Embutida na hermenêutica Puritana e defendida de forma tão bem-sucedida pelos reformadores; havia a crença de que a justificação pela fé através de Cristo, mediante a graça, é o prisma pelo qual as Escrituras devem passar, a fim de que possamos ver claramente a luz e a verdade que reservam para nós. William Tyndale, o qual, quanto a isso e quanto a muitas outras questões, com grande razão pode ser chamado de avô da teologia prática do Puritanos, declarou o seguinte a respeito desse assunto:
Esses dois pontos, a saber,
(1) a lei espiritualmente interpretada, considerando tudo como pecado condenável, se não procede de um amor sincero e proveniente do fundo do coração... e
(2) que as promessas são dadas a uma alma arrependida que tem sede e clama por essas promessas, devido à misericórdia paternal de Deus, mediante a fé somente, sem qualquer merecimento por feitos ou méritos, mas somente por causa de Cristo, e pelos méritos das obras dEle... pontos esses que, segundo digo, se forem gravados no teu coração, serão as chaves que abrem toda a Escritura diante de ti.. .
Seguem-se orientações acerca do estudo das Escrituras. Tyndale mencionou os trechos de 2 Timóteo 3.16, Romanos 15.4 e 1 Coríntios 10.11, e então prosseguiu:
Portanto, conforme ledes as Escrituras, buscai ali primeiramente a lei conforme Deus nos ordenou; e, em segundo lugar as promessas... em Cristo Jesus, nosso Senhor. Em seguida, buscai os exemplos, primeiro sobre a salvação: como Deus purifica a todos quantos se submetem a andar em seus caminhos, por meio de tribulações... jamais permitindo que qualquer daqueles que se apegam às suas promessas venham a perecer. E, finalmente, observai os exemplos acerca de como devemos temer a carne, a fim de que não pequemos; em outras palavras, como Deus permite que os pecadores ímpios e iníquos... continuem em sua iniquidade... pois eles endurecem os seus corações contra a verdade, e Deus os destrói totalmente.
E novamente, instrui ele:
a fim de que tomeis as histórias e as vidas contidas na Bíblia como exemplos firmes e indubitáveis de que Deus assim tratará conosco, até o fim do mundo.
Dizia Tyndale que, uma vez que esses princípios são aplicados, a Bíblia interpreta a si mesma: "As Escrituras dão testemunho de si mesmas, e sempre se explicam por meio de algum outro texto". A chave é a justificação pela fé; e a porta (como já deveríamos esperar) é a epístola aos Romanos. Tyndale refere-se a ela como "uma luz e um caminho para a Bíblia inteira"; e traduz o veredito de Lutero a respeito: "Uma luz fulgurante e suficiente para iluminar a Escritura toda".
J. I. Packer
Fonte:[Josemar Bessa ]
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