29 de abr. de 2010

O Constrangedor Amor de Cristo - R. M. McCheyne (1813 - 1843)


                                                  
  "Porque o amor de Cristo nos constrange." — 2 Corintios 5:14

De todos os aspectos do caráter do apóstolo Paulo, a sua atividade incansável era a mais mar cante. Com base na sua história inicial, que nos conta acerca de seus esforços pessoais como assolador da Igreja Primitiva, quando ele era um injurioso blasfemador e perseguidor, fica muito claro que essa era a característica proeminente de sua mente natural. Mas quando agradou ao Senhor Jesus Cristo manifestar nele toda a Sua longanimidade e fazer dele um padrão para aqueles que de pois haveriam de crer n'Ele, é belo e muito instrutivo ver como as características naturais deste homem, atrevidamente mau, tornaram-se não somente santificadas, como também revigoradas e aumenta das. Verdadeiramente todo aquele que está em Cristo é uma nova criação, "as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo". "Em tudo somos atribulados, porém, não angustiados; perplexos, porém não desanimados; perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos", Tal era a figura fiel de Paulo depois de convertido. Co nhecendo os terrores do Senhor e a temível situação de todos os que estavam ainda em seus pecados, o alvo de sua vida era persuadir os homens. Ele lutava para que, se possível, recomendasse a verdade para as suas consciências. "Porque, se enlouquecemos é para Deus; e, se conservamos o juízo, é para vós", (versículo 13).

Não importa se o mundo nos considera sábios ou loucos, a causa de Deus e das almas humanas é aquela na qual estamos pondo todas as nossas energias. Quem, então, não estaria disposto a perguntar acerca da motivação de todos esses labores sobrenaturais? Quem não desejaria ter escutado dos próprios lábios de Paulo o princípio poderoso que o impelia através de tantas labutas e perigos Que fórmula mágica apossou-se dessa mente poderosa, ou que influência astrológica imperceptível, com poder incessante, encorajou-o a avançar através de todos os desalentos, fazendo-o indiferente tanto ao riso sarcástico do mundo como ao temor do homem;igualmente indiferente ao sorriso do cético ateniense, da carranca do luxurioso coríntio e da fúria do judeu de mente fechada? Que diz o próprio apóstolo? Temos sua explicação do mistério nas palavras seguintes: "O amor de Cristo nos constrange".
  O CONSTRANGEDOR AMOR DE CRISTO

  Desde que a morte de Cristo é apontada por todos como o exemplo de Seu amor, torna-se óbvio pela explicação seguinte que aqui se trata do Seu amor para com o homem e não do nosso amor para com Ele. (Veja 2 Coríntios 5:15). Foi a visão da extraordinária compaixão do Salvador, movendo-o a morrer pelos Seus inimigos, a sofrer tremendamente por todos os pecados deles e provar a morte por todos os homens, que deu a Paulo o impulso em cada combate, que tornou qualquer sofrimento leve para ele e fez com que nenhum mandamento lhe fosse pesado. Ele correu com paciência a carreira que lhe estava proposta. Por que? Porque -olhando para Jesus ele viveu como um homem "crucificado para o mundo e o mundo crucificado para ele". De que forma? Olhando para a cruz de Cristo.

Como o sol natural exerce uma poderosa e incessante atração sobre os planetas que giram ao seu redor, assim também fez o Sol da justiça, que de fato nascera no apóstolo Paulo, com um brilho superior ao do sol meridiano, exercendo sobre sua mente uma contínua e toda-poderosa energia, constrangendo-o a viver dali para frente não mais para si mesmo, e sim para Aquele que morrera e ressurgira por ele. Outrossim, observe que isso não foi uma atração temporária ou intermitente que se exer ceu sobre seu coração e vida, mas uma contínua e permanente atração. Ele não diz que o amor deCristo uma vez o constrangeu ou que o constrangeria, nem que nos momentos de emoção, de oração ou de devoção especial o amor de Cristo costumava constrangê-lo. O apóstolo disse simplesmente que o amor de Cristo o constrange. Ê o sempre presente, sempre permanente, sempre ativador poder que forma o motivo principal de todo o seu trabalho; de tal forma que, retirado isso, suas energias se vão embora e Paulo se torna fraco como os outros homens.

