom e tudo que ele tinha foi abençoado (2Sm 6.11,12). Sabe por que
disso? Postura diante do sagrado. Reverência diante das coisas de Deus. Isso
faz toda diferença em nossas vidas também.
Davi então resolve trazer a Arca para Jerusalém, só que desta vez de
forma correta. Os levitas a estavam trazendo em seus ombros:
“Os filhos dos levitas trouxeram a arca de Deus aos ombros pelas varas
que nela estavam, como Moisés tinha ordenado, segundo a palavra do SENHOR” (1Cr 15.15).
Quais foram as consequências dessa atitude correta em relação a Arca do
Senhor?
Primeiramente Davi se alegrou (2Sm 6.15). Desta vez não houve
morte, mas abundância de alegria na presença de Deus. Como disse Deus a Caim: “Se
procederes bem, não é certo que serás aceito?” (Gn 4.7a). Deus age de
acordo com os seus preceitos pré-estabelecidos em Sua Palavra, ou seja, Deus é
lógico. E bem sabemos que o salário do pecado é a morte (Rm 6.23). A Palavra de
Deus é a nossa regra de fé e prática, mas tem muitas pessoas que são meros
expectadores e não praticantes. O próprio Senhor Jesus falou para os saduceus
que eles erravam por desconhecerem as Escrituras e o poder de Deus (Mt 22.29).
Esse desconhecimento leva ao erro e o erro a morte. Mas quando conhecemos e
praticamos temos abundante alegria em nossas vidas.
Segunda coisa, Davi abençoou o povo (2Sm 6.18). Por Davi estar
abençoado ele tinha condições de abençoar as pessoas também. E isso ocorre
conosco também. O senhor nos chamou para sermos canal de bênção na vida das
outras pessoas. Quando Deus chamou Abraão para deixar sua terra, seus parentes
e amigos e seguir para um lugar que ele ainda não sabia ao certo onde seria,
para ali criar uma nova nação e estabelecer um povo para Deus, deu-lhe uma
recomendação nestes termos: "Sê tu uma bênção". Tal
imperativo definiu um perfil diferente na vida de Abraão. Ser bênção, e não
simplesmente viver à procura dela, faz uma grande diferença. Muitos hoje
perguntam por que a Igreja Evangélica no Brasil, que tanto cresceu nas últimas
décadas, não tem promovido as mudanças que imaginávamos iria promover quando
tivesse as oportunidades que tem hoje. Arriscaria uma resposta simples:
tornamo-nos consumidores religiosos com todos os direitos que um consumidor
tem.
Ao invés de ser bênção, queremos receber bênçãos; usamos a igreja, a
família e a sociedade para alimentar nossas ambições mais mesquinhas. Não somos
mais agentes de transformação; viramos espectadores ingratos e exigentes. Ao
invés de promover a prosperidade social, transformamo-nos em parasitas sociais,
querendo cada vez mais e melhor para nós e não para os outros. A conversão é a
transformação do ser passivo num ser ativo; do paciente num agente; do parasita
social num ser solidário; do consumidor religioso num canal de bênção e cura
para os outros. A solução para as mazelas sociais que vivemos em nosso país não
será conquistada por uma Igreja que exige o melhor para si; que reivindica o
direito de ser cabeça e não cauda; que busca a sua prosperidade em detrimento
da miséria dos outros.
A vida de muitos homens e mulheres de Deus ao longo da História foi
ricamente abençoada porque viveram dominados pelo sentimento de dívida. Isso
fez deles pessoas gratas, generosas, entregues, corajosas. Não esperavam que os
outros viessem consolá-los; eles consolavam. Não viviam exigindo ou
reivindicando direitos, mas carregavam um enorme senso de dívida; não viviam
aguardando que alguém fosse procurá-los - eles é que procuravam. Eram bênção na
vida dos outros e, consequentemente, eram abençoados.
Ser bênção para a vida dos outros é criar os meios para que a graça de
Deus os envolva trazendo salvação, reconciliação, cura e libertação. É criar os
meios para que o cansado encontre alívio, para que o doente ache consolo, para
que o perdido seja achado. E usar os dons e talentos que Deus nos deu para
criar novas esperanças e para alimentar a fé dos outros [1].
