Ao colocar diante de nós a Sua lei como padrão de justiça, Deus baseou cada uma das suas exigências no Seu beneplácito; concluímos disso que nada é tão aceitável a Ele como obediência à Sua vontade. Este ponto é digno da nossa mais cuidadosa consideração, porque a mente do homem está continuamente disposta a inventar novos modos de culto para granjear a aprovação de Deus. Em todas as eras, esta religião irreligiosa tem-se mostrado e ainda se mostra em nossos próprios dias; os homens sempre estão procurando alcançar a justiça por algum meio diferente daquele que está registrado na Palavra de Deus; e daí ocorre que, entre as realizações que geralmente são consideradas boas obras, os atos de obediência aos preceitos dos homens ocupam o lugar de primazia e os preceitos de Deus são quase esquecidos. A melhor cura para esta enfermidade é lembrar-se constantemente que a lei foi dada por Deus para nos ensinar a verdadeira justiça; e que nela não é ensinada retidão alguma senão a obediência à vontade divina, pois segue-se disto que todas as boas obras inventadas pelo homem são vãs.
Antes de discutirmos cada mandamento separadamente, seria bom ressaltar três considerações que são aplicáveis aos dez como um todo.
1. A primeira é esta: a lei reivindica do homem não apenas o decoro externo como também a justiça interior e espiritual. Embora isto seja reconhecido por todos os homens, realmente é crido por muito poucos; e isto se deve ao fato de que não consideram devidamente o caráter do Legislador. Se um rei terrestre promulgasse um édito proibindo a fornicação, o assassínio e o furto, não afetaria os homens que se abstivessem de cometer externamente tais transgressões. Neste caso, o legislador apenas toma conhecimento de atos exteriores. Mas quando Deus, cujo olho vê todas as coisas, proíbe a fornicação, o assassínio e o furto, Sua proibição estende-se aos pensamentos do coração, tais como a concupiscência, o ódio e a cobiça.
2. Há mais nos mandamentos e proibições de Deus do que aparece na superfície das palavras. Devemos considerar o objetivo pelo qual foi dado cada mandamento. Por exemplo, o quinto mandamento, "Honra a teu pai e a tua mãe" visa ensinar-nos que honra deve ser dada a todas as pessoas que Deus revestiu com honra. Devemos, no entanto, tomar o cuidado de não forçar demais este método de interpretação, a fim de não nos tornarmos culpados de torcer as Escrituras para adaptar-se ao nosso próprio interes¬se. Aqueles que assim fazem, podem obter o que quiserem de qualquer coisa (quodlibet e quolibet). Devemos fielmente representar a mente pura e genuína do Legislador.
3. Não é sem boa razão que a lei foi dada em duas tábuas. Este fato é mencionado várias vezes (Êx. 31:18; 32:15, 19; 34:1, 4, 29), e todos os expositores sólidos admi¬tem que o fato é importante e relevante. Deus, dessa forma, dividiu Sua lei, o padrão completo da justiça, em duas partes, de modo que uma delas tratasse do relacionamento entre o homem e Deus, e a outra do relacionamento entre o homem e o seu semelhante. O fundamento básico da justiça é a adoração a Deus, e se ele for transtornado todos os demais ramos da justiça serão danificados e subvertidos. Portanto, a primeira tábua nos ensina a piedade e os deveres peculiares da religião, e a segunda nos diz como Deus quer que procedamos com o nosso próximo. Desse modo, nosso Senhor Jesus Cristo resume a lei inteira em dois títulos: "Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo" [Mat. 22:37-40; Luc. 10:27).
Fonte: [O Calvinista]
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