Lendo essas palavras, porventura haveria um coração desejoso de possuir tal princípio-mestre? Não haveria alguém que tenha chegado àquele estágio mais interessante da experiência cristã, no qual esteja suspirando por um poder para tornar-se novo? Você já entrou pela porta estreita da fé. Você já viu que não há paz para o não justificado e por tanto tens te revestido de Cristo como tua justiça e já sentes algo do gozo e paz do crente. Você pode olhar para tua vida do passado, sem Deus no mundo, sem Cristo no mundo e sem o Espírito no mundo; pode ver a ti mesmo como um condenado rechaçado e então diz: "Mesmo que lavasse minhas mãos em água de neve, ainda assim minhas próprias roupas me aborreceriam".  É verdade que você pode fazer tudo isso com vergonha e auto-reprovação, porém, sem desânimo e desespero, pois teus olhostêm sido erguidos com fé para Aquele que foi feito pecado por nós e você está persuadido de que, como agradou a Deus lançar todas as tuas iniquidades na conta do Salvador, assim Ele deseja e tem sempre desejado, atribuir toda a justiça do Salvador a você. Sem desespero, disse eu? Mais ainda, com gozo e cântico; pois, se na realidade crês de todo o coração, então chegaste à bem-aventurança daquele a quem Deus imputa justiça sem obras; o qual Davi descreve, dizendo: "Bem-aventurado é aquele cuja transgressão é perdoada, cujo pecado é coberto. Bem-aventurado é o homem a quem o Senhor nãoimputa iniqüidade". (Salmo 32:1-2).

  Esta é a paz do homem justificado. Mas esta paz é um estado de perfeita bem-aventurança? Não há mais nada a desejar? Eu apelo àqueles que sabem o que é ser justificado pela fé. Que é que ainda turva o semblante, que reprime a exultação do es­pírito? Por que nem sempre podemos participar na canção de ações de graças, "Bendiz o Senhor, ó minha alma e não te esqueças de nenhum de seus benefícios. É ele que perdoa todas as tuas iniquidades"? Se já recebemos o perdão dos nossos pecados, por que seria necessário argumentarmos como o salmista que clama: "Por que estás abatida ó minha alma e por que te perturbas em mim"? Meus amigos, entre vocês não existe um crente verdadeiro que tenha deixado de sentir este inquietante sentimento do qual estou falando. Pode haver alguns que o tenham sentido de maneira tão dolorosaque, como uma nuvem negra, tem obscurecído a doce luz da paz do evangelho e o brilho do rosto da pessoa reconciliada. O pensamento é este: "Sou um homem justificado, mas ai de mim! não sou um homem santificado, Posso olhar para minha vida pas sada sem desespero, mas como poderei olhar para frente, àquilo que está no futuro"?

Não há um panorama moral mais pitoresco em todo o universo do que o apresentado. por essa alma. Perdoadas todas as transgressões passadas, o olhar volta-se para o interior com uma clareza e imparcialidade desconhecidas anteriormente, e aí contempla suas afeições voltadas para o pecado as quais, como rios correntosos, já cavaram um canal profundo no coração. Também vê suas crises periódicas de paixão, outrora irresistível e sobrepujante como as marés do oceano junto com suas perversidades de temperamento e hábito, pervertidos e obstinados, como os ramos retorcidos de um carvalho impedido de crescer. Que cena temos aqui! que antecipação do futuro! que pressentimentos de uma luta em vão contra a tirania da concupiscência! contra a velha maneira de agir, de falar e de pensar! Não fosse a esperança da glória de Deus, que é um dos benefícios concedidos ao homem justificado, quem ficaria surpreso se esta visão de terror levasse o homem de volta, como um cachorro ao seu vômito, ou como a porca que foi lavada a mergulhar novamente no lamaçal?

É para o homem que está exatamente nessa situação, clamando dia e noite: como poderei me tornar novo? Que bem faz a mim o perdão dos pecados passados se não sou libertado do amor ao pecado? — é para esse homem que vamos agora, com todo o zelo e afeição indicar o exemplo de Paulo e o poderinterior que operou nele. "O amor de Cristo" (diz Paulo)   "nos constrange". Nós também somos homens que temos as mesmas paixões que vocês; aquela mesma visão que vocês vêem com desânimo dentro de si, foi revelada da mesma maneira para nós em todo o seu poder desencorajante. Contínua e re­petidamente a mesma visão horrível de nossos próprios corações se nos descortina. Mas temos um encorajamento que nunca falha. O amor do Salvador crucificado nos constrange. O Espírito é dado àqueles que crêem, e sendo Ele um agente todo-poderoso, tem um argumento que nos comove continuamente — o amor de Cristo.

Meu objetivo presente é mostrar como esse argumento, nas mãos do Espírito, realmente impulsiona o crente a viver para Deus; como a verdade simples do amor de Cristo para com o homem, de contínuo apresentado à mente pelo Espírito Santo, deveria habilitar qualquer homem a viver uma vida santa. Se existe algum homem entre vocês cuja grande interrogação é: "Como serei salvo do meu pecado ou de que maneira andarei como um filho de  Deus?estou ansioso para atrair seu ouvido ecoração mais que a todos os outros. 


 R. M. Mccheyne (1813 – 1843)




Fonte:[Josemar Bessa]

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