Terceira coisa: Davi foi abençoar a sua casa (2Sm
6.20a). A manifestação da glória de Deus precisa estar em nossa casa.
Parafraseando uma palavra de Jesus que disse: “Que adianta o homem
ganhar o mundo inteiro e perder a sua casa”. Há vários exemplos
bíblicos de pais que enfrentaram problemas familiares sérios, isso não é para
nos mostrar que ninguém está isento de problemas, mas acima de tudo, para nós
vigiarmos e evitarmos seguir os mesmos exemplos negativos que eles cometeram. A
Bíblia é um espelho e ela reflete a minha condição espiritual como também o da
minha família, mas ela reflete para concertarmos o problema e não só para
identifica-los. Há na Bíblia promessas de bênçãos sem medida para o nosso lar,
leia o Salmo 128 e você verá isso. Mas para que eu possa ser canal de bênção
para minha família é necessário eu ser uma pessoa abençoada, e de que forma eu
sou abençoado, andando em conformidade com Deus e com a Sua Palavra. Não
fazendo do Evangelho uma religião, nem uma filosofia de vida como muitos fazem,
mas tendo o Senhor Jesus como SENHOR em minha vida. Entregando-lhe a direção da
minha vida e deixando-o direcionar os meus passos assim como fez Rute a
moabita: “Faça-me o SENHOR o que bem lhe aprouver” (Rt 1.17).
AS ADVERSIDADES EXISTEM
Agora entenda uma coisa, não é por andarmos de forma correta na presença
de Deus que iremos agradar todo mundo. Quando Davi foi para sua casa para
abençoá-la ele encontrou resistência e até mesmo rejeição pelo que havia feito.
Mical, sua esposa, filha de Saul, não se agradou nem um pouco com a atitude de
Davi:
“Voltando Davi para abençoar a sua casa, Mical, filha de Saul, saiu a
encontrar-se com ele e lhe disse: Que bela figura fez o rei de Israel,
descobrindo-se, hoje, aos olhos das servas de seus servos, como, sem pejo, se
descobre um vadio qualquer!” (2Sm 6.20).
Mas Davi lhe respondeu sem pestanejar:
“Disse, porém, Davi a Mical: Perante o SENHOR, que me escolheu a mim
antes do que a teu pai e a toda a sua casa, mandando-me que fosse chefe sobre o
povo do SENHOR, sobre Israel, perante o SENHOR me tenho alegrado. Ainda mais
desprezível me farei e me humilharei aos meus olhos; quanto às servas, de quem
falaste, delas serei honrado” (2Sm 6.21,22).
Que tenhamos essa mesma postura diante dos nossos opositores. Jesus já
nos havia alertado que os nossos inimigos seriam os de nossa própria casa:
“Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada.
Pois vim causar divisão entre o homem e seu pai; entre a filha e sua mãe e
entre a nora e sua sogra. Assim, os inimigos do homem serão os da sua própria
casa” (Mt 10.34-36).
A vida cristã é feita de escolhas, se escolhermos andar com Cristo
seremos muitas vezes perseguidos, mas teremos a Sua companhia conosco todos os
dias. Como disse Pedro em sua carta:
“Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado
a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo;
pelo contrário, alegrai-vos na medida em que sois co-participantes dos
sofrimentos de Cristo, para que também, na revelação de sua glória, vos
alegreis exultando. Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem-aventurados
sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus. Não sofra,
porém, nenhum de vós como assassino, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se
intromete em negócios de outrem; mas, se sofrer como cristão, não se envergonhe
disso; antes, glorifique a Deus com esse nome” (1Pe 4.12-16).
Que o Senhor nos ajude a sermos fiéis a Sua Palavra mesmo que venhamos
sofrer perseguição. Que não venhamos ser encontrados desqualificados, mas
aprovados pelo Senhor de nossas almas. Que o Senhor nos ajude a sermos suas
fiéis testemunhas todos os dias.
Que Deus nos abençoe!
Nota:
1 - Barbosa de Sousa, Ricardo - Revista Eclésia (nº 85 - Jul/03).
Fonte: [Ministério Batista Beréia]
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